Oito horas!
Esse período de tempo representa uma terça parte do dia. Se considerarmos o período indicado como mínimo para um sono saudável, metade da nossa vigília desperta (em alguns casos, um pouco mais) é empreendida apenas no período destinado ao trabalho. Enquanto que a outra metade é disputada com o transporte casa-trabalho e serviços domésticos.
Quanto tempo resta, diariamente, para informação? Ou para lazer? A maior parte da nossa vida, indubitavelmente, passamos atrás de uma mesa de escritório, em um trabalho que será mesmo que realmente faz algum sentido pra nossa vida?
É com essa crise existencial que eu começava a receber as novas pessoas da empresa em que trabalhei. Parece pesado para um “boas vindas”, mas faz parte do processo pedagógico dialético. É preciso propor e dar caminho a uma desconstrução, para só então construir em conjunto uma nova visão da vida e do trabalho. E a conversa que eu tinha com quem estava chegando tinha um tema: entrega de valor. Uma reflexão que eu quero trazer pra você, afinal, apesar do tema ter sido dado pela empresa, é algo em que eu realmente acredito.
A vida é realmente muito curta. Se considerarmos que a expectativa de vida do Brasileiro é de 76 anos, a partir dos 38 já estamos em contagem regressiva. Já pensou que com 39 anos possivelmente você tem mais tempo vivido do que à viver? Agora imagine fazer da vida uma eterna espera pelo final de semana, odiando as segundas-feiras. Em 76 anos são 3648 dias da sua vida que você simplesmente não queria ter vivido. Quase dez anos jogados fora. Como dar prazer pra essa parte da vida que nos é roubada?
Em primeiro lugar, vivendo esse momento. A vida também precisa acontecer durante o expediente. E viver é se relacionar, construir histórias, fazer amigos, tornar o trabalho um assunto aceitável (embora nunca o único) para a mesa de bar também, afinal, a maior parte da sua vida é passada lá! Celebrar os marcos também é importante. Todo trabalho é feito de pequenas vitórias e derrotas. As celebrações são importantíssimas para criação de laços na equipe, e até mesmo com o ambiente de trabalho. Mas a vida não é nada se não tiver propósito. E como se faz pra encontrar propósito no trabalho?
Quem é você? Talvez o primeiro passo para encontrar um propósito no seu expediente é o autoconhecimento. Você certamente tem valores que te definem, que te motivam. Se você é uma pessoa com sentimentos altruístas, talvez o seu propósito esteja em doar-se para os outros. Nesse caso, uma empresa que estimula a interação entre as pessoas e o compartilhamento de conhecimento, faz mais sentido pra você. Se você é uma pessoa mais ambiciosa, estar em uma empresa que possui vários degraus de promoção é o lugar ideal para os seus anseios. Estar em um lugar que não se alinha com seus valores pessoais é sufocante. E por melhores que sejam os rendimentos, vai chegar um momento em que você vai se sentir um “corpo estranho” e sair será inevitável.
Qual o impacto social do que você faz? Um dos trabalhos mais gratificantes que eu já participei, foi trabalhar com software de justiça. Por mais cansativo e estressante que fosse, repousava em nós o sentimento de que estávamos entregando um software que ajudava a sociedade a ter acesso à justiça. E não sou eu quem diz isso. Um desembargador do Amazonas veio nos dizer que, graças ao software que escrevemos, o tempo gasto em um processo de alimentos diminuiu de 3 anos para 3 meses. Fora outras oportunidades em que os “corner cases” da justiça chegavam até nós. Cada ajuste, cada entrega, servia para melhorar a justiça. E como isso era gratificante!
O grande lance é que você não precisa fazer software para justiça, ou para o governo, para ter relevância social. Você escreve um marketplace? Imagine quantos negócios você salvou com o seu código? Quantas novas frentes de trabalho foram oportunizadas com o mover de um card no seu board. Você escreve software para cervejaria? Pois um pouco da sua vida está na mesa das famílias brasileiras, na “hora feliz” de grande parte das pessoas do mundo; graças ao seu trabalho, a gente pode, por um momento, olhar para o lado e sorrir.
Talvez não construam uma estátua para você, na avenida central da cidade. Ou você dificilmente terá um logradouro batizado com o seu nome. Mas pense nos pequenos marcos que, durante o seu expediente, você acaba construindo! Uma entrega de valor, para mim, sempre foi um equilibrado misto de realização entre os usuários, clientes, empregadores, eu e meus colegas de trabalho.
E não posso me furtar de dizer que, essa diferença feita na vida das pessoas que trabalham comigo, é o que constrói mais propósito e sentido na minha vida laboral. Eu construo minhas próprias estátuas, ciente de que colaborei para ajudar alguém e fazer do mundo um lugar um pouco melhor.
Isso quer dizer que não reclamo das segundas-feiras e o final de semana é só mais um dia? Claro que não! Eu adoro a zoeira envolvida! Mas sem dúvidas, o início da semana é bem mais leve. O propósito ajuda a aguentar essa barra. E você? Qual o seu propósito?
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