Desde que o mundo é bit, a discussão sobre ser júnior, pleno ou sênior existe. E nos últimos anos, com o aquecimento do mercado, esse debate tem ficado ainda mais acirrado. Surge a figura – e a crítica passivo-agressiva – do “Sênior de 3 anos”. A piada/crítica está na concepção de que esta pessoa, que possui apenas 3 anos de experiência em tecnologia, jamais teria as habilidades e vivências que o cargo exige. Será?
O que não ajuda em nada nesse debate é que as empresas, cada uma delas, possuem seus próprios critérios para definir o nível de senioridade das pessoas. Algumas se balizam apenas por conhecimento. Outras exigem cursos e softskills. Outras já aboliram esse referencial, adotando suas próprias métricas – e dificultando o “de-para” com o mercado de trabalho.
Particularmente gosto da abordagem do conhecimento como baliza. E não se engane: não escolhi a palavra “conhecimento” por acaso. O que quero chamar de “conhecimento” está além de saber a sintaxe de uma linguagem de programação. O verdadeiro conhecimento está em explorar os limites das ferramentas que se têm à disposição, construindo novos saberes. Fazer uma tela ou escrever uma API é fácil. Tomar as melhores decisões – e ser responsável por elas – é bem mais difícil. E me perdoem os novatos, mas 3 anos não é suficiente para isso. Tanto que o dilema já virou piada:
“Como saber se sou Júnior, Pleno ou Sênior “
Se os outros ficam putos com o que você faz: Você é Júnior
Se ninguém fica puto com o que você faz: Você é Pleno
Se você fica puto com o que os outros fazem: Você é Sênior”
Quantos anos, então, até se tornar sênior? Se você perguntou isso, talvez não tenha entendido o ponto. A quantidade de tempo não é, de fato, o que faz a diferença. O que realmente importa é a qualidade desse tempo e as experiências no seu decorrer. A diversidade de erros e acertos incrementa o repertório profissional, ganhando tempo e proporcionando escolhas melhores.
Mas se é assim, porque há tantos “sêniors” no mercado?
Em parte, porque os desafios da própria empresa são modestos. Pode ser que você esteja apenas desenvolvendo um software simples, que não exige os mesmos conhecimentos utilizados no Zé Delivery ou na Magalu, por exemplo. Em casos como esse, atinge-se rapidamente o platô de conhecimento exigido para a solução. E tudo bem. Apenas tenha em mente que a sua senioridade diz respeito a esse contexto particular. O “mundo lá fora” vai exigir muito mais de você.
Outro motivo, sem sombra de dúvidas, é a indisposição das empresas em adequar os salários dos seus funcionários ao que o mercado tem oferecido. Buscando não ofender o seu plano de cargos e salários, as empresas contratam como “Sênior” um profissional que não possui experiência suficiente para fazer jus ao título. Corpo laboral insatisfeito e software de baixa qualidade são apenas dois dos muitos resultados dessa prática prejudicial – tanto à empresa, quanto à pessoa.
Particularmente, sou levado a pensar que o nível “pleno” deveria ser mais esticado. Afinal, o nível pleno é composto por pessoas que sabem responder diante de um problema que surge. Enquanto sênior seria a pessoa que já passou por um problema parecido e consegue responder melhor e mais rapidamente aos desafios. No entanto, com taxas de turn-over tão altas, será que realmente vale a pena construir um plano que leve décadas, se as pessoas passam meses na mesma empresa?
E é por isso que, no atual momento do mundo tecnológico, essa discussão me parece inócua. Se concordamos que se trata de um parâmetro subjetivo a cada empresa, por que não seria subjetivo para nós mesmos? Isso mesmo! Decida você sobre a sua senioridade; estabeleça seus próprios critérios e se lance no mercado de trabalho. Quando surgir uma vaga, aplique. Deixe que a empresa diga qual é a sua senioridade. Se você discordar muito, vida que segue! A única forma de saber se o seu perfil é aderente é tentando. Chega de rótulos!
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