Moda é só sobre ser bonito?

Por: - 9 de fevereiro de 2022
Sabrina-Sato-no-Premio-Glamour-em-2021

Na semana passada a apresentadora Sabrina Sato completou 41 anos, e me peguei pensando na sua evolução de estilo, e em como ela transformou sua imagem em statement. Também notei como as pessoas se incomodam por ela se vestir de uma maneira que consideram “esquisita”; isso sempre me deixa esse questionamento: moda é realmente apenas sobre ser bonito? Bonito e feio, afinal, são conceitos tão rasos e subjetivos, que dizem muito pouco sobre uma imagem.

Moda é um assunto de estudos multidisciplinares. Ela é, como disse uma vez a estilista brasileira Zuzu Angel, um documento histórico – isso porque se relaciona diretamente com os contextos sociais e econômicos de um determinado período. Ela é também linguagem – uma coisa que quem me acompanha por aqui já deve estar cansado de ouvir. É uma forma de expressão, tanto coletiva quanto individual.

Desde 2018, Sabrina Sato tem uma parceria com o stylist Pedro Sales, que tirou a apresentadora da zona do estilo de musa sexy e levou para caminhos mais criativos e dramáticos. Sabrina tem um corpo escultural, então é normal que esperemos dela uma imagem de mulher poderosa e sensual; talvez por isso sintamos certo desconforto quando ela aparece usando um macacão de vinil rosa-chiclete com volumes improváveis (e talvez seja exatamente isso que ela queira causar, quem sabe?).

O mais incrível é que o código da sensualidade continua ali (afinal, o vinil não é um material muito sexy?), mas de uma maneira muito menos óbvia. O meu olhar profissional interpreta a imagem de Sabrina como uma tentativa dela de mostrar que não pode ser colocada nas caixinhas de estereótipos que queremos (ela por muito tempo foi lida como uma mulher bonita, engraçada, mas burra, por exemplo). Eu considero um caso de sucesso.

 

Eu já falei um pouco aqui sobre esse tema quando escrevi sobre a polêmica da bolsa de toalha da marca italiana Bottega Veneta, que rendeu uma enxurrada de piadas e memes na internet. Estas criações inusitadas que vejo hoje sempre me levam a pensar na estilista italiana Elsa Schiaparelli, que na década de 1930 levou para a alta-costura elementos inesperados trazidos do movimento artístico surrealista, fazendo inclusive parcerias com artistas da época como Salvador Dalí e Jean Cocteau. Com Dalí desenvolveu o icônico chapéu em forma de sapato, que provavelmente causa estranheza até hoje. Causar estranhezas também pode ser um papel da moda.

Como a moda está intimamente ligada ao sistema de produção capitalista, eu compreendo que seja muito difícil enxergá-la como algo que não seja estritamente um produto (afinal, é uma das indústrias mais rentáveis do mundo).

Kim Kardashian com Schiaparelli Couture em 2020

Também compreendo que ninguém usaria um macacão rosa de vinil para ir trabalhar em um dia normal – mas é justamente sobre contexto, também (linguagem, lembram?). Moda é um pouco de tudo isso: produto, linguagem, sistema; portanto vai muito além dos conceitos de bonito e feio (apesar de ser sobre isso também).

A reflexão que deixo aqui hoje é justamente sobre colocar as imagens que vemos nos devidos contextos: do que se trata, sobre o que fala, onde, como, quando, quem?

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