Quando subiu pela primeira vez as escadas da Câmara de vereadores, foi que bateu um receio estimulante… Ir até o  fim cumprindo o compromisso ou regressar ao antigo emprego de  garçom na padaria do prédio comercial. Com um  salário mínimo sustentava duas filhas e a esposa desempregada.  Mas estava ali, em busca de um socorro seja de  quem fosse.

Pobre homem desengonçado. Mal sabia pisar os  pés com chinelos surrados nas escadarias do prédio imponente. Gotardo Eimiliano tinha 58 anos e um histórico de penúria… Em suas experiências estava registrado na construção civil como mestre de obras e a pizzaria.

Não tinha esperanças,  foi até o local pedir uma cesta básica. Alcebiades foi quem segurou seu pulso frágil   no momento premente. Era faxineiro da Câmara ha 30 anos. Tão logo se percebia a gentileza do velho homem que prestara apoio. Ao termino da escadaria  notou que tinham muito em comum… Primeiro pela idade, segundo pelas dificuldades financeiras. Alcebiades era viúvo e não tinha filhos. Depois da perda da esposa deixou relacionamentos como algo desimportante e em segundo plano.

Trocaram historias de vida enquanto estavam se aproximando dos gabinetes. Mas não havia ninguém nas repartições naquele dia pra surpresa de ambos. Entao sentaram na escada a espera de alguém chegar.  Tinha 14 anos quando ingressou na construção civil junto de seu pai…não teve oportunidade de cursar uma faculdade para ter uma profissão, fato que dividiu com o novo amigo. Já Alcebiades ate começou estudar o ensino médio, mas tendo que colaborar com as contas de casa onde vivia com os pais teve de eleger prioridades.

Chegava a hora do almoço, tinham que sair dali a qualquer custo. Alcebiades convidou Gotardo para juntar-se  a ele no almoço. Também lhe assegurou que a conta era por conta dele. Infelizmente tinham de se despedir… com um forte aperto de mãos selaram a amizade.

Alcebiades morava na região central, enquanto Gotardo residia na periferia. Rendia cerca de uma ou duas horas a pé, tempo calculado para chegar em sua residência. Era fim de tarde quando estava chegando. Estava desanimado e com um semblante abatido possesso de uma dor desmerecida. Olhou para o Céu e blasfemou…

Mas quando adentrou a casa sua esposa com a face toda cheia de lagrimas veio ao seu encontro. As crianças sentadas no sofá assistindo desenho animado. Ficou sem entender a situação .

Então ela puxou ele pelas das mãos. E adentrou a cozinha. Ai se encontrou em estado de surpresa e choque. Emocionado não tinha palavras para dar nome ao que estava vendo.

Na mesa havia alimentos para mais de meses… Tudo o que cabe em uma cesta havia em dobro. Gotardo não esboçava reações. A esposa não sabia de onde veio tantos mantimentos.

De repente, notara que um cartão de cor amarelada estava no centro da mesa.  Ao pegar o cartão uma única mensagem… Seja pacifico e humilde Deus te abençoe. De seu admirador, Alcebiades…

Nunca Gotardo imaginaria que ao se despedir de Alcebiades este se dirigiu ao mercado mais próximo e comprou o necessário para meses de consumo. Então ajoelhou-se e deu graças a Deus, absorvendo o aprendizado de que nunca somos desamparados quando optamos pela honestidade.

Luiz Renato Vicente é acadêmico de Filosofia da UEM (Universidade Estadual de Maringá). Vencedor de duas Edições do Prêmio Melhor Leitor do Ano pela Rotary Club Internacional e Semuc. 2017 ( 2º lugar) e 2019 ( 1º lugar) na categoria adulto. Autor do Livro Desamparo ( Micro-Contos) Pela AR Publisher Editora.