Sobre scrum, ciclos e delírio coletivo

Por: - 28 de dezembro de 2021

Resta uma última folha, sobrou apenas uma linha, que representa a última semana do ano. E assim, em um passe de mágica, aqueles papéis-cartão que nos acompanharam durante o ciclo solar, já não servem de mais nada. 2021 acaba para 2022 iniciar; um ciclo termina para outro começar. 

Você não acha interessante esses verbos “acabar”, “iniciar”, “terminar” e “começar”? O tempo, assim como a roda ou uma boa música, é uma invenção nossa. Onde está o tempo? Como tocá-lo? Como espremê-lo entre os dedos? Não é possível. Mas ainda assim, ele está lá, no fundo da nossa retina, acompanhando a sucessão entre dia e noite, o roncar do estômago quando o sol está à pino e nas costas que doem mais com o passar dos anos. Ainda assim, embora seja indivisível e inexorável, inventamos o tempo e as suas secções. Desta forma ele deixa de ser infinito e passa a ser um pedaço acessível e compreensível na nossa mente.

O problema é que isso não faz o menor sentido.

Não existe nada de especial no dia 31 de dezembro, a não ser o delírio coletivo que o permeia. Já vivi réveillons o suficiente para saber que, na prática, é tudo igual. É só mais uma noite. E para nós, que sequer plantamos batata, nenhuma diferença faz o novo ciclo terrestre. Se o calendário, arbitrariamente, virasse para 32 de dezembro, não faria a menor diferença. O tempo passaria na mesma constância. A vida seguiria o seu fluxo normalmente.

Se na prática nada muda, é no campo abstrato da psicologia que as coisas acontecem. Talvez a herança agrícola, ainda forte no imaginário coletivo, nos faça encarar esses “fins de ciclo” como uma oportunidade de recomeçar, um ponto final em uma história, uma nova chance. E essa perspectiva, a despeito de ser ilusória, renova em nós o ânimo necessário para continuar. É reforçar a fé de que vai dar tudo certo. É uma nova fase do “joguinho”, só que agora eu sei por qual caminho trilhar.

E aqui eu vejo uma das grandes vantagens dos métodos ágeis. Ao construir pequenos ciclos de entregas, envolve o time neste mesmo imaginário de constante evolução. Tanto é verdade que as cerimônias do SCRUM estão aí para garantir que a melhoria contínua aconteça de forma ordenada. E assim cada personagem se dá a chance de melhorar a sua entrega na próxima vez, de ajudar melhor o componente do time em uma próxima oportunidade, de não cometer os mesmos erros na próxima sprint. Aliás, é uma nova sprint, então é um novo fôlego para aquele tiro rápido de entrega.

Com base nessas percepções, quero convidar você para duas reflexões.

Se o tempo não existe, por que esperar para dar o seu melhor? Por que esperar para fazer o certo do jeito certo, tomar as melhores decisões? Agora é o momento de você olhar para cima e ver desenhos nas nuvens, ou contemplar o brilho da lua ao lado de alguém que você ama. Agora é o momento certo de reconhecer alguém, de dizer que ama, de abrir o coração. Não se deixa pra depois porque o depois, na verdade, não existe. A vida, diante a infinitude do tempo, é breve como um piscar de olhos. Não cabe “depois” na vida, porque no depois a vida não há.

Se o tempo existe, mesmo sem existir, aproveite de igual forma. Extraia o que há de melhor nesse “surto coletivo” que é o fim de um ciclo. Aproveite toda essa energia para se oportunizar sonhos esquecidos e refatorar aquele método gigante. Aproveite a virada para prometer amar mais – a você e aos demais – e se permitir ser o alvo do amor de outras pessoas. E aproveite o fim desse ciclo, também, para dar cabo àquilo que te faz mal, ao trabalho tóxico, ao chefe chato, ao amor não-correspondido. Se um ciclo se encerra, que se encerre todo o resto com ele. Se um ciclo se inicia, que seja como nas palavras de Paulinho Moska: “Vamos começar colocando um ponto final”.

Eu sei que 2021 foi um ano difícil para todos nós, principalmente para as famílias que foram vítimas desse mal que assola o mundo, em especial, o nosso país. E para vocês, eu sei que é difícil colocar um ponto final. Pois então não coloquem. Boas histórias não se acabam. Elas são reescritas em novas vidas e eternizadas na memória de quem fica. Se você ainda sente amargor da saudade, viva o agora. Deixe a dor passar por você, pois esse é o momento dela. E assim, no fluxo da própria vida, a vida vai se encarregar de continuar. Arrastada, mas sempre em frente, sem te deixar para depois.

Eu desejo, do fundo do meu coração, que todos nós possamos tirar a felicidade para dançar em 2022; que jamais deixemos a esperança morrer e nem a vida para depois. Um feliz ano novo para nós – e uma existência repleta de vida!

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