Que bom que você está aqui comigo, nesta coluna, mais uma vez! Só posso ficar ainda mais feliz. E para você que chega agora: bem-vindo(a). No texto da semana passada, eu disse que este daqui seria um complemento. Tentei fazer essa conexão pois acho que os temas são muito parecidos e, por isso, decidi estender o debate. Se ficou curioso(a), o texto da semana passada está aqui.
Eu acho engraçado quando alguém quer muito saber sobre minha sexualidade – ou a de qualquer outra pessoa. Não que seja um problema pra mim: sou um homem gay abertamente assumido (inclusive, vou falar sobre essa coisa do se assumir aqui na coluna mais pra frente), mas antigamente já foi. Até que uma pessoa LGBTQIA+ consiga transformar o desconforto de ser questionado sobre a própria sexualidade em algo mais natural leva tempo (e tudo bem caso alguém ainda não tenha conseguido, pois cada pessoa é uma jornada). Mas hoje, vivendo na realidade que vivo e esperando inspirar outras pessoas, o ponto central deste texto é: Por que a sexualidade das pessoas sempre acaba gerando fofocas?
Eu me pergunto isso pois, na maioria esmagadora das vezes, o interesse em saber se fulano é gay, se cicrana é lésbica, se aquele casal é bissexual ou “aquela pessoa ali” é transexual (e as aspas representam o tom de voz que geralmente aplicam, como uma dúvida, para saber “o que aquilo ali” é) é puramente uma curiosidade superficial. Não há algo prático, algo que você possa constatar que, sei lá, o interesse é genuíno para criar uma rede de apoio, para conversar sobre ou para estar ali do lado. É gigantesco o número de pessoas que realmente estão 100% nem aí para o que nós sentimos: o negócio é alimentar a rede de fofoca que gira em torno da vida de outra pessoa.
Eu sou de uma cidadezinha muito pequena. Meus pais ainda moram lá, diversos amigos(as) também e muita gente sabe onde é, mas para os que não sabem: Cidade Gaúcha, que fica a 145 km de Maringá, cidade onde vivo atualmente. Tempo atrás, em uma conversa bastante produtiva com amigos e amigas que moram por lá, chegamos exatamente neste ponto: qual é o interesse em saber se alguém é LGBTQIA+ ou não? De forma prática: essa informação vai para onde? Nas mãos de quem? Para atender qual objetivo?
Eu tenho uma opinião: Sabe quando você bebe uma Coca-Cola gelada no auge da sede? É essa a sensação que a fofoca sobre a sexualidade do outro gera: realização. Fofoca e só. Não tem nada prático a fazer com essa informação. Por isso, uma dica: sempre que sentir vontade, ou for bombardeado por alguém querendo causar um espetáculo ao falar: “descobri que fulano é LGBT!”, pense: saber disso muda o quê, especificamente? O que eu farei com essa informação? Porque tentar disseminar algo que pode ser delicado para alguém é do seu interesse?
É evidente que esse cenário não é para generalizar: abro até este espaço para agradecer as pessoas que realmente se interessam pela vida do outro, e não só por quem a pessoa se relaciona afetiva, sexual e emocionalmente. Existe uma diferença bastante perceptível em quem se interessa pela vida e história do outro(a) daqueles que só querem se informar para alimentar a rede de maldade que gira em torno da vida caótica que vivem.
A sexualidade ou a identidade de gênero só deve ser de interesse de outra pessoa caso possa fazer alguma diferença prática. Se não, não é da conta de ninguém. Ou não deveria ser.
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