Papa Francisco / Foto: Daniel Ibanez – CNA
Entre a Igreja e a figura do Papa existe uma diferença grande – felizmente. Ver a última declaração do Pontífice-maior de 1,3 bilhões de cidadãos é reconfortante, mas ainda não para a própria igreja.
Eu tenho um tuíte fixado na minha conta do Twitter com uma frase que eu acho extremamente importante: onde há homens, há erros. Na religião, há homens. Na crença, há Deus.
Eu começo este texto aqui com a frase acima, mas vou elaborar um pouco mais o meu sentimento. Não pensamento: sentimento mesmo. No dia 26 de janeiro deste ano – que, por sinal, é o dia do aniversário da minha mãe -, Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, deu uma declaração dizendo que “pais que observam diferentes orientações sexuais em seus filhos devem procurar lidar com isso, como acompanhar seus filhos e não se esconder atrás de uma atitude de condenação”. Quando li a notícia, fiquei realmente contente e animado com a declaração. Desde que o pontífice-mor da Igreja Católica assumiu a missão papal, há 9 anos, eu realmente sinto honestidade nas palavras que ele fala.
Com isso, lembrei da outra declaração que Francisco deu em outubro do ano passado, no documentário “Francesco”, de Evgeny Afineevsky, dizendo:
“Os homossexuais têm direito a formar uma família. Eles são filhos de Deus e têm direito a uma família. Ninguém deve ser excluído ou forçado a ser infeliz por isso. O que temos que fazer é criar uma legislação para a união civil. Dessa forma, eles ficam legalmente cobertos.”
E, de novo: vibração e felicidade internas com a declaração. Mas daí vem ela: a Igreja Católica.
Poucos dias depois da declaração do Papa Francisco chegar ao conhecimento do mundo, a Igreja Católica – por meio de uma carta enviada da Santa Sé para os núncios, que são uma espécie de embaixadores da igreja nos países, algo como os antigos arautos -, disse que mesmo com a publicação da opinião papal, esta não colabora com a opinião da Igreja Católica em si. E aí, quando eu li, eu tive aquele sentimento de “tava bom demais pra ser verdade”. Só que, ao mesmo tempo,
Esse é o posicionamento da Igreja. Nem o posicionamento e muito menos a Igreja irão mudar. Logo, quem precisa mudar somos nós. Vejamos: eu realmente preciso temer, prometer servidão e estar dentro de um regime que me apaga? De um regime que me acolhe, mas acolhe distanciando? Me abraça, mas abraça falando “espero que esse abraço te cure disso que você está vivendo em pecado na sua vida”.
Pecado é explorar a mão de obra qualificada de pessoas a troco de enriquecimento de lucro com base na exploração de camadas sociais mais pobres. Ser LGBTQIA+ é pecado pra quem? Pra mim, não é.
Se eu estou em um lugar que pede para que eu seja menos eu, eu não estou naquele lugar. Certa vez, um querido amigo me disse uma frase (que ele, por sua vez, ouviu de outro amigo) que era: quando você pede para alguém ser “menos” alguma coisa, você está pedindo para aquela pessoa ser menos ela. E essa frase nunca fez tanto sentido pra mim. Se for pra eu ser “menos gay”, eu vou ser menos eu. E eu não quero ser menos eu. Eu quero estar onde posso ser.
Então assim: a Igreja não vai mudar. E quando ela dá sinais de uma possível mudança, como quando vemos um Papa proferir uma opinião que, basicamente, é só o direito fundamental de vida e dignidade para o outro – pois mesmo admirando o posicionamento do representante-mor do catolicismo, eu não deixo de achar que as declaração foram óbvias ao nível de falar subir pra cima, descer pra baixo, entrar pra dentro -, ainda assim a opinião da corporação Igreja não muda. Se não mudou em mais de 2000 anos, gente, aparentemente quem precisa mudar somos nós.
O meu Deus, que eu acredito e que me acolhe, realmente me acolhe. Espero que o seu Deus também faça isso.
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