“Mesmo parecendo que não, a forma com a qual você se refere à corpos femininos e sua relação com eles diz muito sobre você”
Muita gente pensa que não, mas dá para ser muito preconceituoso mesmo fazendo parte da comunidade LGBTQIA+. Vou isolar uma parcela da comunidade para tratar especificamente aqui neste texto: os homens gays – sem distinção entre cisgênero ou trans, mas fazendo um adendo especial aos cisgêneros. Pode parecer que não, ou que ser gay te dá um aval completo para ser isento de preconceitos, mas pasmem: um homem gay pode ser tão machista quanto um homem heterossexual.
As relações entre pessoas precisam, na minha opinião, muito mais de cuidado e respeito do que de afeto – pelo menos quando elas começam a ser construídas. Quando a construção da base é consolidada e daí temos, por exemplo, o amor e o carinho, a gente precisa mesmo assim olhar com cuidado para como nos portamos frente ao outro(a). Mesmo que essa outra pessoa seja alguém com que se tenha amizade desde a infância.
Quando um homem gay dispara, ao defender a posição de gostar de outro homem, que “tem nojo de mulher”, “nossa, só de pensar em fazer sexo com outra mulher eu já tenho ânsia de vômito”, “eu já nasci de cesária para não passar nem perto de vagina, pois tenho até nojo”, ele não está dizendo que é gay.
Ele só está reafirmando uma cultura machista e misógina. Ser gay é, por definição, muitas coisas, mas a principal delas é se sentir atraído afetivamente por outros homens. O que foge disso precisa de atenção, e para falar dessa atração por pessoas do mesmo sexo, não é necessário rebaixar o sexo oposto. Respira: está tudo certo falar que é gay sem precisar reafirmar uma cultura machista. Na verdade, isso é o mínimo.
Aqui abro o diálogo para outro ponto de extrema importância: o corpo. Assim como ser gay não te dá o aval de falar o que pensa sem parecer preconceituoso, também não te dá o direito de tocar o corpo de outra pessoa, sobretudo suas amigas, sem o consentimento delas. Embarcado no discurso de que “não tem risco nenhum, eu sou gay, nem pegando nos seus peitos eu sinto atração”, novamente: quem te deu o direito de abusar desta forma de um corpo onde você não tem autorização para tocar? Vocês podem ter uma relação incrível de amizade, mas manipular o corpo de outro pessoa, sem autorização, caracteriza uma atitude que vai da falta de noção até o estupro.
“Nojo” você precisa ter de desigualdade social, da fome, da violência contra sua própria comunidade: não dos corpos pelos quais você não sente atração. Sempre que você pensar em discursar algo que, na sua cabeça, pareça misógino, economize palavras: guarde-as para perguntar e aprender cada dia um pouco mais.
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