Chuveirando: deixem nossa nuvem em paz!

Não poderia ser outro, tinha que ser ele: Rafael Roza, do PROS, mais uma vez demonstra inabilidade em ocupar a cadeira que senta na Câmara dos Vereadores de Maringá. Querendo chamar a atenção de uma massa que o acompanha e é tão cética quanto ele, que parece realmente não ter passado por nenhum lugar onde o senso crítico ou a interpretação de texto fossem ensinados, o alvo da vez é o lançamento da obra “A vida de um Chuveirando”, do Professor Doutor João Paulo Baliscei, da UEM.

Eu não vou colocar o link de absolutamente nenhum vídeo do vereador aqui, nem de qualquer publicação no Instagram. Vou ocupar este espaço, no entanto, para dar voz a quem realmente merece. Começo com a apresentação sobre a obra, segundo o próprio autor:

“Chuveirando é um menino que tem nuvem onde todos têm sol. E o que isso significa? Ele pode ser uma criança negra num mundo de brancos. Gorda, num mundo de magros. Pobre, num mundo de ricos. Cadeirante, num mundo de andante. Autistas, num mundo de neurotípcos. Tímida num mundo de narcisistas. VOCÊ TAMBÉM TEM NUVEM. Perceba-a.”

No final deste texto, deixei também a nota oficial publicada pela Prefeitura de Maringá, por meio da Secretaria de Cultura, na íntegra.

Eu já disse isso aqui uma vez e volto a repetir: ocupar uma cadeira na Câmara dos Vereadores é para servir de trabalho. Os vereadores são pagos para trabalhar, não para ficar produzindo vídeo para a internet. São pagos para serem vereadores(as), não para construir populismo barato. Mas parece que dois deles, sobretudo, não entenderam muito bem isso: Rafael Roza de um lado, Cris Lauer do outro – o assunto nem era sobre ela, mas não posso deixar de passar pelo vídeo catastrófico gravado em frente a um ponto de ônibus na região do prédio da Câmara com uma obra de arte exposta.

Esse tipo de gente que é intitulada como vereador(a) deveria mesmo era ficar chocado e sair por aí falando tão mal quanto de uma cena vista recentemente: o presidente Jair Bolsonaro fazendo alusão. Então quer dizer que uma criança aprender sobre as diferenças que a cerca é errado, mas posar com arma na mão é tranquilo? Lindo? Um show? Vão se preocupar com o que realmente é um problema.

Outro ponto que me causa extremo incômodo é, de novo, e como já abordado aqui neste texto, é o motivo pelo qual uma obra como “A vida de um Chuveirando” causa tanto incômodo. Eu sei que esse motivo é um preconceito deliberado, escancarado e destruidor, mas além de tudo isso, ainda há um ponto que essa galera não consegue assumir: o medo. Eles sabem do que estão falando. Sabem que são mau-caráter. Sabem que construir uma popularidade barata em cima da destruição da cultura e arte é compensativo. Sabem que tem ignorantes que caem neste discurso. Mas acima de tudo: sabem que é exatamente a educação, a cultura e a arte que tirariam, num estalar de dedos, essas carnes podres da gestão e do poder.

 

Gente alienada compensa pois é fácil de controlar.

Vereador, Maringá precisa se orgulhar em ter um João Paulo Baliscei como cidadão e educador, e se envergonhar em ter você como representante legislativa na Casa de Leis do município. Nunca o contrário.

 

Deixem nossa nuvem em paz.

Que a luta seja nossa fala toda vez que a nossa voz não quiser ser ouvida (Reprodução/João Paulo Baliscei)

Confira a nota na íntegra:

CULTURA

Prefeitura desmente fake news sobre projeto do edital Aniceto Matti

 

A Prefeitura de Maringá, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, esclarece que não são verdadeiros os vídeos e as notas divulgados nas redes sociais nessa terça (5) e quarta-feira (6), que acusam o Executivo Municipal de contratar livros e palestras que abordam a ideologia de gênero (SIC). Além de mentirosas, as publicações desinformam. 

O livro “A vida de um Chuveirando”, do professor universitário João Paulo Baliscei, foi um projeto contemplado no Prêmio Aniceto Matti 2019, edital ofertado pela Prefeitura de Maringá, por meio da Secretaria Municipal de Cultura. Em torno de 40 propostas foram selecionadas, com investimento total de R$ 1,6 milhão. 

O Aniceto Matti é a principal ferramenta de fomento à cultura na cidade e impacta direta e indiretamente em milhares de pessoas. Qualquer produtor cultural, escritor, ator, entre outras profissões, pode participar, cumprindo as regras estabelecidas em edital público. Há um criterioso processo de seleção das propostas. Uma comissão de pareceristas de fora de Maringá avalia os projetos habilitados. 

O projeto de Baliscei envolveu a produção, edição e distribuição de mil exemplares do seu livro, com custo total de R$ 20 mil. A obra, de forma lúdica e artística, aborda as diferenças que estão postas na sociedade, sem citar quais. Além dos livros, oficinas gratuitas lúdico-pedagógicas serão ofertadas no CAC (Centro de Ação Cultural) para crianças e adolescentes de 9 a 15 anos, que só participarão mediante a autorização de pais/mães e responsáveis. 

As informações falsas divulgadas dão a entender que o município fez compra direta, o que é não é verdade. Também é mentirosa a acusação de que as crianças serão doutrinadas, porque oficinas lúdico-pedagógicas abordam questões artísticas e educacionais. Só participarão crianças e adolescentes que tiverem a autorização dos pais/mães e responsáveis.

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