Eu lembro que, ainda no antigo trabalho, acompanhávamos os números da COVID-19 pelo mundo. E quando menos esperamos, o e-mail do RH nos mandando pra casa chegou. Sequer tivemos tempo para o último almoço com a galera toda. Passaram-se quase dois anos de trabalho remoto. E hoje, já em uma nova empresa, decidi dar cabo ao meu retiro. Com a desculpa de ir trabalhar com um amigo de Curitiba, juntei a máscara e a coragem e passei uma semana no escritório.
E como eu estava com saudade disso!
Antes que eu perca sua empatia, quero dizer que eu sou muito à favor do teletrabalho. No ramo de desenvolvimento de software, faz muito sentido. Principalmente em cidades muito grandes, onde o deslocamento rouba preciosas horas de vida, ou ainda para ampliar a zona de contratação da empresa. O caso é que eu moro em Maringá. Uma das melhores cidades para se viver no Brasil. E adivinhe? Não tem engarrafamento aqui. E o escritório fica a quinze minutos da minha casa. De bicicleta. E eu não tenho uma boa forma física.
A semana começou com o típico cadastro no prédio novo. Vestindo uma camiseta da firma, foi fácil deduzir onde eu trabalhava. De posse do cartão, com validade limitada a minha semana de trabalho, fui até ao andar do escritório. Se você já trabalhou em escritórios de tecnologia, sabe como eles são bonitos. O nosso também é, com o plus de ter cerveja pra todo lado – por motivos óbvios, claro. E chegou a hora mais esperada por mim: [re]conhecer as pessoas.
Digo [re]conhecer, porque a maior parte de toda a interação sempre foi mediada por um aplicativo de chat. É tudo muito diferente quando a gente se encontra. A maior parte das pessoas observei de longe. Meio bicho do mato mesmo. Primeiro por distanciamento social – não é fácil sair depois de vinte meses trancado em casa. E segundo porque eu sou o novato ali. As dinâmicas sociais já existiam antes e eu não fazia parte delas. De certa forma, mesmo estando há quatro meses na companhia, é como se fosse o meu primeiro dia novamente.
E mesmo com esses desafios de socialização, como é bom poder chamar as pessoas! “Hei, fulana!” é mil vezes melhor do que a convocação para “vamos fazer uma call no teams?”. Como é bom só olhar por cima do monitor e já trocar informações de forma não verbal. Às vezes o canto do olho enrugado já é o suficiente pra saber da piada ou da indignação com alguma coisa. Ou melhor ainda: sabe aquele balançar de cabeça em direção à cozinha?
Escritórios são ótimos. Eles têm ar-condicionado. E com o calor de Maringá – 34º graus essa semana – como é bom poder ficar no geladinho! Mas nada vence o café! O café adoçado com fofoca, com despeite, com história verídica ou inventada, piada infame ou elaborada. Daí chega alguém atrapalhado e enche o barril de água pra tomar tereré (sem compartilhar copo!) e já apronta aquela lambança.
A sede em Maringá é toda espelhada. Do alto do sétimo andar é possível ter uma bela visão da cidade canção. Infelizmente não revisei ainda as políticas de confidencialidade e imagem, se não, traria fotos para vocês. O bom é que, além da vista e da resposta rápida para a pergunta “será se chove?”, a gente acompanha o caminhar do dia. Aqui em casa também tenho uma vista privilegiada, mas tenho de manter as janelas fechadas por conta do reflexo nos monitores. Algo que, não sei como, não foi um problema no escritório. Mas eu digo tudo isso porque, quando a noite cai (ou dá 18h, o que chegar primeiro) a gente tem de sair. Em casa a gente sempre estica um pouquinho mais. Já no escritório, faz parte da regra do prédio. E o seu superior tá ali te vigiando. “Guarda um pouquinho pra amanhã, FT”.
Lá na AmbevTech ainda estão indo poucas pessoas trabalhar presencialmente. Uma ou outra pessoa do staff, algumas do desenvolvimento, TI… Mesmo assim foi divertido trabalhar de lá e gozar do cappuccino grátis. Assim como outras empresas, o regime de trabalho será definido pela própria pessoa. Remoto, híbrido ou presencial são as opções disponíveis. Particularmente gosto do presencial. Ter o meu espaço entre as mesas, uma foto, um copo. E sei também que, se caso for necessário, eu vou poder trabalhar de casa. A empresa está preparada para isso.
Se eu me senti seguro? Difícil dizer. Pela empresa sim. Respeitamos os protocolos de distanciamento e higiene. Mas ainda tem a rua, não é mesmo? Sair para almoçar ainda me pareceu um risco, embora controlado. Não sei se ainda é o momento para voltarmos a vida como era antes. E sim, voltar para o escritório – pra mim, quero voltar – é um signo dessa vida que, finalmente, se estabiliza. Ainda quero garantir a minha segunda dose (tomei a Jansen) e ter números ainda mais aceitáveis para me mudar de volta para o escritório.
Mas deu pra matar um tiquinho da saudade.
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