Lá pela década de noventa, as empresas de catálogo estavam em alta. E a minha mãe entrou nessa onda. Lembro com detalhes de um treinamento que aconteceu no Parque São Jorge. Não só por ser a casa do time do meu coração, mas porque além de fazer produtos, a empresa sabia muito bem fazer lavagem cerebral e ganhar o nosso pobre dinheirinho. Da convenção, minha mãe saiu com pastas e mais pastas, cheias de Fitas K7 contendo palestras motivacionais, que eu passava a tarde toda ouvindo.
O resultado mais concreto de todo esse material foi uma alteração na decoração da casa: como instruído pelas fitas e manuais, espalhei fotos de um Ômega CD (carro da Chevrolet) para fazer o universo me dar aquele carro. Afinal, se essa técnica conseguiu fazer um cadeirante andar, o meu carro seria fichinha. Eu só precisava mentalizar! E sim, isso não tem nada a ver com coach, mas tem tudo a ver também.
Algumas pessoas podem estar em momentos complicados da sua vida, ou simplesmente não terem a inteligência emocional necessária para, de forma disciplinada, alcançar certos objetivos. Os quais podem variar da perda de peso até atingir uma meta empresarial no final do ano. Em cenários como esse, ter a participação de um coach é inegavelmente importante. Um olhar externo, que ajuda a diagnosticar suas fraquezas, não perder o ânimo e a traçar estratégias para alcançar os objetivos. É uma espécie de mentoria com esteroides.
O problema com o coach começa quando uma pessoa comunicativa e expressiva, conhece as Fitas K7 que eu mencionei. E sem nenhuma formação em psicologia, contando apenas com o poder de sua oratória, convence pessoas a colocarem suas vidas nas mãos de alguém que pouco – ou nada – tem de experiência ou até mesmo compromisso com o outro. Se a sua empresa não decolar, foi você que não fez direito. Se você desenvolver distúrbio alimentar, é porque o seu DNA não co-criou a sua magreza tão desejada.
Chamar todos os coachs de picaretas ou charlatães é injusto. Há sim pessoas com reconhecida formação e que conhecem técnicas que podem produzir resultados positivos. São pessoas que jamais utilizarão termos da física ou da biologia – como reprogramar o seu DNA com vibrações quânticas – para justificar qualquer prática. Um profissional, que tem real compromisso com seu cliente, sabe que para chegar a qualquer resultado é necessário trabalho e estratégia, e que o papel desse profissional é te ajudar no percurso.
E nós da tecnologia, que temos todo esse estereótipo nerd, conhecedor das coisas da física e etc, não estamos imunes aos coachs em exercício ilegal da profissão. Chovem motivadores empresariais, aconselhando técnicas cujos resultados se resumem a burn-out, depressão e software sem qualidade. Criam pessoas sem opinião, robôs que apenas falam o que os outros querem ouvir, à guisa de fazer amigos e influenciar pessoas. E estes, quando confrontados com profissionais, ficam sem saber o que está acontecendo.
Eu confesso que nesse ponto da conversa, eu estou me mordendo de curiosidade de saber como você está. Você pode concordar ou discordar de mim. Está tudo bem. Não tenho a pretensão de ser possuidor da verdade sobre o assunto. Estou apenas expondo a minha opinião e um pouco das experiências que tive com o coacherismo (sic) nas áreas empresariais, tecnológicas e até mesmo na religiosa (sim, tem coach de pastor!). Se você realmente tem interesse em saber mais sobre coachs, eu recomendo que você pesquise mais na internet. Ou melhor ainda, que procure alguém da área de psicologia para conversar sobre o assunto.
Mas eu falava da minha opinião, certo? E aí coach é bom? Eu digo que é sim. Mas um bom coach não será encontrado numa Fita K7, numa palestra no youtube, numa reunião geral com direito a um abuso cultural contra os Maori, armado em frases feitas. Ele ou ela estará do outro lado da mesa, construindo estratégias conjuntamente com você, não deixando você perder o pique. Vai time!
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