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Dados publicados em 2012 pelo então Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, coletados com base nas denúncias registradas no Disque Direitos Humanos (Disque 100), revelam que, naquele ano, o número de violações contra a comunidade LGBT foi de 9.982 casos, aumento de 46% em relação à mesma estatística do ano anterior, de 6.809 casos.
Desses quase 10 mil casos, 4.851 produziram vítimas. Esses dados retratam panoramas gerais frente à população LGBT no país e revelam a dificuldade de precisão nos números sobre ataques homofóbicos. Muitas vezes, os dados são revelados bienalmente. A intenção é aplicar maior veracidade aos números e retratar a dificuldade que a falta de leis específicas para proteção dessa população causa a essa comunidade.
Procurada pela reportagem no início de junho, a então secretária de Assistência Social e Cidadania de Maringá, Rosa Maria Marques de Souza, revelou que não existem ações municipais voltadas especificamente para a comunidade LGBT. “Não temos uma política pública definida para os LGBTs, mas temos a política pública de assistência social, pela qual atendemos todos que dela necessitam”, afirma.
Questionada sobre a procura da população, principalmente das travestis, Rosa Maria informou que não é grande. “O LGBT não dá as caras, eles não participam das ações, quando fazem, é separado, eles mesmos se discriminam. Eles têm que começar a se envolver mais, para que possam exigir o lugar na sociedade, se não vão ficar sempre à margem”, salienta.
Ela também pontuou que a comunidade LGBT pode procurar mais informações e atenuar-se a difundir a discussão frente à sociedade. “Eles têm de se impor: ‘é assim que eu quero viver e pronto’. Vivemos em um país democrático, eles é que têm de vencer as barreiras da diversidade”, sinaliza.
Ela destaca que, durante a Conferência Municipal dos Direitos LGBT, em Maringá, assistentes sociais participaram das discussões a fim de buscar maiores conquistas para a defesa das travestis e transexuais. “Pedi que meus assessores participassem, pela experiência que eles têm. Acompanhamos a conferência, o que já é um avanço, já temos o conselho voltado para essa minoria”, ressalta.
“Não existem ações municipais voltadas especificamente para a comunidade LGBT”
A discussão é acalentada pelas declarações da vice-presidente da Associação Maringaense de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (Amlgbt), Margot Jung, uma das organizadoras da Parada LGBT de Maringá e da Semana da Diversidade Sexual, que revela informações sobre os órgãos assistencialistas frente à comunidade.
“Não temos recursos financeiros de nenhum órgão público, nenhuma instituição, entidade ou secretaria. Mas em todos os anos nunca recebemos ‘não’ da prefeitura para fazer a parada ou a semana. Inclusive, neste ano, a semana de debates aconteceu no plenário da Câmara de Vereadores.”
Margot também destaca que a importância da discussão de gênero nas escolas ocasiona visão positiva entre os jovens e adolescentes, para que consigam trabalhar melhor com as diferenças, de forma diferente da ideia defendida por toda a sociedade.
“Trabalhar gênero nas escolas não é sinônimo de deturpar a cabeça das crianças para que sejam alguma coisa, não é isso. É criar na mente de todas as pessoas que todos merecem respeito e que a pessoa que não se identifica com o seu corpo merece ser respeitada assim como qualquer outra.” A militante diz que as diferenças na sociedade devem ser encaradas com naturalidade. “As pessoas precisam entender que quando nascem, alguns indivíduos não se identificam com o corpo que têm.”
O debate sobre as discussões de gênero nas escolas ganha força pelos estudos realizados dentro do Núcleo da Diversidade Sexual (Nudisex), grupo de pesquisa vinculado ao Departamento de Teoria e Prática do Ensino da Universidade Estadual de Maringá (UEM). A professora, pesquisadora e presidente do grupo, Eliane Rose Maio, autora da obra “O Nome da Coisa”, livro que surgiu da tese de doutorado dela, reafirma a necessidade dessa discussão. “Nas escolas é que vemos a pluralidade. O ser gente. Como a escola é um processo plural, precisamos trabalhar com isso. E trabalhar a forma de como as pessoas são do jeito que querem ser demonstra essa pluralidade.”
Eliane destaca que, desde a formação acadêmica e pedagógica do professor, deve haver o trabalho de estudo frente às diversidades sexuais. “Dentro da graduação, nas licenciaturas, deve existir o debate sobre as diversidades. O professor, o funcionário, todos os profissionais da educação devem estar preparados para não segregarem os que ali estão para aprender”, diz.
A pesquisadora observa que, pelo fato de o preconceito estar presente dentro das escolas, a má formação das travestis é ocasionada pelas agressões, verbais ou físicas, que levam à na evasão escolar. Isso desencadeia uma série de fatos.
“A maioria das travestis é expulsa das escolas e isso não é nada agradável. Por isso, pretendo continuar trabalhando bastante com esse olhar”, destaca. Os debates são importantes para Eliane, pois tudo gira em torno de um único objetivo: as classes sociais estarem em comum acordo no respeito às diferenças. “Tenho uma frase que carrego comigo e sempre digo: ‘Eu gosto de gente que gosta de gente’, isso é muito importante para mim”, orgulha-se.
“Quando nascem, alguns indivíduos não se identificam com o corpo que têm”
Esta grande reportagem foi publicada originalmente no dia 03/08/2016, junto das demais reportagens na edição impressa especial do Jornal Matéria Prima, denominada Iguais na Diferença, que pode ser acessada na íntegra clicando aqui.
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