Como é o esconde-esconde com a construção da própria personalidade? 

 

O nível de agressão que se aplica à uma pessoa que, desde criança, é impedida de ser ela mesma, guia quem será pelo resto da vida.

 

A nossa vida é, na maioria das vezes, recheada de intenções. Nós nascemos predestinados(as) a sermos algo/alguém/alguma coisa, resultar em um produto, representar uma personalidade. Os contextos social, histórico, cultural e familiar são os grandes responsáveis por isso, pois vejamos: você nasce em algum lugar do planeta, que tem um tipo de cultura específica (e, na maioria das vezes, regional), em um determinado dia, mês e ano (onde situações ocorrem neste período e, daqui um pouco podem não ocorrer mais) e em uma família: que carrega uma história, uma determinada construção e é composta de diversas maneiras – por mais que exista uma galera aí que jura que família só é formada por homem e mulher, casados, e de forma “tradicional”. Conversa pra boi dormir.

Vale lembrar que esta não é a realidade de todas as pessoas. E, por elas, eu me solidarizo de todo o coração – saibam que, mesmo com o maior sentimento de rejeição do mundo, vocês são amadas e amados exatamente do jeito que foram, são e ainda serão.

Mas este texto nasceu e este assunto sempre está presente na minha vida por conta de um tuíte que vi, certa vez, e que me deixou extremamente emocionado: é este aqui. Nele, Alexander Leon, um escritor inglês, diz que:

“Pessoas LGBTs não crescem sendo elas mesmas. Crescem sacrificando e limitando suas espontaneidades para minimizar humilhações e preconceitos. Nosso maior desafio da vida adulta é escolher quais partes de nós são o que somos de verdade e quais criamos para nos proteger do mundo.”

 

Para nós, pessoas LGBTQIA+, esse cenário é infernalmente comum. Passamos tempo considerável – e grande demais, permeando as personas: o filho de fulano e sicrana, o que trabalhou naquele lugar… Até onde o nosso próprio nome não é dito? E por ser filho de, você ocupa esse cargo, que te tira do seu próprio papel de ser quem é. Nós podemos ser chamados de filhos de nossos pais. Desde que isso não nos faça perdermos nossos nomes.

Vou puxar a atenção para o fato do ser filho(a): na nossa mente, poucas vezes deixam de passar os pensamentos de “O que vão pensar da minha criação? Será que estão pensando que meus pais criaram filho para ser mariquinha?” E essa violência nos é dada de graça, de mão beijada, endereçada para quem sofre diretamente e quem está no entorno – onde mora o endereço que autoriza a nos violentarem e violentarem minha família?

Tenta pensar comigo, você que está lendo: sem perceber, sem ser de forma necessariamente direta, você está com uma arma apontada para você todos os dias, só que em vez de disparar uma bala, ela atira discursos como “Se você errar, você valida o discurso de que todos gays são pessoas péssimas, pois além de ser gay, você ainda comete isso? O melhor filho, aluno, colega de trabalho – você não pode ter defeito. Onde mora o endereço que diz que eu sou diferente? 

Quando eu participei, a convite do meu amado amigo Christian Presa do “Te contei essa história?”, eu disse uma frase que também me marcou muito: “Somos uma roupa que vai pra dentro de uma máquina de lavar sem estar suja, e não temos o direito de parar e gritar ‘Oi, estou limpo e não preciso ser lavado’. E você acaba parando no bolo de roupas sujas, mesmo estando limpo, e acaba se misturando com tudo aquilo.”

Eu espero que a mão invisível da LGBTfobia, da qual eu já falei aqui uma vez, faça com que não precisemos mais provar que somos ou não LGBTs: um dia, não precisaremos ter mais a responsabilidade de responder pra alguém o que somos ou não, porque isso é intrínseco. Não teremos que responder pela curiosidade e nem pelo medo do que podem fazer conosco.

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