Conversei com um amigo queridíssimo no sábado passado (24). Alyson respondeu os stories do meu perfil no Instagram (que, fica o convite, estou à disposição para receber vocês por lá e para conversarmos) onde, depois de apresentar o tema do texto da semana passada aqui na coluna, questionei: “tem algum tema que vocês gostariam de ver na coluna? Uma pauta, uma sugestão…”. Ele tinha.
Me disse: “Amigo, aquela frase: Deus ama o pecador, mas não o pecado viraria uma pauta massa”. Não só viraria como virou. É o tema deste texto.
Depois de ler a sugestão dele, fiquei pensando de onde vinha o meu incômodo só de ler essa frase. E ela me gera incômodo exatamente por estar carregada de intenções que vêm de qualquer lugar que não o Reino dos Céus ou, oficialmente, a Palavra de Deus. Mas, além disso, ela gera incômodo por já ter sido me dita diversas vezes. Como um homem gay que, na adolescência, foi coroinha e esteve diretamente no ambiente religioso, de Altar à Sacristia, passando pelo confessionário.
Não há, nos 27 livros e 260 capítulos do Novo Testamento, um versículo que diga exatamente isso. Então, de onde vem essa ideologia?
A igreja e os fiéis podem seguir esse precedente religioso? Podem. Está tudo bem. Podem ir em frente. Mas quando se diz “Deus ama o pecador, mas condena o pecado”, automaticamente os nossos gêneros e sexualidades são postas em jogo: esse “pecado”, no contexto que é utilizado para virar ferramenta de preconceito, equivale à orientação sexual ou identidade de gênero de cada um de nós. Então quer dizer que, nessa concepção, quem nós somos ou quem amamos e escolhemos nos relacionar é um pecado? Com base em qual ponto?
Essa frase é segregadora, ambígua, dicotômica, burra: não faz o menor sentido olhar para uma pessoa, querer acolhê-la na Igreja, mas dizer que “seu pecado fica lá fora”. E sabe porquê?
Esse discurso é controlador. Ele atende interesses de pessoas que estão focadas em construir uma base de poder sobre as demais, reduzindo o ser ao que se acredita. É um apagamento, é uma retirada da essência de ser quem é. Como se deixa do lado de fora quem nós somos para adentrar em um espaço guiado por um Deus que sequer disse essa frase?
Ah, e antes que falem que está na Bíblia que “O homem que se deitar com outro homem como se fosse uma mulher, ambos cometeram uma abominação, deverão morrer, e seu sangue cairá sobre eles”, Levítico 20:13 ficou no Velho Testamento.
Então mesmo depois que Jesus veio, pregou o Novo Testamento, deixou no passado este livro que já ficou para trás, o desapego não aconteceu? Deus enviou seu filho, Ele redimiu os pecados do mundo, mas daí o Antigo Testamento continuou sendo usado? Na mesma pegada de quando você toma um banho mas coloca de volta a roupa suja que acabou de tirar?
Foi Deus/Jesus que disse isso mesmo ou estão usando o Santo Nome Dele em vão (que, diga-se de passagem, é o que? isso mesmo: pecado de verdade mesmo) só para jogar nas costas das divindades um preconceito que é seu?
Se esse pessoal é honesto para gritar aos quatro ventos que Deus disse isso, seriam também tão honestos para assumir que, na real, esse é um pensamento controlador, abusivo, preconceituoso e que vai contra exatamente o que Deus disse? É de se pensar
Fiquem com Deus – mas, por favor, o Deus que fala mesmo, não o que é usado como munição para metralhar ódio por aí! ?
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