É importante conversar sobre o assunto quando a criança começa a fazer questionamentos como “Por que o papai é diferente da mamãe? ”, “Por que o papai tem mais pelos no corpo que a mamãe? ”, “Por que a mamãe tem um ‘pipi’ diferente do papai?” Essas e tantas outras questões começam a surgir! Muitos pais ficam inseguros em abordar a sexualidade com seus filhos, pois também não tiveram orientação sexual na infância. Como proceder diante dessa ausência?
Um grande número de pais acredita que educar o filho nessa área seria incentivá-los à perda da virgindade ou até mesmo a ter relação sexual precoce. Vale ressaltar a importância de apenas responder às perguntas ou curiosidades dos filhos de forma clara e objetiva, sem “historinhas”. Para tanto, evite termos a exemplos de torneirinha, pombinha, a cegonha que trouxe e outras.
Lembro-me de um relato de uma mãe que, enquanto cozinha, foi questionada pela filha sobre o significado de “virgem”. A mulher, então, diante da curiosidade da filha, fez todo um discurso. Ao término da longa história da mãe, a garota olhou para um vidro de azeite extra virgem e questionou confusa: “Isso tudo está no óleo? ” Esse relato exemplifica o quão é necessária a atenção às perguntas dos filhos. No caso em específico, a mãe poderia tê-la (a filha) questionado em que contexto a palavra foi vista ou apenas indagar “Filha, onde você leu esta palavra? ” Essa postura teria sido suficiente para evitar discursos desnecessários.
Em outra ocasião, uma professora relatou que uma aluna dela do ensino infantil teria feito a seguinte pergunta: “Se o tio lamber o meu biscoito, o que eu faço?” A professora, prontamente, respondeu: “Jogue fora o seu biscoito”. Na ocasião, o tio era o padrasto e o biscoito, sua vulva. Dias mais tarde, o “tio” foi preso por ter abusado sexualmente da criança. Palavras como biscoito jamais deveriam ser usadas para nomear a vulva; devemos nomear corretamente cada parte do corpo para as crianças. Simples assim! O pênis para o pênis, a vulva como vulva, seios não são peitos, mamilos e boca devem ter suas nomenclaturas corretas.
Cabe aos pais e responsáveis a tarefa de ensinar às crianças que NINGUÉM deve tocá-las, inclusive pessoas próximas, a exemplo de familiares, os quais fazem ameaças às vítimas ou terrorismo psicológico com elas. O abusador manipula a criança, há pressão psicológica, ele oferece recompensas concretas a ela (como brinquedos e dinheiro) ou atenção. O agressor garante o silêncio da criança abusada por meio da descredibilização da palavra dela (“Ninguém acreditará em você”) ou da culpabilização dela pelo ocorrido (distorção do abuso). Finalmente imputa à vítima a responsabilidade de uma possível dissolução familiar (“Você destruirá a família se contar a alguém”).
A conversa aberta entre pais e filhos é de suma importância. A criança precisa se sentir à vontade para falar com seus responsáveis sobre sexualidade. Nessas conversas, os alertas precisam ser dados: “Você pode contar tudo ao papai e à mamãe”, “Diga sempre NÃO quando sentir que um ‘carinho’ a deixa desconfortável, independentemente de quem o fizer”, “Sempre estaremos aqui para apoiar você”. Oriente seu filho ou filha a recusar toques e carinhos indesejados, feitos em segredo ou que causem sentimentos como culpa, medo, vergonha e dor. Ressalte que tais atitudes NÃO podem acontecer e que não importa quem, sejam membros da família nuclear e conhecidos, ou pessoas desconhecidas.
Atente-se a alguns sinais que podem indicar que a criança está sofrendo abuso sexual:
Mudança de comportamento: se a criança nunca agiu de determinada forma e, de repente, muda de atitudes;
Idas frequentes ao banheiro: ela quer trocar de roupas o tempo todo;
Surgimento de medos: a criança passa a ter medos que não tinha antes – medo do escuro, de ficar sozinha ou de ficar na companhia de determinadas pessoas;
Alterações súbitas de humor: a criança extrovertida passa a ser introvertida; deixa de ser calma e torna-se agressiva;
Rejeição: não se sente mais atraída pelas atividades das quais gostava ou rejeita a presença de alguém.
Apesar de, em muitos casos, a criança demonstrar rejeição (sinais) em relação ao abusador, é preciso que os responsáveis estejam sempre atentos, vigilantes, a fim de identificarem comportamentos estranhos como a proximidade excessiva de certas pessoas a seus filhos. Defenda-se e defenda quem precisa de você. A omissão também é uma forma de agressão e pode matar quem não consegue se defender.
Fiquem atentos e ouçam as crianças. Há um canal para denunciar os abusadores. Denunciem a violência sexual contra crianças e adolescentes. Sua VOZ salva vida.
DISQUE 100
Dica da sexóloga: Assista ao desenho que ensina as crianças a se defenderem do abuso sexual!
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