Um rosto tomado de cólera cruzou comigo no reflexo convexo do espelho. Notei que tinha traços em conflito ao perímetro cintilante da face dotada de uma expressão flácida que contorcia a normalidade preponderante.
Os ombros desalinhados fixavam sua incompletude, o pentear de cabelos desajustado sua indiferença, parecia aceitar a desordem, o caos já fazia morada reluzindo a anomalia pertinente.
A severa indiscrição não lhe negava o livre arbítrio, embora visivelmente possesso pela infração que o acometera, seus braços, pois delineava esforços contínuos, proteção herdada por progenitura.
Toda aquela imposição de desafeto deflorado gritava por socorro, uma turbulência um tanto incoerente o atordoava. Todavia teria de se adaptar a causa oriunda, mesmo que essa não fosse sua.
Apresentava-se a introspecção nítida, abstrata de constrangimento. A impressão nefasta que assola corrosiva a transição imediata.
Numa ação coadjuvante foi prescrita a atividade das trevas… Distante da imagética, mas condado de psicomêtria.
Mas o que o embrutecia, pensei por encargo inconsciente, arriscando adentrar as fronteiras de – repente. O que pode alterar a efervescente humanidade ao ponto de torná-lo então inconsistente?
Sem êxito não mais correspondi inconseqüente, quando plausível o motivo se fez presente… E aquele rosto sem dono ou pertences se revelou meu rosto… Não havia como evitar, agora com as luzes acesas da origem, de me pedir desculpas…

Luiz Renato Vicente é acadêmico de Filosofia da UEM (Universidade Estadual de Maringá). Vencedor de duas Edições do Prêmio Melhor Leitor do Ano pela Rotary Club Internacional e Semuc. 2017 ( 2º lugar) e 2019 ( 1º lugar) na categoria adulto. Autor do Livro Desamparo ( Micro-Contos) Pela AR Publisher Editora.