Quando a juventude revoluciona a moda!

Por: - 9 de dezembro de 2021

De Mary Quant a Virgil Abloh 

A história da moda é toda entrelaçada com a história da sociedade; tudo que aconteceu de novo e revolucionário na moda, especialmente depois da segunda metade do século XX, está intimamente relacionado com fatores econômicos e sociais determinantes. Foi na década de 60 que, pela primeira vez, a indústria da moda deixa de ter como objetivo principal agradar os gostos burgueses para ouvir e abraçar de vez os anseios da juventude pela novidade – isso junto com a segunda onda feminista e a indignação dos jovens com eventos como a Guerra do Vietnã. A estética foi ficando menos engessada, mais informal, e datam dessa época a criação da minissaia e a utilização de materiais inusitados na moda, como o plástico e o vinil. Uma revolução completa, liderada por criadores como André Courrèges e Mary Quant.

Mary Quant, criadora da minissaia

Os cenários da sociedade de uma época são fundamentais para impulsionar esse tipo de coisa, e os criativos que conseguem absorver e traduzir o espírito de seu tempo têm seu nome registrado para sempre nesse hall de mentes brilhantes que mudam tudo ao seu redor.

Aconteceu também com a breve carreira do estilista britânico Alexander McQueen, que morreu em 2011 e escancarou a complicada questão da saúde mental na indústria da moda.  Há duas semanas, esse universo novamente se comoveu com a perda precoce de um destes gênios raros que aparecem de tempos em tempos. Virgil Abloh, criador da marca de street wear de luxo Off-White e carismático diretor criativo da Louis Vuitton partiu aos 41 deixando um legado enorme na história da moda contemporânea.

Grandes portais de moda noticiaram com tristeza a morte de Abloh, muitos deles falando de suas origens e de sua trajetória até chegar ao cargo criativo mais importante da LV. O caminho que o levou até o sucesso meteórico é fundamental para entender sua importância, seus feitos são muitos para eu enumerar aqui nesta coluna – e os veículos especializados já traçaram linhas do tempo de sua carreira da melhor forma possível. O que eu gostaria de ressaltar aqui são os motivos que tornam Virgil Abloh um nome eterno na história da moda.

Streetwear de luxo

 

Como mencionei no início deste texto, a moda caminha por uma estética da informalidade desde a década de 60. Abloh deu mais um passo importante nessa direção da deseslitização da moda, levando o street wear para outro patamar. Você pode nunca ter ouvido o nome dele, você pode ter apenas esbarrado pela Off-White em algum lugar da internet, mas já deve ter percebido que a juventude, especialmente a geração Z, adotou o street wear com um perfume de anos 2000 quase como que um uniforme – e o responsável por isso foi justamente Virgil Abloh.

Ultimo desfile de Alexander McQueen

 Quando em 2012 ele fundou sua primeira grife, a Pyrex Vision, gerou polêmica subvertendo o mercado de moda de luxo. Suas criações eram feitas a partir da customização de peças de estoques antigos de marcas como Ralph Lauren. Segundo o designer, a Pyrex Vision era para ser um experimento artístico – e já carregava o DNA informal das ruas. Em 2013 ele lança a Off-White e coloca o street wear no mercado de luxo – lugar que nunca antes havia ocupado – tudo com o apoio de grandes e jovens artistas negros como ele, como Rihanna e Kanye West. 

No ano de 2018, Abloh foi contratado como diretor criativo de uma das marcas de luxo francesas mais tradicionais do mundo: a Louis Vuitton. E o que significa um jovem negro com uma assinatura de estilo 100% urbana e experimental no comando criativo de uma marca tradicional? Muito mais do que frescor e novos ventos: uma revolução. Ele colocou na passarela não apenas sua genialidade como designer, mas representatividade e um senso de comunidade que nunca existiu nesse meio competitivo de cruel que é o mercado da moda. 

Virgil Abloh entrou neste espaço tão excludente como um verdadeiro agente de transformação. Veio para mostrar como é fazer moda na contemporaneidade, e que esse novo jeito de criar não é apenas sobre uma estética específica: é também lançar o olhar sobre as pessoas e sua essência, abrir espaços e desenhar novos caminhos através do ofício. Abloh usava na Off-White o slogan The youth will always win (em português “a juventude sempre vencerá”), que de certa forma é a síntese dos seus feitos ao arrebentar os portões de uma marca centenária levando seus ideais revolucionários e inclusivos. Como disse o jornalista Rener Oliveira, Virgil Abloh é uma ideia, que a partir de agora reverbera abrindo lugar para o próximo grande visionário – que, é quase certo, vai emergir da juventude.

 

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