Capacitismo. Você sabe o que é? Essa expressão que temos ouvido cada vez mais diz respeito à discriminação de pessoas com deficiência, com base na construção social de um padrão de corpo perfeito considerado “normal”, que leva a subestimar as capacidades e aptidões de indivíduos em virtude da sua condição. Falar sobre o assunto é muito mais complexo do que parece, porque nem sempre esse tipo de preconceito vem em forma de agressão ou ofensa, mas sim de forma velada, se aproveitando de conceitos como superação e heroísmo.
A exclusão de corpos fora do padrão na moda não é novidade para ninguém. Foi com muito custo que a indústria passou a reconhecer a existência de pessoas negras e gordas, por exemplo. Quando o assunto são corpos com deficiência, o apagamento é ainda mais significativo. Em setembro deste ano, a revista Vogue, na coluna “O que a indústria da moda não entendeu sobre”, apresentou dados importantes sobre o assunto [O que a indústria da moda não entendeu sobre: moda adaptativa e inclusiva – Vogue | Vogue Negócios (globo.com)].
De acordo com a reportagem, cerca de 24% da população brasileira declarou algum tipo de deficiência no Censo de 2010 – são aproximadamente 46 milhões de pessoas no país que não têm suas demandas de consumo devidamente atendidas no âmbito do vestuário e da moda. E não se trata apenas de colocar modelos com deficiência em campanhas e anúncios, mas de pensar produtos viáveis para que estas pessoas possam se vestir e usar roupas e acessórios como recurso de expressão pessoal. Economicamente falando, no mundo, este é um mercado de 490 bilhões de dólares, cujo potencial ainda é totalmente inexplorado.
O mercado de moda inclusiva e adaptativa ainda é bastante defasado, mas não falta gente comprometida em levantar essa pauta. No Brasil, personalidades como a estilista Michele Simões, a jornalista Heloísa Rocha do Moda em Rodas e a ativista e consultora de negócios inclusivos Belly Palma
são essenciais para enriquecer a discussão. Ativas nas redes sociais, estas três mulheres usam suas plataformas para falar de suas especificidades e dão voz a milhões de pessoas que precisam que a indústria da moda inclua todos os corpos de forma igualitária.
Michele Simões (@micsimoes)
Michele sofreu um acidente de carro em 2006, e desde então é cadeirante. A estilista é a cabeça por trás do projeto Meu Corpo é Real [ http://meucorpoereal.com ] (@meucorpoereal), uma plataforma que visa conectar marcas inclusivas e consumidores por meio de ações e conteúdo.
Heloísa Rocha (@modaemrodas)
Helô nasceu com osteogênese imperfeita – é o que diz seu perfil no Instagram, onde ela compartilha relatos e trajetórias de pessoas com os mais diversos tipos de deficiência. São empreendedores, ativistas e consumidores que falam sobre seus projetos, necessidades e a importância da moda como ferramenta social.
Belly Palma (@bellypalma)
A consultora de negócios inclusivos da plataforma Vida Inclusiva (@vidainclusiva) está na lista Forbes Under 30, que destaca mentes brilhantes responsáveis por negócios revolucionários. Belly Palma usa suas redes não apenas para mostrar seus looks incríveis, mas também para falar sobre pautas como formas de criar conteúdos acessíveis na internet, o papel da moda na vida da pessoa com deficiência e estratégias de inclusão.
Moda é ferramenta social, é um espaço de contato com o mundo e um recurso de expressão pessoal. Absolutamente todas as pessoas precisam vestir, e é por isso que a moda tem a obrigação moral de incluir todo mundo – foi isso que afirmou Samanta Bullock, fundadora da SB Shop (@sbshop_sb) à reportagem da Vogue que citei no início deste texto. A indústria tem a tecnologia necessária, o dinheiro para investir e acesso à informação e conhecimento, o que falta agora é viabilizar a criação e o desenvolvimento de um ambiente inclusivo, e isso só se torna possível quando abrir espaço e der voz às demandas e necessidades de todos.
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