Movimento ageless e a sensualidade depois dos 60

Por Manuela Casali

 

Quando eu estava estudando para trabalhar com consultoria de imagem e estilo, lembro de ter ido a um evento, um circuito de palestras sobre o assunto, onde vários profissionais muito importantes da área – com livros publicados e tudo mais – falavam sobre suas especialidades. Uma das palestras falava sobre estilo depois dos 60, e me deixou bem curiosa.

No telão tinha uma imagem da atriz Betty Faria numa propaganda de chocolate, com um vestido azul que deixava seus ombros à mostra, bastante sexy. A palestrante usava aquela imagem para demonstrar como uma mulher de mais de 60 anos não deveria se vestir, e eu senti um grande incômodo, procurando qual seria exatamente o problema – e não consegui identificar. A questão é que a imagem – que se seguiu por outra, de Betty usando biquíni – não era o problema; o erro está na forma como olhamos para as mulheres que envelhecem sem abrir mão da própria personalidade.

Betty Faria, sexy aos 80 foto Vinicius Mochizuki

Você provavelmente já ouviu por aí o termo ageless (que significa literalmente “sem idade”). Este é um movimento que se contrapõe à loucura da juventude como um valor; não é sobre não envelhecer – é deixar de categorizar as pessoas de acordo com a idade que elas têm (mesmo porque o avançar dos anos é inevitável). O que acontece hoje é que estamos vivendo mais e vivendo melhor, então alguns conceitos perdem o sentido. A antropóloga Mirian Goldenberg, que há anos estuda a velhice no Brasil, afirma que tendo condições financeiras e saúde, a vida dos 60+ de hoje permite uma multiplicidade de escolhas sobre como envelhecer.  

Quando deixamos de categorizar pessoas pela idade, muitas coisas acontecem – inclusive entender que existe beleza em todas as fases da vida. Também que uma mulher que passou dos 60 anos não precisa automaticamente se converter a um estilo tradicional, mas viver e experimentar a estética que mais lhe fizer sentido – e isso inclui a sensualidade e Betty Faria com seus belos ombros de fora. 

Helen Mirren e Jane Fonda

Betty não é uma mulher sexy de hoje, ela o foi a vida inteira, assim como outra mulher por quem eu sou completamente fascinada: Susan Sarandon. Desde a primeira vez que a vi no clássico Thelma e Louise, de 1991, mantenho a ideia de que é uma das mulheres mais sensuais que já vi. Naquela época ela tinha 45 anos. Hoje, chegando aos 75, ela segue igualmente estonteante – e muito sexy! Elas não estão sozinhas; de cabeça consigo lembrar de outros nomes conhecidos como Helen Mirren, Jane Fonda, Jessica Lange, Sharon Stone, Angela Bassett e Sônia Braga, além de uma nova leva de modelos 60+, como a lindíssima e extravagante Carmen Dell’Orefice – todas abrindo o caminho para que nós, mulheres jovens, possamos chegar lá em um ambiente menos hostil.

Jessica Lange Sharon Stone e Angela Bassett

Mirian Goldenberg afirma que em sua pesquisa aponta que as mulheres maduras são as que se sentem mais livres em diversas áreas da vida. Isso porque elas passam a valorizar mais o tempo (não querem e não podem mais desperdiçar o próprio tempo), dão menos atenção a opiniões e demandas alheias e, por isso, se permitem se comportar e se vestir da forma como bem entendem.

Susan Sarandon em ensaio para Elle UK em novembro de 2017

Não existe uma fórmula da sensualidade depois dos 60; o que realmente importa é a expressão das subjetividades de cada uma destas mulheres. São novas formas de lidar com o corpo que envelhece, colocando sobre ele camadas de sintaxe: materiais, texturas, cores e formas que ali estão para representar quem são e como se sentem confortáveis dentro da casca que nos coloca em contato com o mundo. Que ampliemos nossos horizontes e revolucionemos o olhar para compreender estas mulheres que celebram o próprio corpo, a própria pele e que não aceitam ser colocadas dentro dos compartimentos limitantes da idade.

Para assistir:

A Invenção de uma Bela Velhice | Mirian Goldenberg | TEDxSaoPaulo – YouTube

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