Quais as pequenas coisas que são grandes demais na vida de um LGBTQIA+?

Por: - 18 de novembro de 2021
Que o riso seja nossa fala toda vez que nossa voz acabar. E não mais o choro. (Imagem/Pixabay)

No último feriado, fui visitar os meus pais. Lá na cidade onde vivi a minha vida inteira, volta e meia é gostoso voltar.

Durante o almoço do feriado de Finados, entre tantos assuntos que permeiam a história da nossa família e a nossa intimidade, cercado dos meus pais, do meu irmão do meio, a esposa dele e meus dois sobrinhos, ouvi algo vindo da minha mãe que me chamou a atenção: “eu quero saber quando é que você vai trazer um genro legal aqui para casa, que vai conversar com a gente e participar aqui junto.” E isso fez o meu coração tremer de alegria.

Se eu olho pra trás, há 4 anos, o sentimento era outro. Era 12 de outubro de 2017, também um feriado, e eu chegava na mesma casa e na mesma cidade com um objetivo: oficializar a informação de que eu sou um homem gay para os meus pais. Em um misto de ansiedade, medo, pavor, tremedeira e tudo aquilo que eu fico pensando que uma pessoa heterosexual não sente, porque nunca precisou contar para os pais da própria sexualidade, cheguei e o assunto começou. No meio desse caminho, entre algumas discussões, espaço de tempo que precisaram ser respeitados para que tudo ficasse bem e muitas dúvidas, muita coisa mudou. 4 anos depois, o coração acelerado por contar sobre quem eu sou se transformou em um coração cheio de festa para responder “uma hora vem aí, sei que quando eu trouxer alguém aqui em casa, esse homem será muito bem recebido”. Sem mais medo, sem receios. Sem ter que esconder quem eu sou.

Conseguiu perceber? Na maioria das relações heterossexuais que eu conheço, a ansiedade quando o assunto é namoro, gira em torno de quando o homem vai até a casa da mulher pedir a mão dela em namoro para os pais. O medo é sobretudo masculino, pois o namorado se treme de medo de encarar outro homem: o pai da moça. Mas percebe que o medo é do contato, não da apresentação? O casal heterossexual não tem o medo de minimamente ter a apresentação rejeitada. Nós pensamos muito para falar que um dia estamos namorando, quem dirá uma pessoa do mesmo sexo. São diferentes as vivências.

Contar um pouco da minha história aqui tem dois objetivos: o primeiro é, claro, agradecer e reconhecer o meu privilégio de ter esse apoio e suporte vindos da minha família e dos meus amigos. O outro, exatamente por esse apoio que recebo, coletar forças e transformar isso em luta (até mesmo para escrever e manter uma coluna de diversidade e inclusão LGBTQIA+ aqui no Maringá Post), buscando dar voz e ser algum tipo de apoio para quem não tem o mesmo privilégio que eu. Mais do que reconhecer este privilégio que tenho, meu objetivo é inspirar e mostrar que, por mais escuro que um caminho possa ser, há soluções.

Meu objetivo é dialogar, inspirar e conversar com os meus iguais. Para mostrar que a nossa luta é única, e que por mais que pessoas LGBTQIA+ tenham diferentes contextos familiares, sociais e históricos, temos todos um objetivo em comum: ser feliz e ter paz.

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