Por que nos vestimos?

Por: - 20 de outubro de 2021

 

Por Manuela Casali

Todos os dias quando levantamos da cama, vamos até o armário e escolhemos o que vestir para nossos compromissos diários – parece natural. Durante o gesto já temos em mente as pessoas que vamos encontrar, as tarefas que temos que cumprir, o itinerário que devemos fazer – e a escolha deve estar adequada a tudo isso, além do nosso gosto pessoal e estilo. Cobrir o corpo é um hábito tão inerente à nossa existência que é raro parar para pensar por que nos vestimos. O vestir é cultural, e o ser humano usa roupas antes mesmo do surgimento da moda como sistema – que data de meados do século XV. Segundo o professor João Braga, docente da FAAP, são três as principais razões pelas quais começamos a cobrir o corpo, ainda no período pré-histórico: proteção, pudor e adorno.

 

A proteção do corpo de ameaças físicas é o aspecto mais óbvio do vestir – o homem precisava se proteger não só das intempéries do clima, mas também de outros animais, picadas de insetos e ataques de inimigos. No entanto, a proteção física não dá conta de responder à pergunta que dá título a este artigo – que nos encaminha para as duas dimensões simbólicas da indumentária. 

Alguns historiadores apontam a consciência moral da sexualidade como uma das razões pelas quais o ser humano passou a cobrir o corpo; ao passar a andar com a postura ereta, os genitais ficaram expostos, e aqui surge o conceito de pudor. As evidências da existência de indumentária na pré-história têm muito mais a ver com ornamentos do que roupas em si – já que o material de confecção era orgânico (como carcaças e peles de animais) e poucas coisas resistiram ao tempo. Artigos feitos com ossos, pedras e outros materiais de difícil decomposição deixam claro que a diferenciação social é uma questão desde os primórdios da indumentária – o adorno vem como proteção simbólica do corpo, tanto no desenvolvimento de amuletos quanto na distinção entre grupos.

Quando a moda surge como sistema, no final da Idade Média, ele está muito mais pautado nos pilares da linguagem do que nas necessidades físicas de estar vestido. Na Europa, até o final do século XVIII, estavam em vigor as chamadas Leis Sumptuárias, que regulavam quais eram os tecidos, cores e modelos de roupa permitidos para cada camada da sociedade – a burguesia não poderia de forma alguma vestir o que era da nobreza, mesmo que houvesse condições econômicas para tal. Essas leis foram abolidas depois da Revolução Francesa, dando início ao conceito contemporâneo de moda, parecido com o que temos hoje.

Os motivos pelos quais nos vestimos como humanidade, por mais complexos que sejam, ainda são mais simples do que quando reduzimos o recorte para o âmbito individual. Apesar das regras sociais implícitas, carregamos conosco razões bem mais específicas – todas elas no campo da linguagem e da comunicação: traumas, boas memórias, experiências de todos os tipos acabam galgando o gosto e o estilo pessoal – que é um dos objetos de estudo do meu trabalho todos os dias. As pessoas fazem escolhas que podem imaginar aleatórias – principalmente quando moda não é um assunto de interesse – mas costumo dizer que aparências contam histórias. Já parou para pensar o que leva você a escolher o que veste quando levanta pela manhã?

 

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