Na Série de Entrevistas do Maringá Post, temas foram lembrados pela maioria dos pré-candidatos ouvidos. A menos de 1 ano do pleito, postulantes ao Executivo ainda buscam apresentar soluções para os problemas apontados e evitam fazer críticas à atual administração.
Por Victor Ramalho
Na última sexta-feira, 27 de outubro, o Maringá Post encerrou a Série de Entrevistas com os pré-candidatos à Prefeitura de Maringá nas Eleições de 2024. Ao longo de dois meses, doze nomes foram ouvidos pela reportagem, onde tiveram a oportunidade de expor para a população suas ideias, as áreas da administração pública que consideram mais problemáticas e quais medidas gostariam de colocar em prática, caso eleitos.
É verdade que nem todos os doze entrevistados serão, de fato, nomes confirmados na disputa do ano que vem. Professora Ana Lúcia (PDT), Humberto Henrique (Solidariedade) e Evandro de Freitas (PSDB), por exemplo, integram a coalizão “Juntos por Maringá” que, conforme informado pelos próprios partidos, deverão indicar uma candidatura única, que será apoiada pelos demais membros. No entanto, o objetivo da série foi de dar visibilidade para o maior recorte de candidatos possível.
Finalizadas as entrevistas, chegou o momento de fazer um balanço sobre o que os postulantes ao Executivo pensam para Maringá. Como já era esperado, dois temas foram lembrados pela maioria dos entrevistados: Saúde e Segurança Pública. Com visões distintas sobre soluções e com alguns ainda não adiantando propostas concretas, os pré-candidatos concordam que as duas áreas demandarão mais atenção do próximo gestor eleito, seja ele qual for.
Homero Marchese (Republicanos), por exemplo, primeiro entrevistado da série, defendeu que o município realize convênios com a iniciativa privada para ajudar a reduzir a fila de espera com cirurgias e consultas especializadas na rede pública de Saúde.
“Nós temos um problema muito sério de filas de espera para cirurgias e consultas especializadas e isso não é algo de hoje, mas sim que se arrasta há anos e foi, inclusive, um de nossos focos em nossa primeira campanha a prefeito, em 2020, e o negócio potencializou. Temos dezenas de milhares de pessoas aguardando uma cirurgia, uma consulta ou um exame, algo que é cruel. Esse é o primeiro ponto a ser colocado em ordem, usar os recursos que a cidade de Maringá tem, uma cidade que arrecada alto e tem uma grande rede de prestadores de serviço em Saúde, para firmar convênios e fazer esse tipo de procedimento”, citou o pré-candidato. A entrevista completa com Homero Marchese pode ser conferida nesse link.
Ainda na Saúde, Professora Ana Lúcia (PDT) também demonstra preocupação com o setor, embora aposte em uma solução diferente. Na visão da vereadora, o foco para melhorar este eixo na cidade deve passar pela valorização dos profissionais.
“É preciso fazer rearranjos no sistema para o atendimento básico. Mas, para fazer esses arranjos, é preciso rever questões básicas, como o pagamento do piso da enfermagem e dos técnicos, que as gestões pelo Brasil vivem a fugir dessas responsabilidades. Se estamos falando de Saúde Básica, precisamos valorizar os nossos servidores. Há condições de trabalho que precisam ser melhoradas. Quando tivermos um corpo de servidores que não precise mais lutar a todo instante por questões básicas, certamente o atendimento irá melhorar”, destacou a pré-candidata. A entrevista completa com Professora Ana Lúcia pode ser conferida nesse link.
Soluções no que tange a responsabilidade do município, sem terceirizar o serviço, também foram sugeridas por Evandro de Freitas Oliveira (PSDB), que defendeu a ampliação do sistema de Saúde com a criação de novas unidades de atendimento. No entanto, o pré-candidato também reconhece a criação de convênios com a rede privada como um caminho oportuno.
“Penso que um dos caminhos seria o de fazer convênios com a iniciativa privada, para escoar a fila e não depender exclusivamente da estrutura pública, pelo menos até a fila ser zerada. Eu comentei também nesta outra entrevista sobre a construção de uma nova UPA porque acredito que a cidade tem porte para receber. Muito além das questões técnicas, estatísticas, é preciso olhar também para o lado humano. Uma família que precisa chegar em um posto de Saúde antes das 6h da manhã, mais de 1h antes da unidade abrir para, às vezes, ficar o dia todo aguardando atendimento, embaixo do sol, de chuva, é para o conforto dessas famílias que precisamos olhar. É preciso se colocar no lugar dessas pessoas”, citou. A entrevista completa com Evandro de Freitas Oliveira pode ser conferida nesse link.
O atual vice-prefeito de Maringá, Edson Scabora (MDB), que também é pré-candidato ao Executivo, foi igualmente ouvido pelo Maringá Post e saiu em defesa dos trabalhos feitos pela gestão nessas áreas. Segundo ele, a fila de procedimentos será zerada ainda em 2023.
“Na Saúde, antes da pandemia, nós praticamente já havíamos zerado essas filas. Uma ou outra especialidade ainda havia alguma coisa, mas por conta da ausência de recursos humanos, no caso, médicos nessas especialidades. Veio a pandemia, dois anos sem a possibilidade de fazer procedimentos além da Covid-19. Obviamente isso represou e nós tínhamos aí, até voltar às consultas, cerca de 70 mil pessoas nas filas. Nós avançamos muito com os mutirões e acreditamos que até o fim do ano já estejamos nos patamares pré-pandemia. Então não foi uma questão que a gestão deixou de fazer, foi algo nacional, determinações do Ministério da Saúde”, lembrou o vice-prefeito. A entrevista completa com Edson Scabora pode ser conferida nesse link.
A Segurança que não pode ser dever apenas do Estado
Dois pré-candidatos, em especial, foram os que mais falaram em ideias para o setor de Segurança Pública em Maringá, muito em função da atuação prévia de ambos no setor: Delegado Jacovós (PL), que já foi delegado da Polícia Civil e Do Carmo (União Brasil), que já fez parte do quadro da Polícia Militar, acreditam que a melhora deste eixo passa pelo aprimoramento da Guarda Civil Municipal.
Jacovós, por exemplo, quer criar módulos da Guarda mais próximos dos bairros e também nos distritos. Segundo ele, a Segurança não pode focar apenas no centro da cidade.
“Podemos, por exemplo, construir módulos da Guarda em vários pontos da cidade e, inclusive, é um desejo meu levar esses módulos até os distritos. A Guarda Municipal hoje tem poderes de polícia, ela pode abordar, pode prender. Trata-se de uma questão de abordagem diária e precisamos ter equipes para isso. As blitz, por exemplo, não podem ser apenas a cada 30 dias, precisam ser rotineiras e isso é possível fazer”, afirmou. A entrevista completa com Delegado Jacovós pode ser conferida nesse link.
Do Carmo também fala em reforçar a atual estrutura da Guarda Municipal. Na visão do pré-candidato, não é mais possível esperar que o setor seja apenas uma atribuição do Estado. Uma das medidas que ele tomaria é a de integrar os agentes de trânsito ao quadro efetivo da Guarda.
“Nós precisamos de uma atitude muito enérgica na cidade de Maringá. Como eu disse semanas atrás, seria muito conveniente eu chegar para vocês, da imprensa, e dizer que Segurança Pública é apenas um dever do Estado, mas nós sabemos que legalmente nós temos a Guarda Municipal, com mais de 100 homens com muita vontade de trabalhar por nossa cidade. Então acho que temos que dar estrutura, motivação e condições para que os guardas realmente fiquem nas ruas. Em Maringá, temos um índice de resolução de crimes bem alto e, por vezes, somos teoricamente ‘prejudicados’ na distribuição de homens por conta do nosso dever de casa ser bem feito. Mas sabemos que a população está crescendo, temos mais de 79 bairros, então precisamos de uma Guarda respeitada e ativa. Acredito que essa questão vá além dos equipamentos, mas também de tentar buscar uma parceria junto aos agentes de trânsito, unificar as duas pastas e transformar esses agentes também em guardas municipais”, declarou. A entrevista completa com Do Carmo pode ser conferida nesse link.
Silvio Barros II (Progressistas), ex-prefeito da Cidade Canção entre 2005 e 2012 e que lidera novamente as pesquisas de intenção de voto, acredita que o caminho para melhorar a Segurança Pública de Maringá é a gestão pública estar mais próxima do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) que é quem, efetivamente, tem dimensão real do problema, na visão dele.
“Temos crises cíclicas de aumento de violência e isso produz inquietude social. Quanto a solução, o que eu faria seria recorrer a quem é especialista no assunto e tem compromisso moral e emocional com a cidade, neste caso o CONSEG. Recorreria a eles para encontrar a melhor solução e a mais viável para o momento”, disse o pré-candidato. A entrevista completa com Silvio Barros II pode ser conferida nesse link.
População em situação de rua, infraestrutura urbana e transporte coletivo: temas que também foram lembrados
Em menor medida, alguns dos pré-candidatos ouvidos também demonstraram preocupação com outros eixos da administração pública. Três deles, por exemplo, citaram a questão da população em situação de rua.
Doutor Batista (União Brasil), que tocou no tema brevemente, reforçou o desejo de estabelecer convênios com entidades assistenciais para atender essas pessoas.
“Vou trabalhar muito em cima das propostas que considero prioritárias: Saúde, Segurança Pública, Mobilidade Urbana, Geração de Empregos, Arborização e acima de tudo, buscar soluções para pessoas em situação de rua, ampliando parcerias com entidades para dar o devido acolhimento e viabilizando recursos das esferas estadual e federal”, disse. A entrevista completa com Doutor Batista pode ser conferida nesse link.
Flávio Mantovani (Solidariedade) se aprofundou mais no assunto. Embora tenha destacado que não criminaliza as pessoas que vivem nessa situação, lembrou que é preciso reconhecer que, em meio a essas, pessoas, existem aquelas que traficam drogas e praticam crimes. De acordo com ele, é preciso combater o problema com “medidas enérgicas”.
“Então nós temos um problema que é grave, não é uma coisa de Maringá, é uma coisa do Brasil inteiro, só que nós temos que resolver com medidas enérgicas. Nós fizemos até uma proposta que a gente acha que é viável, que é o vale-gratidão. A ideia então é fazer uma organização para que as pessoas, ao invés de darem esmola na rua, comida na rua, que façam a compra do vale e esse dinheiro possa ir para as instituições, assim como o albergue e outras que cuidam dessas pessoas, para que elas possam se alimentar, tomar banho e ter um lugar para elas ficarem, mas de maneira organizada e não nas ruas. Quando a pessoa dá o dinheiro para alguém na rua, ela está simplesmente financiando o uso de drogas. Reconheço que é uma medida que não é simpática, muitas pessoas quando eu falo disso acham ruim, só que é uma medida enérgica que tem que ser tomada porque é necessário”, afirmou. A entrevista completa com Flávio Mantovani pode ser conferida nesse link.
Professora Ana Lúcia (PDT) tem uma visão diferente. Para ela, a abordagem precisa ser feita de forma racional.
“É preciso lidar com essa situação de maneira racional, eu trabalho com a população de rua há anos e posso dizer que 90% dessas pessoas não querem continuar nas ruas, apesar do que os desinformados dizem. Elas não escolhem estar nas ruas, elas estão por questões extremamente complexas de suas vidas. A Segurança Pública nem precisa participar desse processo. Uma pessoa em situação de rua precisa de Saúde, de Assistência Social, de emprego e renda, enfim, de várias pastas articuladas em torno de ações de reinserção. É muito simples de resolver, desde que exista vontade política”, disse a pré-candidata.
Ana Lúcia também destaca a questão do transporte coletivo, classificando o transporte de passageiros por ônibus como algo “obsoleto”.
“Precisamos dizer que para uma cidade sustentável economicamente e também ambientalmente, a mobilidade precisa ser garantida via transporte coletivo. Podemos dizer que ônibus é algo obsoleto, uma cidade plana como Maringá pede um veículo leve sobre trilhos (VLT). Eu tomaria isso como uma questão muito importante. Se conseguirmos implantar tarifa-zero e transporte de massa de qualidade, que estimule as pessoas a deixarem seus carros em casa, será um grande avanço. Isso é gestão municipal, busca de recursos e gestões integradas com outras cidades, uma vez que penso que podemos integrar cidades do entorno, como Marialva e Sarandi nessa rede de transportes, sempre dialogando também com o governo estadual”, afirmou.
A bandeira da mobilidade urbana também é levantada por Evandro Araújo (PSD). Na visão do deputado estadual, é preciso criar políticas públicas para incentivar a população a utilizar o transporte coletivo.
“Nenhuma gestão no mundo irá abrir mão de discutir o transporte público, então precisamos olhar para esse contrato e cobrar sempre o cumprimento correto, cobrar aprimoramento, as pessoas precisam sentir que usar o transporte coletivo é bom e agradável, algo que pode ser uma experiência importante, também precisamos dar segurança para quem deseja se locomover com transportes alternativos, como bicicletas. Não podemos ter receio de fazer mudanças na ordem da mobilidade”, destacou o parlamentar. A entrevista completa com Evandro Araújo pode ser conferida nesse link.
Na área de Infraestrutura, também foram ouvidas críticas aos buracos em vias públicas de Maringá. Sidnei Telles (Avante), por exemplo, defendeu um maior planejamento deste segmento.
“Não se faz Infraestrutura da noite para o dia. Com algum esforço, até é possível colocar uma equipe para tapar buracos, desentupir bocas de lobo, mas não se resolve problemas de drenagem, por exemplo, ou de buracos no asfalto, tampando buracos de última hora. Você precisa de planejamento e isso envolve um grande cronograma. Se você não planejou, você não fez, e aí quando o problema surge de uma vez, não adianta trocar o técnico de time. É o que vejo com a questão dos nossos asfaltos”, afirmou. A entrevista completa com Sidnei Telles pode ser conferida nesse link.
Críticas pontuais à atual administração
De uma maneira geral, os pré-candidatos ouvidos evitaram fazer críticas ou mesmo uma avaliação do trabalho da gestão do atual prefeito Ulisses Maia (PSD). Perguntados, eles afirmaram que o atual chefe do Executivo tem méritos em ter sido reeleito e classificaram suas candidaturas como “independentes”, sem se posicionar como situação ou oposição.
As únicas críticas foram ouvidas de Homero Marchese (Republicanos) e Luiz Lourenço Júnior (NOVO).
Marchese, que foi mais incisivo nos apontamentos, questionou a insistência do município com o projeto do Parque das Águas e também do atual tamanho da máquina pública. Sobre a ‘prainha’, o ex-deputado estadual considera que investimentos em lazer deveriam priorizar espaços já existentes, como os centros esportivos.
“Essa é uma decisão completamente absurda, de se gastar o equivalente a R$ 50 milhões em uma instalação que o bom senso aponta que em alguns anos estará defasada e que não é prioridade da administração. Nós temos na cidade hoje uma série de locais de lazer que estão abandonados. Falo aqui da Zona 5, onde tenho escritório. Eu passei minha infância toda no Centro Esportivo da Zona 5 que, hoje, não tem uma gota de água na piscina, o Centro Esportivo da Vila Operária está em reforma há anos e nunca termina, nós não temos água no lago do Parque do Ingá. Então como podemos pensar em fazer uma estrutura artificial de água como essas se no Parque do Ingá, que é o cartão postal da cidade, não há água? É um sonho que está se vendendo para a população e o que mais me chamou a atenção é que, embora esse projeto fosse uma decisão completamente equivocada do prefeito, todo mundo se calou. É o medo de parecer impopular? Se for, nós não teremos isso”, lembrou.
O ex-parlamentar, que aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, também destaca o desejo de fazer uma reforma administrativa para reduzir o número de secretarias e cargos comissionados.
“Outra coisa que podemos fazer desde logo é pensar uma gestão com menos cargos para companheiros. Temos em Maringá hoje 33 secretarias municipais, mais de 350 cargos comissionados. Acho que, pelo porte da cidade deva ser um recorde nacional e, em números absolutos, acredito que esteja perto das cidades com os maiores números de secretarias do Brasil. Nós vamos focar em fazer uma gestão pública que tenha como foco a população e isso será feito desde o início, com uma Reforma Administrativa para reduzir o número de secretarias, reduzir o número de cargos em comissão e, principalmente, levar gente técnica e qualificada para os cargos”, disse Marchese.
Quem também defende uma reforma administrativa municipal é Luiz Lourenço Júnior (NOVO). Na visão do pré-candidato, é “impossível” trabalhar com o atual número de secretarias.
“Provavelmente, uma das coisas que faremos é diminuir o número de secretarias municipais. É impossível trabalhar como uma quantidade de secretarias tão alta, até porque entendemos que essa quantidade é para acomodar pessoas que apoiam a administração e, no nosso entendimento, com uma administração independente não vamos precisar fazer isso. […] O que o NOVO irá procurar fazer é organizar a escolha dos secretários sempre a partir de processos de seleção, a exemplo do que já ocorre em Minas Gerais e Joinville, sempre privilegiando o quadro de servidores de carreira, até para dar a oportunidade para essas pessoas que conhecem o serviço público, de fato, possam a ter oportunidade de ocupar esses espaços. Queremos ser uma administração menos política e mais voltada para o cidadão”, destacou. A entrevista completa com Luiz Loureço Júnior pode ser conferida nesse link.
Sobre a Série de Entrevistas do Maringá Post com os pré-candidatos a prefeito
Iniciada no dia 11 de setembro, a Série de Entrevistas do Maringá Post ouviu todos os pré-candidatos à Prefeitura de Maringá. Dois pré-candidatos foram entrevistados por semana, sendo eles Homero Marchese (Republicanos), Humberto Henrique (Solidariedade), Sidnei Telles (Avante), Doutor Batista (União Brasil), Flávio Mantovani (Solidariedade), Professora Ana Lúcia (PDT) , Edson Scabora (MDB), Delegado Jacovós (PL), Silvio Barros II (Progressistas), Do Carmo (União Brasil), Evandro Araújo (PSD), Luiz Lourenço Júnior (NOVO) e Evandro de Freitas Oliveira (PSDB)
Foto: Ilustrativa/PMM
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