Em janeiro de 1975, há 46 anos, surgiu o primeiro computador que entraria na casa das pessoas. O Altair 8800 entraria na casa de engenheiros eletrônicos e hobbystas, é claro, mas esse pelo menos cabia na casa de alguém. A forma como as pessoas interagiam com ele era programando – em linguagem pura de máquina – o sistema, através de interruptores na parte frontal do gabinete. Uma vez feito isso, você poderia acoplar um teletipo e monitor.
Pela descrição pode parecer algo tão distante, mas veja esse vídeo e descubra como começou a era da computação digital à 46 anos atrás:
A idade do Altair (que poderia facilmente ser o nome de um tio seu) pode ser inferior à idade do seu pai. E pense: naquele tempo usava-se cartões perfurados para se comunicar com os computadores. Neste momento, estou utilizando 3 monitores, um teclado e mouse, e enquanto eu digito, estou vendo o resultado na minha tela. Eu tive a curiosidade de salvar este texto para ver qual era o tamanho dele neste momento. 14 kilobytes é quase quatro vezes o total de memória disponível para o velho Altair.
Os computadores foram evoluindo. Tão logo surgiram as interfaces gráficas, foi inventado o mouse. E aos poucos, outros periféricos foram sendo acoplados aos computadores. Impressoras e kits multimídia tinham a tarefa de construir essa ponte entre o homem e a máquina, tornando a experiência dos usuários cada vez mais imersiva e ergonômica.
Muitos acharam que as interfaces entre pessoas e computadores permaneceriam as mesmas por longos anos. Mas a tríade TMM (teclado, mouse e monitor) já dá sinais de cansaço. Não porque estejam desatualizados em si – se você usa um computador, vai precisar desse trio ainda – mas porque o computador saiu do gabinete e agora quer tomar conta das nossas vidas. Ele está na sua lava-e-seca, na sua geladeira, está nas máquinas da indústria e até mesmo na lâmpada da sala. O que torna inviável o uso da tríade TMM. Como interagir com esses equipamentos?
Na área de tecnologia existe uma matéria dedicada a se preocupar apenas com isso. A UX (uma sigla para user experience, ou experiência do usuário) volta toda sua criatividade para a construção de meios que permitam pessoas interagirem com as máquinas. E não apenas isso: tornar essa experiência intuitiva, acessível e ergonômica, tornando sistemas fáceis de serem compreendidos, que todas as pessoas possam utilizá-lo de maneira confortável.
Agora olhe para o último sistema que você desenvolveu. Como você acha que ele será acessado? Você pode pensar em monitores, celulares, tablets. Mas e se o usuário desejar utilizar um leitor de tela, o seu sistema estará pronto para isso? Pense na última API que você escreveu. Inocentemente você deve ter pensado que apenas o Frontend, desenvolvido pela outra parte do seu time, é quem vai acessá-la. E se eu disser que um bot pode estar neste exato momento construindo – quiçá sozinho – uma integração com a sua API?
Para nós, que estamos habituados às interfaces tradicionais há mais tempo, pode ser mais difícil pensar e fazer a ponte para os novos padrões de interação homem-máquina. Por exemplo: este parágrafo está sendo escrito utilizando o recurso de tar do Microsoft Word. Estou deixando aqui os erros de leitura propositadamente para que você possa perceber como o Microsoft Word faz a leitura do texto que ele ouviu. Confesso que a experiência é um pouco estranha para mim. Estou habituado a pensar um texto e enviar as sinapses para as pontas dos dedos e não para a boca. Mas até aí é um problema mais meu do que da interface.
Voltando ao bom e velho teclado. O que pode parecer estranho hoje, pode vir a se tornar comum amanhã. As crianças que nascem hoje, conhecem um mundo com assistentes virtuais, carros autômatos e casas inteligentes. O que para mim ainda tem muito esse ar sci-fi, para essas crianças será comum e ordinário. E os nossos sistemas, que hoje tem bonitas telinhas, mas sequer conversam com um leitor de tela, serão obsoletos. Hoje é quase mandatório que todo sistema de CRM disponibilize um bot, enquanto muitas empresas ainda estão patinando no atendimento ao cliente.
Eu comecei esse texto pensando: “vou chamar atenção do pessoal para o fato de que as interfaces estão mudando”. Mas a verdade é que elas já mudaram e a preocupação com o UX deve estar em todo lugar – mesmo numa API. Quem não está olhando para as novas formas de interação com o usuário, não demora muito, vai parecer tão pré-histórico quanto o antigo Altair. E assim como você não gostaria de programar o Altair hoje, os usuários não vão querer o seu sistema amanhã. Pense nisso.
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