Química!
Apesar de nunca ter tido uma boa instrução em química, a matéria sempre me chamou a atenção. Parecia um papo muito “arcano”, “mágico”, “alquímico” e transformar substâncias em outras coisas novas. No entanto, não ver essas transformações era a parte mais frustrante do processo pedagógico. E antes que você me pergunte porque estou falando de química e transformações, eu quero dizer duas coisas: a primeira é que esse post não é patrocinado. A segunda é que, na semana passada, eu conheci uma cervejaria.
Você já deve saber que estou atuando como arquiteto de software da ambevtech, braço tecnológico da Ambev, também conhecida como a maior cervejaria do planeta. E como sou uma das pessoas que acredita que o software começa no “chão de fábrica”, fiz questão de conhecer a cervejaria e parte do processo produtivo. Eu definitivamente não tinha ideia do que eu havia desejado.
A Cervejaria do Vale, em Jacareí, figura entre as top dez cervejarias do Brasil em termos de tamanho. Após quase dois anos de pandemia e sedentarismo agravado, imagine como fiquei exausto após a caminhada pelas instalações. Detalhe é que mesmo tenho andado o dia inteiro – o que supera em muito a quantidade de passos do ano passado e desse somadas – não conseguimos visitar todas as instalações. Após a caminhada e a escalada de sete andares apenas para ver a chegada da cevada, achei prudente deixar o resto para uma outra oportunidade.
O processo industrial de cerveja é extremamente complexo e muito interessante. Da cevada até o copo, existem vários processos de aferição de qualidade e higiene. E toda a produção é milimetricamente pensada para otimizar o uso dos recursos, especialmente aqueles que têm impacto ambiental. Vale dizer que a cervejaria tem o compromisso de devolver ao ambiente uma água de melhor qualidade do que a captada para a produção de cerveja. Mesmo os gases gerados são reaproveitados durante a produção. O esforço para zerar a pegada de CO2 deixa o consumo da cerveja mais leve. Principalmente para consciência.
Mas uma visita só vendo máquinas trabalhando estaria incompleta. Tive a oportunidade de conversar com pessoas e entender um pouco do seu trabalho. E perguntei sobre algumas telas que ajudam na “gestão a vista” da linha de produção. O que vi – e juro que não é papo de linkediner emocionado – foram pessoas orgulhosas do seu trabalho e com uma disposição invejável em explicar o seu trabalho e a importância dele no processo. Todavia, me tocou a forma como se referiam aos softwares que produzimos. Como tiveram impacto positivo na linha, otimizando processos, diminuindo impactos, dando tempo para que o pessoal de operação pudesse dedicar o seu tempo a um trabalho que realmente entregue valor – e não apenas andar de lá para cá.
E é nesse momento, em que o tech e operação se encontram, que vira uma chavezinha dentro da cabeça. Para quem trabalha apenas pelos benefícios (não julgo), é só mais um trabalho. Mas ver o impacto que o fruto do nosso labor tech tem na vida das pessoas que operam a cervejaria, concede um colorido mais humano pro card arrastado ou o código revisado. Nós não estamos entregando software. Estamos entregando qualidade de vida, auxiliando a gerir processos que são menos poluentes. A distância aparente entre o escritório e as tinas são encurtadas e o “tic-tic” dos teclados e o barulho da esteira se misturam. Todos nós fazemos parte diretamente do processo que leva uma dose de alegria para pessoas do mundo inteiro.
Se você trabalha com desenvolvimento – não importa a sua função – faça-se a pergunta: eu conheço a pessoa que utiliza o sistema em que trabalho? Eu conheço o ambiente em que essa pessoa trabalha? Eu conheço o contexto em que a minha solução será aplicada? Nosso trabalho é muito abstrato. E ter acesso a essas informações pode melhorar – e muito – aspectos de qualidade e compromisso com o que está sendo entregue. Isto porque o abstrato foge do mundo das ideias e se manifesta de forma táctil, física, concreta. Há uma pessoa utilizando a nossa criação. E poucas coisas dão tanto orgulho para a pessoa desenvolvedora.
Eu preferi começar falando de química apenas porque acreditei que abrir esse texto falando de alquimia poderia não fazer jus ao processo cervejeiro. Porém, não é errado acreditar que Nicolau Flamel sentiria inveja de nós. Não criamos a pedra filosofal, mas com certeza transformamos cevada em ouro. E pensar que transformamos aqueles grãozinhos da primeira foto em cerveja é surreal! É mágico!
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