Elke Maravilha e o estilo como expressão

Este mês a Editora Todavia lançou Elke: mulher maravilha, de autoria de Chico Felitti. A página da editora descreve o livro como “um perfil biográfico da santa padroeira da alegria na TV nacional”, que narra a trajetória artística e revolucionária de Elke Maravilha – uma alemã de pai russo que cresceu e aconteceu no Brasil com seu estilo exótico e seu carisma. Elke foi modelo, atriz e apresentadora; conquistou o país ainda na década de 70, influenciando diversas gerações de artistas e pessoas comuns com sua personalidade espontânea e livre. Seu temperamento era impossível de passar despercebido, assim como suas escolhas estéticas – uma verdadeira expressão de quem era.

Excêntrica, exagerada, autêntica – são adjetivos que podemos usar para descrever tanto sua personalidade quanto sua forma de vestir. Elke era um exemplo de alguém que era fiel a si mesma em todos os aspectos da vida – e é claro que isso envolvia sua imagem impactante. Ela não era apenas extravagante – tudo que ela vestia vinha de alguma referência importante, de algum lugar com significado. Não à toa, se referia ao seu processo de vestir como “escavação arqueológica”. Algumas de suas inspirações preferidas eram elementos da cultura russa – origem de seu pai – que ela misturava com itens vindos do continente africano (adorava o Egito), estética viking e o que mais achasse interessante.

 

Se hoje a expressão individual é ultravalorizada, principalmente por causa das redes sociais, no Brasil da ditadura não era bem assim. Ao chegar ao Rio de Janeiro, no ano de 1969, o visual diferente de Elke serviu como desculpa para que um grupo de homens a agredisse em Ipanema. Apesar da carreira de modelo e do rosto com traços hipnotizantes, ela tinha uma outra concepção de beleza, que passava longe dos padrões – e foi assim do início ao fim.  

Elke era uma apaixonada por moda, mas ia muito além das passarelas – amava o caráter simbólico, a estética como uma ferramenta de linguagem. Era uma cidadã do mundo, com origens diversas, era poliglota, tinha preocupações políticas, era uma ativista – suas escolhas de imagem tinham esse tamanho de importância, abraçavam toda essa pluralidade.

Com frequência foi acusada de estar fantasiada, de viver em um personagem (e o que somos todos nós, enfim, se não personagens diferentes em cada lugar, com cada grupo de pessoas?) ao que respondeu, em 2015, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo: “Fantasia é quando você veste algo que você não é”. Essa é uma lição valiosa sobre estilo, uma outra forma de dizer o que eu não canso de repetir: autoconhecimento e respeito à própria história são as principais ferramentas para quem tem como objetivo usar a moda como expressão pessoal.

 

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