Há cerca de um ano e meio estamos confinados (ou semiconfinados) e mesmo quem sempre se divertiu com a moda e com o próprio estilo acabou dando prioridade ao conforto e à funcionalidade das roupas nesse período. Pijamas, moletons, homewear em geral, acabaram se tornando os protagonistas do armário. No entanto, com a vacinação que avança, já começamos a vislumbrar a vida depois da tormenta – e é claro que todos os planos envolvem o que vestir.
Estudos que relacionam moda e humor não são nenhuma novidade, e é fato que qualquer escolha de imagem que façamos reflete o desejo. A tendência depois de grandes períodos de crise – seja ela econômica, social ou sanitária – é que as pessoas comecem a se vestir de maneira a se opor às penúrias das situações vividas. Na década de 20, por exemplo, com o fim da Primeira Guerra, o mundo viveu os famosos “anos loucos”, com comprimentos de saia nunca antes vistos, considerados curtos demais para os padrões anteriores. Na década de 50, depois de toda a escassez trazida pela Segunda Guerra, vimos surgir uma ode ao luxo. Já nos anos 70, com o fim da Guerra do Vietnã, a moda se transformou em um caleidoscópio de cores e estampas.
O que tem se visto em termos de criação de moda desde agora parec
e apontar para um caminho pautado pelo bem-estar, e tem até um nome para esse movimento: dopamine dressing.
Ele não é exatamente novo, há registros de estudos usando o termo desde 2012, e se refere justamente à possibilidade de a roupa ser capaz de melhorar o humor, dependendo dos elementos de design, cores e outros. Mas calma, que não tem nada a ver com uma fórmula específica, como tons alegres e vibrantes – é mais sobre símbolos e códigos que o próprio indivíduo atribui a cores e formas.
Nessa pegada de traduzir bem-estar, fiquei simplesmente encantada com o fashion film (modalidade que substituiu os desfiles na pandemia) da designer brasileira Heloísa Faria na Casa de Criadores – evento que está no calendário oficial de moda no Brasil e é lançador de novos talentos e moda autoral. Com uma atmosfera intimista e um perfume de anos 70, Heloísa Faria talvez tenha interpretado os desejos de muitos de nós pela calmaria e pelo afeto – definitivamente é o meu tipo de dopamine dressing.
A Vogue de agosto tomou como norte um tema semelhante: com que moda você sonha? Em um flerte com o devaneio, o editorial de capa nos transporta para uma paisagem onírica, onde o passado e o futuro parecem se encontrar em harmonia – no campo da fantasia tudo é possível afinal.
Independente do que representa bem-estar para cada um, uma coisa é certa: estamos exauridos das perdas, das horas em frente às telas, da ausência do toque – e são os desejos relacionados a essas coisas que guiarão para uma estética do prazer e da serenidade. Com que moda você sonha?
Por @casalimanuela
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