Eu acredito que seria impossível começar este texto, que está cheio de perguntas, sem uma que é extremamente necessária: o papel de um(a) vereador(a) é garantir o pleno funcionamento da legislação em prol da sociedade ou fazer populismo barato e ter medo de grupos, sectários e repressores?
Como tudo o que costuma envolver a comunidade LGBTQIA+ vira polêmica (e a gente sabe bem o motivo), não poderia ser diferente com a votação pela criação do Conselho Municipal LGBTI+ em Maringá, pelo PL 16.058/2021, na manhã de hoje. Acompanhar a votação foi, para mim, um martírio. E me perguntar: “Maringá é a melhor cidade do Brasil para quem viver?” foi inevitável.
É evidente que, antes do dia de hoje, e de forma descarada, teve gente que se aproveitou da maneira mais baixa e mesquinha possível para surfar na onda do populismo. O vereador Rafael Roza (PROS) foi, de longe, o primeiro deles. Cris Lauer (PSC) e outras bundas que só esquentam as cadeiras da Câmara Municipal também. Homero Marchese (PROS), que nem poder de voto na Câmara tem mais – pois já virou deputado, mas parece que não entendeu isso e quer continuar legislando como vereador em Maringá – seguiu os mesmos passos.
Mas eu quero chamar a atenção para uma publicação específica, e que viralizou bastante entre os “conservadores, a favor da família e seguidores de Deus”, feita pelo vereador Rafael Roza:
Quando você vê alguém defendendo, sob a justificativa de que educação sexual nas escolas é “implantar a ideologia de gênero”, desconfie: não querer que crianças e adolescentes sejam informados, de maneira correta e coerente, respeitosa e pedagógica, sobre como identificar abusos interessa a quem? Falar sobre identidade de gênero é importante não só para o autoconhecimento, mas o primeiro passo ao combate contra a violência sexual. O silêncio, em casos de abuso, só é do interesse do abusador. Isso que estou comentando só sobre esta parcela da publicação, que é recheada de outras mentiras.
Qual é o verdadeiro papel de uma pessoa que gasta tempo e energia – e exatos R$ 7.287,66 de salário líquido, pago por TODOS os cidadãos – tentando convencer uma multidão que, algo que deveria ser criado para trazer benefícios para uma parcela da comunidade é ruim? Basicamente, ele está mostrando ter algum desvio de caráter, já que foi preciso resgatar argumentos para tentar fundamentar uma base de pessoas que também vá contra a criação de algo que, no fundo ele sabe, é benéfico, só está assinando o atestado de desumanidade. Não existe outra explicação. Essas pessoas sabem que são pessoas ruins. Elas se conhecem.
A construção de popularidade em cima de críticas que não levam a lugar nenhum e só reforçam um senso comum é o mais alto nível de populismo barato, que serve para vermos o que aconteceu hoje: “órgãos” e organismos da sociedade civil organizada chegam, com pressão, e fazem tremer as pernas de gente que está dentro de uma Casa de Leis e poderia trabalhar para todos. Com medo de não conseguirem responder a altura, cedem à pressão e ficam nesse jogo político ridículo. Vocês são pagos para serem vereadores(as), não para construir populismo barato.
O que é mais engraçado é que quem trabalha – mas trabalha de verdade – não tem tempo de ficar se preocupando em surfar na onda que meia dúzia de gado pingado surfa e que tem tempo de construir um post desonesto com informações mentirosas. Mas a história e o tempo cobram.
Maringá tem 58 conselhos: todos eles deliberativos. Mas a gente sabe bem o real motivo de quererem que especificamente o LGBTI+ não fosse. Do que tanto esse pessoal tem medo? Por que um órgão colegiado, autônomo e permanente, de caráter consultivo e propositivo para tratar das políticas públicas com objetivo na promoção da cidadania e na defesa dos direitos da população LGBT incomoda tanto? O conselho também atuaria para a construção de uma cidade mais segura e plural, mas parece que, para determinados vereadores(as), isso não interessa.
Por que tanto medo de um conselho LGBTI+ em Maringá? Por que tanta força em tentar provar que esse conselho não seria pertinente, forte e válido na cidade? Qual é o medo de que esse conselho fosse aprovado? Por que tantas pessoas não querem ele? A quem tanto interessa silenciar a comunidade LGBTIA+?
É no mínimo contraditório ver que o plenário, por exemplo, votou a favor do arquivamento das 20 emendas que haviam sido apresentadas ao projeto, mas o mesmo plenário não aprovou a criação do Conselho. Como bem ressaltou a vereadora Professora Ana Lúcia (PDT): “se propuseram emendas, porque estão querendo arquivar agora? Então quer dizer que todo mundo sabia que as emendas eram mentirosas e sectárias? Qual a lógica?”
Então, você que chegou até aqui: consegue perceber que fica bastante claro que não há nada real e concreto que possa ser usado como argumento? Que o objetivo é só trazer para dentro de um órgão público o preconceito escancarado e o atendimento de interesses – eleitoreiros? – de entidades que ameaçam quem deveria enfrentá-los?
Termino com uma fala que me marcou bastante:
“O meu Cristo não discrimina ninguém. O meu Cristo não cobrava dizimo para espalhar a palavra. O meu Cristo era pobre”, que foi dita na sessão de hoje, pelo vereador Dr. Manoel (PL).
Aos vereadores que votaram favoravelmente: muito obrigado. Aos contrários: o nome de vocês estará marcado na história, pontuados pelo acovardamento e pelo mau uso do poder das mãos de cada um(a).
A nossa luta continua, como sempre!!
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