Você não vai mudar a mentalidade da sua avó, a do seu sobrinho, sim

Por: - 28 de outubro de 2021
Levantar a nossa bandeira é entender onde nos cabe e para quem precisamos esforçar nossas experiências (Foto: Ariel Schalit/AP)

Existe uma diferença entre dialogar e gastar energia para tentar convencer alguém de alguma coisa – sobretudo quando esse alguém não tem o menor interesse em mudar de ideia

 

Cara, dos 16 textos publicados até aqui – 17 com este – desde julho, eu estou para dizer para vocês que talvez este aqui seja o mais complicado. Não é o mais difícil, pois eu acho que esse aqui ocupa o cargo de ser o mais pesado de todos eles. Mas ele é complicado por uma série de fatores que vou falar aqui.

Estava jantando com a Monique, minha amiga e com quem eu tenho a sorte de dividir apartamento e morar junto aqui em Maringá, e entramos neste assunto. Neste mesmo, deste texto, pois ele nasceu exatamente depois dessa conversa no jantar. A gente falava sobre sermos o choque de gerações e o limite entre o velho e o novo, a troca, a conquista dos direitos que ainda não são entendidos pelos mais velhos, mas que torcemos para ser praticado naturalmente pelos mais novos.

A reflexão que eu trouxe para a mesa é a mesma que eu trago aqui: será mesmo que vamos conseguir mudar a mentalidade e a cabeça dos nossos avós?

A representação do termo “avós”, no entanto, se estende para nossos tios, pais, amigos mais velhos… Enfim: todo mundo que, de certa maneira, foi educado de outro jeito e  diverge dos pensamentos e das opiniões que nós temos e buscamos exercer.

Quando uma relação entre duas pessoas é estabelecida – mesmo que essas duas pessoas sejam pai/mãe e filho(a), histórias, caráter, formação cultural, identidade e interesses chegam junto e são postos frente a frente: nós podemos ter afinidades e até nos parecermos uns com os outros (é daí que nascem excelentes amizades, por sinal), mas cada pessoa é um oceano de outras coisas. Eu disse tudo isso para concluir: cada pessoa pensa de um jeito.

É óbvio: pensar de um jeito não abre possibilidade para que essa pessoa seja escrota. Existe uma séria diferença entre você ser ignorante em alguns assuntos e não querer aprender sobre, e fazer disso arma para atacar a integridade do outro. A gente precisa separar as coisas, pois não quero deixar no ar a possibilidade de também ouvirmos e vivermos situações que nos humilham e não falarmos nada: em situações onde claramente o preconceito, a LGBTfobia e a violência contra quem nós somos pode ser combatida por nós, que assim o façamos.

Mas pensa comigo: será mesmo que você vai conseguir convencer alguns de seus familiares que pessoas que não têm gênero definido existem? Vale comprar uma pauta deste tamanho que só vai desgastar? Não é melhor olhar e entender: “ok, se isso tomar outras proporções daí a conversa muda, mas eu não vou mesmo gastar energia tentando convencer o outro a mudar uma opinião que ele já sabe que não vai abandonar”.

Por fim, a gente deve se questionar: meu gasto de energia vai ser para dar murro em ponta de faca com pessoas que não farão questão de mover uma palha para mudar e aprender algo novo ou nós devemos medir e exercer nossos esforços para garantir que a nossa geração, que é de transição, seja responsável pela educação de uma nova geração que vem depois de nós e, por sinal, muito mais cabeça aberta? Será que não estamos perdendo a chance de orientar as futuras gerações para que ajam naturalmente frente aquilo que queremos?

Entre o limite do mínimo respeito e de querer mudar a opinião de alguém, mora o bom senso de percebermos que, às vezes, não vai valer a pena gastar saliva com quem só quer te testar.

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