Desempenho das estruturas: do projeto à utilização

Por Ana Raíza Yoshioka

 

 

Quando se trata de “desempenho” na engenharia civil, definimos, a grosso modo, que a construção atende ou não à função para a qual foi projetada. Em outras palavras, é verificar se o produto adquirido cumpre com o esperado. Hoje, você entenderá como é verificado o desempenho da estrutura, com base nas normas técnicas que utilizamos no cotidiano de projeto e execução de obras.

 

Figura 1 – Recuperação de estrutura de concreto. Fonte: Grupo Falcão Bauer.

Tudo se inicia com a ABNT NBR 15575:2013 (“Edificações habitacionais – Desempenho”) que trata não somente de alguns requisitos estruturais, mas também pisos, vedações, coberturas e sistemas hidrossanitários. Das seis partes da norma, a parte 2 da norma evidencia os aspectos estruturais e já direciona o leitor para as demais normas dependendo do tipo de sistema adotado (metálica, concreto, madeira etc.) e a parte 1 comenta sobre o desempenho térmico, lumínico, acústico, além de estabelecer alguns parâmetros de durabilidade e vida útil da edificação. Tratamos como Vida Útil de Projeto (VUP) o período no qual uma construção deverá manter um desempenho mínimo para sua utilização, prevendo, se necessário, algumas manutenções periódicas. É muito comum que a VUP de estruturas de concreto seja estabelecida como 50 anos e de estruturas metálicas como 25 anos, por exemplo, sendo a mesma VUP de toda a construção, já que sua ruína parcial ou total oferece perigo à vida.

Figura 2 – Vida útil de projeto versus manutenções. Fonte: ABNT NBR 15575-1.

Pode ser que agora você pergunte: “Mas então, como medir o desempenho da edificação ou da estrutura?”

Essa é uma tarefa dos peritos técnicos em engenharia civil, principalmente quando a construção apresenta algum problema (ou patologia) que precisa ser avaliada e reparada – ou simplesmente quando necessário um mapeamento da construção para a manutenção periódica. São utilizados ensaios (testes) destrutivos ou não destrutivos e análises computacionais para medir o desempenho da estrutura. Muitas vezes, os ensaios são realizados in situ, como o teste de impacto, um simples monitoramento de fissuras ou uma medição de deslocamento dos elementos. Em outros casos, são retirados testemunhos (partes de pilares, vigas e revestimentos) para aferição em laboratório, a fim de verificar se a resistência praticada é a mesma prevista em projeto. 

Nas estruturas em geral, é imprescindível que estas atendem aos Estados Limites de Serviço (ABNT NBR 8681:2003), que nada mais são do que os parâmetros limites de vibrações, deslocamentos, fissuras, descompressões (concreto protendido), entre outros. Tais parâmetros são considerados na fase de projeto, mas nem sempre podemos encontrar boas condições em obra, levando à necessidade de uma perícia detalhada e um até mesmo algum reforço. 

Alguns exemplos interessantes para desempenho de estruturas são os reservatórios em concreto armado/protendido, as obras de saneamento (galerias de esgoto, estações de tratamento de água etc.) e as passarelas metálicas. No caso dos reservatórios, deve-se garantir a estanqueidade, ou seja, as fissuras devem ser mitigadas já na fase de projeto, tomando-se os cuidados na execução, como, por exemplo, a mistura e o lançamento corretos do concreto, para evitar vazios de concretagem. Nas obras de saneamento, é recomendável que o cimento seja resistente aos agentes agressivos do meio, quando as estações de tratamento ou dutos são construídos em concreto, ou que haja uma proteção contra corrosões, quando os elementos são metálicos. Por último – ainda não explorando uma infinidade de exemplos – temos as passarelas de pedestres, geralmente feitas em aço, constituindo uma estrutura leve que pode apresentar vibrações a níveis desconfortáveis aos usuários, necessitando de reparo e projeto de reforço. 

Dessa maneira, se não conhecia, agora já entende um pouco da área de perícias e avaliações. Caso tenha algum problema na sua edificação, que possa até mesmo levar a uma disputa judicial, é importante consultar empresas e profissionais que realizem tais ensaios, de modo que sejam documentadas as falhas e as possíveis causas das patologias presentes na edificação. 

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