O covarde escondido no “humorista”

Por: - 4 de novembro de 2021

“Eita, calma, eu só estava brincando”

A piadinha e a brincadeira como máscaras da “liberdade de expressão” para destilar preconceito contra o outro é um dos movimentos mais normalizados que vemos em ataque à comunidade LGBTQIA+.

E é bastante cômico (é proposital usar cômico em um texto sobre os perigos do humor do covarde). O humor, quando falado no contexto da comunidade, tem duas vias: de um lado, pessoas fazendo piadinha com o nosso jeito de falar, vestir ou se comportar, sob a justificativa de “só estar brincando”; do outro, os nossos mecanismos de sobrevivência, um clichê, algo que já é meio esperado de quem é LGBTQIA+ e que virou até meme, uma vez, em uma publicação que viralizou na internet: de ser sempre “um povo animado”. 

Veja só: estamos falando de um humor que ataca, mas quando é visto de outra maneira, precisa ser usado como defesa para estes ataques. É complicado, não é mesmo?

Claro, existem situações e situações: todo combinado não sai caro. Então quer dizer que não se pode brincar conosco, pessoas LGBTQIA+? Claro que pode. E muito! Desde que a brincadeira seja acatada e aceita por nós. Desde que, basicamente, seja mesmo uma brincadeira. Porque a gente sabe muito bem identificar, desde muito cedo. Eu já disse aqui uma vez, neste texto, que uma pessoa LGBTQIA+ passa pela construção e pelo apagamento da personalidade para caber em caixinhas desde muito cedo.

A gente sabe que não é brincadeira. E a gente sabe quando não é brincadeira. A tentativa de ferir, agredir, de fazer chacota é sempre muito óbvia. Se rirmos, é isso, “entenderam o recado”. Se não rimos e vamos contra ao que acabou de ser feito, somos passivo-agressivos. Somos quem não sabem brincar, ou pior: os que não aguentam brincadeira, mesmo que tenha um fundo de verdade gigantesco envolvido neste discurso, mas se reagimos de maneira dura, somos “ruins, loucos(as), histéricos(as)”, pois tudo não passava de uma piadinha.

Tem gente que acha que, por sermos gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e muitas outras formas de gêneros e sexualidades, a nossa vida é um roteiro de stand-up.

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