Se você acompanha algum tipo de publicação de moda na internet, eu tenho certeza que já ouviu por aí o termo slow fashion – mas você tem ideia do que significa? Bom, a tradução literal é justamente “moda lenta”, uma resposta direta ao fast fashion, que nas últimas décadas vem sendo alvo de críticas e processos por conta de questões como precarização do trabalho e escândalos envolvendo trabalho análogo à escravidão.
Acontece que o ritmo de produção capitalista tem causado o esgotamento dos recursos tanto naturais quanto humanos, e chegamos em um momento em que é inevitável começar a questionar quais são as consequências disso – mesmo porque já estamos vivendo as consequências. A realidade de quase tudo que consumimos em termos de moda envolve instalações fabris inadequadas, excesso de horas de trabalho, salários insuficientes, trabalho infantil, contaminação de solo e aquíferos importantes, entre outros. E é fato que o conto de fadas do consumo consciente individual não resolve nenhuma dessas questões.
No entanto, já começa a apontar um movimento mais coletivo em torno de formas mais sustentáveis de produzir e consumir – e não se trata apenas de moda, mas da relação com produtos e serviços diversos em áreas como alimentação, viagens, saúde e outros. Estamos falando do movimento slow, que de acordo com a doutoranda em sociologia da Universidade de Lisboa, Carolina Conceição e Souza, propõe vivências mais autênticas e duráveis com os objetos à nossa volta – inclusive produtos de moda.
Nesse contexto, o slow fashion é a negação de referências massivas, focando numa produção mais local ou de menor volume – e que respeite o tempo real que um produto leva para ser feito – à qual o consumidor tenha acesso, seja por meio de etiquetas de certificação ou contato direto com quem produz. Esse movimento, portanto, não passa apenas pelas escolhas do consumidor, mas também por uma produção cuja procedência possa ser comprovada, o processo mais transparente e o produto em si mais experimental e autoral. Moda lenta é valorizar a força criativa e todo o trabalho envolvido na produção de uma peça e desenvolver uma relação menos superficial com o que consumimos.
No Brasil cresce rapidamente o número de marcas 100% autorais que mantém um contato muito próximo com o público. É o caso da designer de moda Georgia Halal, que além de criar peças atemporais valorizando o trabalho de mulheres na sua empresa, mantém um clube de costura – o Sew Sisters – que tem como objetivo aproximar sua consumidora do processo de produção da sua marca. Outra designer engajada na moda sustentável é Flávia Aranha, que desde 2016 tem como o principal mote da sua marca o tingimento natural. Maringá também tem uma produção local fértil, com marcas como a Sanka.
O que há em comum em todas elas é esse olhar sobre a essência do produto e transparência para com os clientes. Você costuma pesquisar onde compra suas roupas?
Conhecimento é poder! Confira minhas indicações de onde procurar informações sobre o assunto.
Para assistir
The true cost (2015) – documentário do diretor Andrew Morgan
Para seguir nas redes
Fashion Revolution Brasil: @fash_rev_brasil
Modefica: @modefica
Manu Casali
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