Moda sem gênero
Sem gênero, agênero, genderless. Esses são termos cada vez mais comuns nas mais diversas áreas. O grande problema de quando essas palavras são repetidas incansavelmente, é que elas acabam perdendo o sentido e ficando vazias. Em uma rápida pesquisa sobre moda sem gênero você vai encontrar uma infinidade de artigos e matérias ilustradas com roupas de modelagens amplas e meio sem forma e geralmente em tons de cinza. Mas será que moda sem gênero é isso? Um amontoado de tecidos que só fazem apagar qualquer personalidade?
Falar de moda sem gênero não é falar especificamente de nenhum estilo de roupa, modelagem, ou cor padronizada – inclusive é o contrário disso. A princípio é um conceito bastante abstrato e bem mais complexo de ilustrar. Talvez não dê sequer para chamar de moda, mas de movimento. Falar de moda genderless é assumir que não existem peças de roupa que pertencem a um gênero ou outro, mesmo porque a história da moda deixa muito claro que elas transitam entre eles ao longo dos séculos, assim como o uso das cores.
É impossível não lembrar que o salto alto, que hoje consideramos um artigo feminino, foi criado por um homem no século XVII. Foi Luís XV, rei da França, que inconformado com seu 1,60m de altura popularizou os sapatos de salto. Até o século XIX, as roupas masculinas eram tão embelezadas e bordadas quanto as femininas.
Antes do século XX, o rosa era a cor usada pelas crianças do sexo masculino, por remeter ao vermelho – uma cor de potência masculina ligada à guerra. Aliás, meninos e meninas usavam vestidos até os 5 anos de idade, porque a peça facilitava os movimentos e a higiene. A história do vestuário está cheia de exemplos como esses, e é exatamente isso que o movimento genderless quer destacar: pessoas podem ter gênero, mas roupas não têm.
Então não, o moletom cinza oversized não é o símbolo da moda agênero. O genderless é justamente a liberdade de estar aberto às infinitas possibilidades do vestir, é experimentar, colocar a sua personalidade acima de qualquer rótulo a respeito de gênero e sexualidade – é o completo oposto da uniformização.
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