Por que esquecer o amor que não deu certo? A gente se engana quando pensa que o melhor a ser feito nestes casos é o puro esquecimento, que nada mais significa senão o adiamento da racionalização que deve ser feita para a obtenção (não imediata) da cicatrização das feridas abertas. Uma observação necessária é que as feridas sangram quando o fim de um relacionamento adentra a escala de mal resolvido.
Ferida é sinônimo de trajeto, a principio vem o corte que passa a partir daí pelo processo de regeneração, a condição de regenerado submete-se ao continuo tratamento aplicado com desfecho terapêutico.
O primeiro passo é a limpeza do espaço machucado, retirada as impurezas, recolhido os estilhaços vem o reparo abrasivo do curativo. O curativo porem não cessa nem dilui a carga horária de manutenção plausível de troca por curativos novos, cada um abrangente a dimensão ou intensidade da ferida exposta externa (ou internamente).
A dor que a acompanha agrega a um conjunto de mecanismos que precisam ser administrados. A posição, o cargo cedido e suas disposições confeccionadas a molde rigoroso, as emoções reveladas serem proporcionalmente distribuídas, não niveladas, muito menos exaltadas a forca de juízo.
O juízo é como flor que desabrocha na madrugada, abre a visão presenteando-a com discernimento, reinaugura o acesso as possibilidades, fecha os portos do sofrimento.
Nesta fase aquela ferida já não tem tanta expressão, a toques pacientes as cascas que agora a revestem devem dar lugar à pele nova.
Contudo é só uma fase, para que o novo se afirme e deixe de ser projeto é preciso abortar as resistências subordinando as aparências.
Adiante abandonada a penalidade da duvida, realçada a contundência das respostas:
Não se deve esquecer de um amor que não deu certo porque ele é a sentença objetiva e concisa que exprime a ignorância que abate; ignorância de pensar que liberdade é ter, possuir a todo custo em seus braços um pássaro viril selvagem; bloqueando seus anseios, essencialidades.
Esquecer-se de quem amou é desviar-se da oportunidade de ver na vida alguma beleza que não seja vaidade, se foi porque existiu e foi melhor seguir em frente, um olhar subsistiu a aquela doença antiga que insistia em se abrigar dentro da gente.

É evidente que a decisão de deixar ir não se adquiri em curto prazo, será preciso entrar na dinâmica do resgate de valores. Resgates são possíveis quando respeitamos o espaço que aquele (a) que partiu deixou como marca digna de lembrança tortuosa, lembrando-se sempre do cultivo do bom suprido do movimento dual cúmplice.
Quem vir terá seu espaço e sua recepção calorosa, mas não poderes ou condições de encerrar o livro e, portanto sua releitura da historia de quem um dia também chegou.
Partidas irão se suceder a todo tempo. Na infância, juventude e velhice; cada estação terá implícito um sabor diferente, nunca com propósito de fim, mas de recomeços.
O que nos cabe é ser o que o tempo o que o tempo nos permite. Ser corte, ser ferida, ser saudade.

Luiz Renato Vicente é acadêmico de Filosofia da UEM (Universidade Estadual de Maringá). Vencedor de duas Edições do Prêmio Melhor Leitor do Ano pela Rotary Club Internacional e Semuc. 2017 ( 2º lugar) e 2019 ( 1º lugar) na categoria adulto. Autor do Livro Desamparo ( Micro-Contos) Pela AR Publisher Editora.