Chegamos à última semana do ano e é muito provável que você já tenha planos para comemorar a virada para 2022 e, quem sabe, tenha escolhido a tradicional roupa branca para o dia 31. Esta é mais uma das tradições do vestir que repetimos, mas sem sempre sabemos de onde vêm. Você sabe por que usamos branco no Réveillon?
Culturalmente associamos as cores a simbologias próprias, e ao branco geralmente atribuímos significados vagos como paz, harmonia, bondade, entre outros. No entanto, as origens do branco na noite de ano novo são um pouco mais complexas do que isso. O branco é uma cor importante para diferentes crenças e religiões ao redor do mundo, incluindo as de matriz africana como o Candomblé e a Umbanda – que têm relação direta com o costume no Brasil.
Aqui, vestir-se de branco na virada do ano começou a se popularizar por volta da década de 70, nas praias do Rio de Janeiro e Salvador, por conta das celebrações do dia de Iemanjá – que acontecem em 2 de fevereiro. O branco é a cor de Oxalá, a divindade maior destas religiões, e é tradicionalmente usado às sextas-feiras pelos praticantes, por ser o dia do orixá. Vestir branco para os adeptos da Umbanda e do Candomblé significa criar proximidade com a divindade.
A importância de relembrar e conhecer as origens desta tradição é falar também como a moda se apropria e esvazia de significado símbolos culturalmente importantes para grupos que são renegados e discriminados dentro de seus costumes. Na coluna passada, comentei aqui sobre a moda e a apropriação cultural envolvendo nomes de grandes marcas, mas nem sempre isso funciona desta forma. O uso do branco nas nossas populares festas de ano novo é mais um exemplo de como embranquecemos e floreamos uma convenção trazida para cá por populações que foram arrancadas à força de seus países de origem, escravizados e por muito tempo criminalizados em seus costumes.
É claro que ninguém é proibido de vestir seja lá o que desejar; o intuito deste artigo é passar para frente a informação e instigar o hábito de buscar compreender de onde vêm rituais que repetimos sem pensar, especialmente aqueles relacionados ao vestir. A moda é uma forma de linguagem que usamos todos os dias, conhecendo ou não seus códigos, então não seria mais interessante saber o que estamos dizendo com as roupas que vestimos? É isso que tenho tentado trazer para esta coluna, que foi confiada a mim, e onde tenho total liberdade editorial. Que em 2022 possamos falar de moda e estilo desta forma mais reflexiva e consciente por aqui. Feliz ano novo!
Os comentários estão fechados, mas trackbacks E pingbacks estão abertos.