Maringá e o futuro do mercado de tecnologia

 

Maringá encontra-se no contrafluxo do desemprego que assola o nosso país. Moramos na cidade que mais abriu vagas (e com melhor saldo positivo) do interior do Paraná. E um dos grandes responsáveis por isso é o setor de serviços. Que como você sabe, é neste setor em que estão arroladas as empresas de tecnologia da nossa cidade.

Podemos falar, com orgulho, que parte das maiores empresas de tecnologia do Brasil (e América Latina) possui a nossa “terra roxa” nos seus alicerces. Razão pela qual muitas pessoas acabaram migrando para nossa cidade. Eu mesmo migrei do Mato Grosso do Sul, atendendo ao chamado de uma “das grandes” de Maringá. Lembro que, enquanto assinava a minha demissão no sindicato, o representante dos trabalhadores me perguntou: “Mas o que está acontecendo em Maringá? Só essa semana foram dez demissões que fizemos, de pessoas que estão de mudança pra lá!”

O que está acontecendo em Maringá? Se a Cidade Canção já foi conhecida pela agricultura e a famosa seresta, hoje Maringá é um polo de informática, galgando seu espaço entre as principais cidades tecnológicas do País. As empresas maringaenses têm tido crescimento expressivo – mesmo em tempos pandêmicos – e constam no rol das melhores empresas para se trabalhar no Brasil, segundo a empresa internacional de pesquisas sobre a qualidade e ambiente de trabalho GPTW. É justamente por isso que iniciativas como o “Parque Tecnológico de Maringá”, embora atrasadas, são importantíssimas para fomentar este setor.

Tecnologia ainda é um dos setores que pagam os melhores salários no Brasil. São muitas as oportunidades de trabalho em que se pode ganhar cinco, oito, dez mil reais por mês – regime CLT. Esses salários refletem diretamente na arrecadação pública e na economia em geral da região. Infelizmente não possuo os dados para comprovar, mas não é difícil imaginar que parte do processo de gentrificação da cidade está sendo bancado pelos impostos das indústrias, dos trabalhadores PJ e dos “celetistas” que resolvem investir na cidade – fixando suas raízes, comprando/construindo imóveis.

Mas nem tudo são flores nessa história. Com a pandemia, as empresas brasileiras – especialmente as de tecnologia – resolveram se reinventar. Em um estalar de dedos, as pessoas passaram a trabalhar de casa. O ar-condicionado do escritório foi trocado por um ventilador barulhento, num pedaço improvisado da casa. Hoje, um ano e meio depois, essas pessoas não querem voltar para os escritórios. E outras sequer podem: o home-office inspirou o setor de recrutamento a buscar profissionais em outras cidades, estados e até países. Se nem tudo são flores, onde estão os cardos e espinhos dessa história?

O dinheiro da classe trabalhadora, que antes era injetado na economia local, está se evadindo para outras fronteiras. Para o trabalhador, é ótimo, pois aumenta suas oportunidades. Para as empresas também é muito bom, já que diminui o impacto do “apagão de profissionais de TI”. Para a tesouraria da prefeitura, nem tanto. Não digo que o teletrabalho irá “falir as finanças da cidade”. Mas que prefeitura ficaria feliz em construir acordos que, no final do dia, irão gerar empregos para outras cidades? Aquele jantar caro, para comemorar uma promoção no serviço, pode até acontecer no mercadão municipal. Mas não será no Mercadão Municipal de Maringá.

Para manter essa verba em Maringá, vejo pelo menos duas frente que poderiam ser contempladas pelo governo municipal. A primeira seria a frente de formação e a segunda seria a frente de atração e diversificação de modelos de negócio.

Quando falo em formação, não me refiro à acadêmica ou técnica. O ensino de tecnologia, voltado para as camadas mais vulneráveis da sociedade, poderia causar um impacto social positivo muito maior. A inclusão dessas pessoas na economia, a independência financeira, a quebra dos grilhões que sustentam um relacionamento abusivo, o vislumbre de uma carreira profissional de sucesso são só alguns desses efeitos imediatos na população. Indiretamente, teremos uma população alfabetizada digitalmente, e portanto, menos suscetível às manobras digitais que vimos acontecer no nosso país nos últimos anos.

Mas para que a riqueza intelectual produzida em Maringá se multiplique localmente, é preciso que se construa um ambiente que inspire tecnologia e informação, fomentando o surgimento de novos negócios. Tomo como exemplo o “Porto Digital”, que surgiu no Estado de Pernambuco, através da ação de políticas públicas voltadas para o setor de Tecnologia da Informação e Comunicação. Um empreendimento que com apenas R$33 milhões de investimento do Estado, incluiu Recife no mapa mundial de tecnologia. No estado do Paraná, não vejo outra cidade com o mesmo potencial que Maringá para receber um projeto de tal porte.

A diversificação e o crescimento do parque tecnológico em Maringá, precisa contemplar o futuro. Mais do que um projeto municipal, um projeto metropolitano, que atende principalmente aos interesses da sociedade e também das iniciativas público e privada; um jogo ganha-ganha, em que todos são beneficiados. Como seria essa iniciativa? Do que seria composta? São respostas que infelizmente eu não possuo ainda. Mas que os vereadores, prefeitos e empresários da nossa cidade podem construir em conjunto com as nossas universidades e coletivos sociais.

Se informação e tecnologia são o petróleo do século XXI, temos um poço minando no Parque do Ingá.

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