Você sabe que a maior parte das vagas disponíveis na área de tecnologia, não exigem formação certificada. Diploma técnico ou universitário, ainda que às vezes apareça na descrição de alguma vaga, não é necessariamente obrigatório. Se você for bem no teste de aptidão, sem dúvida, terá a contratação aprovada. O que parece positivo, traz consigo dois problemas bastante conhecidos entre as pessoas que trabalham na área de tecnologia: A “Síndrome do Impostor” e o “Efeito Dunning-kruger”.
A “Síndrome do Impostor” não é um mal catalogado, reconhecido como uma doença pelos órgãos oficiais de saúde. Mesmo assim, afeta muitas pessoas. A síndrome pode ser percebida naqueles que não confiam no próprio potencial. Vivem num processo contínuo de desconfiança da própria capacidade; acreditam que são uma fraude e que não merecem o espaço/cargo que ocupam. As pessoas que sofrem com essa síndrome, são incapazes de reconhecer boas características em si mesmas, mas reconhecem em outras pessoas. O que causa uma sincera dificuldade e estranhamento quando recebem um elogio.
O maior problema que afeta quem sofre com a síndrome do impostor, são as perdas causadas por ela. A auto imagem, muitas vezes negativa e irreal, impede a pessoa de buscar e aceitar oportunidades que se apresentam. Afinal, ela imagina que não merece, que é a menor dentre todos. E não saber lidar com elogios fortuitos, acaba gerando uma imagem de arrogância que não incentiva novos elogios, retroalimentando a síndrome do impostor.
Do outro lado da lente que distorce a própria a imagem
No entanto, o extremo oposto da Síndrome de Impostor é o efeito “Dunning-kruger”. Segundo os pesquisadores Dunning e Kruger – autores do estudo – o ser humano se acha melhor do que realmente é, e quanto menos ele sabe, mais ele acredita que ser especialista sobre um assunto. Isso acontece porque a pessoa simplesmente não sabe o que há para ser aprendido. Ela não sabe que não sabe, e por conhecer o mínimo, acha que já sabe tudo. Para minimizar o efeito Dunning-kruger só existe uma alternativa: estudar.
Os problemas que acompanham o efeito Dunning-kruger são facilmente presumíveis. A pessoa sob este efeito assume compromissos que não consegue arcar, divulga conhecimento incompleto ou incorreto. Se Dunning-kruger for somado a uma boa oratória, você pode ter pessoas sem as devidas competências ocupando um cargo de liderança. Os efeitos disso em uma empresa podem ser devastadores. Para a pessoa sob o efeito, pode causar desde desorientação, desemprego e se aliados a outros males, pode potencializar depressão e outros males do humor.
É bem possível que você já tenha se identificado com algumas dessas características. E de ambos os males. Preciso dizer que algumas reações que elenquei acima, são normais em todas as pessoas. E assim como todo mal, quando ele influencia negativamente na sua vida, precisa ser tratado. Logo, antes de dizer que sofre da síndrome do impostor, ou que é a encarnação do efeito Dunning-kruger, reflita sobre o quanto isso tem de fato afetado a sua vida pessoal/profissional. E na dúvida, procure a ajuda profissional de um psicólogo.
Algo que pode se somar aos cuidados da escuta terapêutica, é a companhia dos amigos e a auto reflexão. Essa ideia que você tem ao seu respeito reflete a realidade? Quais evidências você tem disso? O que os seus pares dizem sobre você? Pense bem: Você não faz elogios vazios ou feedbacks inventados. Por que as pessoas que trabalham com você fariam isso? Quando receber um elogio, agradeça! Você merece. E se for o caso, revele que você está aprendendo lidar com o seu impostor. Vai perceber que tem mais gente lidando com o mesmo problema.
E para superar o efeito Dunning-kruger, somente a busca incansável pelo conhecimento é capaz de mostrar o tamanho do vale de desconhecimento. E por mais que possa ser uma figura de imagem assustadora, na realidade não é. É libertador saber que ainda há muito para aprender e poder dizer “não sei, mas eu ainda vou saber”. Apenas recomendo cuidado para que a busca pela superação do efeito não te leve a sofrer de outro mal: a síndrome de burnout. Mas esse é tema para outra conversa.
Os comentários estão fechados, mas trackbacks E pingbacks estão abertos.