As aberturas em paredes e pisos, popularmente denominadas “trincas” ou “rachaduras”, são classificadas por algumas normas e institutos, sendo a mais classificação mais comum a adotada pelo IBAPE-MG (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias): fissura, até 0,5 mm; trinca, de 0,5 a 1 mm; rachadura, de 1 a 5 mm; fenda, de 5 a 10 mm; brecha, acima de 10 mm. As dimensões são medidas com uma régua (fissurômetro, figura abaixo) e podem ser controladas com medição periódica ou simplesmente colando-se uma lâmina de vidro ou de gesso, a qual será partida se a fissura aumentar com o tempo.
Muitas são as causas de uma fissura e, dentre elas, as menos preocupantes são as por retração, ocasionada pela secagem e endurecimento do concreto ou argamassa. Também há as fissuras por variação de temperatura: com os ciclos de aquecimento e resfriamento, ocorre a dilatação e retração do concreto, respectivamente e, apesar de serem pequenas, podem causar a fissuração da peça (viga, pilar ou laje/piso). Não sendo profundas e/ou espessas as aberturas, tal patologia não oferecerá perigo aos usuários da edificação. Um terceiro tipo que não oferece risco, na maioria dos casos, mesmo comprometendo a estética, são as fissuras diagonais em cantos de portas e janelas, cuja causa principal é a falta de verga e contraverga.
Fissuras devido ao uso da estrutura também são comuns e podem ocorrer até certo limite, conforme a norma NBR 6118:2014, em torno de 0,3 mm. Por outro lado, há fissuras que podem comprometer o desempenho e a estabilidade da edificação, como por exemplo, as ocasionadas por erros de dimensionamento e detalhamento das peças de concreto armado/protendido, quando as cargas, movimentação de pessoas, vibrações e impactos superam a capacidade/resistência da estrutura.
Em pisos e paredes, são comuns “trincas” provenientes do cedimento da fundação, o que chamamos tecnicamente de recalque diferencial. Em paredes, são aberturas diagonais que se iniciam próximas de pilares, na parte superior, e se estendem por toda a alvenaria. A principal causa é a falta de projeto de fundações adequado às características do local. Em lajes, fissuras nos cantos podem indicar um problema estrutural, como falta de armadura; e, em pisos, as fissuras térmicas podem atravessar toda a largura, indicando falta de juntas de dilatação.
Para todos os efeitos, as aberturas causam não somente um incômodo estético, mas também podem facilitar o surgimento de outras patologias, como a corrosão das armaduras em elementos de concreto armado, danos em revestimentos cerâmicos, perda de estanqueidade em reservatórios e piscinas, infiltrações, gotejamento em lajes, entre outros problemas. Nas situações críticas, em que as pessoas se sintam desconfortáveis na presença dessas patologias, convém buscar informações técnicas para restaurar as condições de uso e segurança da obra.
Por fim, nos casos em que houver mudança do uso do ambiente, como em salas comerciais, adição de equipamentos específicos, de peso elevado ou que causem vibração excessiva, e em quaisquer reformas, é recomendável solicitar a avaliação das patologias que possam existir na edificação. Na melhor das hipóteses, ter o projeto estrutural em mãos sempre ajudará o (a) engenheiro (a) nas análises, principalmente a decidir se haverá e como será projetado/executado o reforço.
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