A violência do preconceito escondido no silêncio

Por: - 19 de agosto de 2021

A nós, talvez o que resta seja apenas o sentir; a gente sente ao nosso redor, mas muitas vezes não fala nada – porque não deixam

 

Sabe quando você está conversando com alguém, ou junto(a) de uma roda de pessoas, e percebe que alguma coisa naquela conversa, ou naquela roda, está incomodando? Só que mesmo que você pergunte o que – ou quem – está causando tal incômodo, ninguém vai te dizer?

Você já sentiu quando as pessoas querem dizer que “tudo bem você ser inteligente, ter bastante conteúdo, mas não precisa… não precisa ser desse jeito. Eu não te imaginava dessa maneira.” “Agora que a gente está aqui conversando, eu achava que você era tão inteligente, mas eu não sabia que você era assim.”

O que se quer dizer com isso? Assim como? De qual jeito? Eu não posso ser do jeito que eu sou e efetivamente ser uma pessoa com conteúdo?

Você já se sentiu julgado de alguma forma como “é uma pessoa legal, mas falta um quê pra ser perfeito”. E a pessoa não te diz o que é esse “quê”, mas você sabe muito bem o que é. 

Nós sabemos perfeitamente.

Você já ficou com dúvida, ao conversar com alguém, de que aquela pessoa quer te falar algo, mas ela não consegue dizer? Externalizar, pôr pra fora, narrar, usar em palavras: como quiser entender. E aí você fica se perguntando “tudo bem, mas o que você quer dizer com isso?” Nós, pessoas LGBTQIA+, sim. Praticamente a todo tempo.

Faz parte das nossas vidas, aprendermos desde muito cedo a entender as entrelinhas. A captar o sinal mesmo que o emissor não queira liberar esse indício. A pensar, ali dentro do nosso interior: “você não disse, mas eu sei exatamente o que você quis dizer com esse não-dito”. Às vezes, o silêncio fala mais alto do que qualquer grito. Ainda mais quando esse silêncio vem acompanhado do motivo comum: o preconceito.

Quando ouvimos “você é amado(a), porém…”, sabemos muito bem o que o “porém” quer dizer. Quando alguém pede para “você dar uma segurada”, dói. Você sente dor. Porque como dar uma segurada “no meu jeito” sendo que só é assim que eu consigo ser?

A gente sente. A gente sente quando, por exemplo, alguém não diz, mas quer dizer que “poxa vida, você é tão legal… pena que é gay/lésbica/qualquer outra sexualidade.” “Não, contra você eu não tenho nada, mas na hora do julgamento final, caberá a Deus julgar seu pecado.”

Talvez você não saiba, mas a gente sabe.

A gente sabe muito.

Entre o que se diz e o que não, mora dentro um abismo de tensionamentos e intenções que quem está no cenário, capta perfeitamente (Reprodução/Confabulando)

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