As três chapas que se inscreveram para concorrer a reitoria e vice-reitoria da Universidade Estadual de Maringá (UEM) foram homologadas na tarde desta segunda-feira (2/7). O primeiro turno da eleição está marcado para 21 de agosto e a chapa vencedora deve tomar posse no dia 10 de outubro.
Uma mulher e dois homens buscam ocupar a reitoria da instituição. Ana Lúcia Rodrigues é candidata a reitora pela chapa “UEM em Frente”. Ela é do Departamento de Ciências Sociais e coordenadora do Observatório das Metrópoles. A candidata a vice é Lilian Denise Mai, professora do Departamento de Enfermagem.
O atual vice-reitor e professor do Departamento de Zootecnia, Julio César Damasceno, concorre a reitor pela chapa “Avançar e Inovar”. Ricardo Dias Silva, chefe do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, é o candidato a vice.
A chapa “UEM de Todos” é encabeçada pelo diretor do Centro de Ciências da Saúde (CCS), Roberto Kenji Nakamura Cuman. O diretor do Centro de Tecnologia, Leandro Vanalli, é o candidato a vice.
Para conhecer as propostas das chapas e a posição política dos candidatos, o Maringá Post encaminhou por e-mail as mesmas perguntas para os três candidatos a reitor. Foi combinado que as respostas seriam enviadas tão logo as candidaturas fossem homologadas, o que ocorreu seis dias após o envio.
Ana Lúcia e Júlio Damasceno, em suas respostas, não pouparam críticas ao governo do Estado e à falta de autonomia da universidade. Já Roberto Cuman não entra nesse mérito político.
Os dois defendem a implantação de uma política de cotas raciais e de mecanismos que combatam o assédio dentro da universidade. Mesmo fazendo parte da atual gestão, Damasceno concorda que atuação da UEM deveria ser melhor nestes casos. E Cuman diz que, se uma proposta for formalizada, “certamente” enviará para os conselhos.
Os três candidatos concordam que o regime de Tempo Integral e Dedicação Exclusiva (Tide) é de extrema importância para a UEM. Porém, há discordância sobre o projeto de lei sobre a regulamentação do Tide encaminhado pela governadora Cida Borghetti para a Assembleia Legislativa do Paraná.
Para Júlio Damasceno, “a decisão da governadora é um alento”. Na visão de Ana Lúcia Rodrigues “a questão do Tide foi mal conduzida”, já que a regulamentação do regime seria uma função dos Conselhos das Universidade. E Roberto Cuman afirma que gostaria “que todos os docentes da UEM integrassem nesse regime”.
Seguem, na íntegra e por ordem alfabética, as respostas de Ana Lúcia Rodrigues, Júlio César Damasceno e Roberto Cuman.
Ana Lúcia Rodrigues
Ana Lúcia Rodrigues é professora há 30 anos na Universidade Estadual de Maringá, no Departamento de Ciências Sociais (DCS). Atualmente coordena o Observatório das Metrópoles-Núcleo Região Metropolitana de Maringá, que compõe a rede nacional do INCT/CNPq. É Conselheira Estadual das Cidades, Professora dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Sociais e em Políticas Públicas e da graduação em Ciências Sociais, Arquitetura e Urbanismo e da UNATI. É membro do Conselho Editorial da EDUEM e da Revista e-Metrópoles.
Maringá Post – Por que a senhora desejar ser reitora da UEM?
Ana Lúcia Rodrigues – Para contribuir efetivamente como gestora, por uma UEM pública, democrática, autônoma, voltada aos interesses de todos os que compõem a comunidade acadêmica e dos que habitam no seu entorno.
Fazer ciência e tecnologia tem um propósito: melhorar a vida das pessoas, disseminando o conhecimento produzido e acumulado pela humanidade e buscando respostas às novas demandas, de modo a contribuir com a construção de uma sociedade fraterna e solidária.
Eu coloquei meu nome a disposição da comunidade universitária como candidata a reitora junto com a da professora Lilian Mai, na vice, porque nesse momento de ataques aos serviços públicos e aos direitos conquistados; momento de desmonte do Sistema de Ensino Superior e de avanço do projeto de mercantilização da vida das pessoas, é necessário que a universidade dê respostas às crises sociais que resultarão destas opções políticas, e para isso, precisa ampliar os espaços internos e as relações com a comunidade e com o Estado, rompendo o isolamento no qual se encontra.
MP – De 0 a 10, qual é a chance que a senhora acha que tem de ser eleita?
Ana – 10
MP – A senhora poderia apontar três dos principais problemas existentes na UEM e o que a senhora pretende fazer para resolvê-los?
Ana – Falta de transparência, centralização e isolamento.
Para resolver o primeiro problema, a reitoria deve prestar contas de todos os seus atos em contínua comunicação com sua comunidade interna e externa por meio de boletins, na sua TV e em órgãos de comunicação de Maringá e Região, além de audiências públicas com amplo chamado da sociedade. Retomar algumas publicações impressas como o Informativo da UEM, Jornal da UEM e Jornal do HU.
Para resolver o segundo problema pretendo democratizar o encaminhamento das discussões dos temas cruciais da universidade envolvendo a comunidade num modelo de participação de modo que as deliberações dos Conselhos (a Universidade tem uma gestão colegiada) reflitam, de fato, os anseios dessa comunidade. Reativar imediatamente após a posse o Conselho UEM-Comunidade.
Quanto ao último problema, pretendemos reconstruir as relações com o Governo Estadual e com as demais IEES, como o caminho para tirar a UEM do isolamento a que foi levada nos últimos quatro anos, destacando a importância e o protagonismo das universidades públicas paranaenses para o desenvolvimento regional.
MP – Qual avaliação que a senhora faz sobre a atual gestão? Onde ela errou? Onde acertou? O que a senhora teria feito, no casos dos erros, se fosse a reitora?
Ana – Ao apontar os principais problemas da universidade na resposta anterior já indicamos alguns dos erros da atual gestão. Avalio que a atual gestão falhou nos compromissos que assumiu em seu programa, pelo qual foi eleita, deixando de cumprir a maioria deles.
Errou ao não conduzir de maneira democrática e descentralizada a gestão dos vários problemas, entre eles as relações internas (vide o caso da questão das denuncias dos assédios).
Errou ao afirmar não ser política fazendo uma política míope frente ao poder executivo do governo paranaense, criando um conflito, por vezes artificial e que em nada contribuiu para encaminhar as reivindicações e cobrar as obrigações daquela instância de poder.
Aqui trata-se de colocar-se como o representante da instituição e relacionar-se com o poder constituído no Estado de forma respeitosa de modo a não prejudicar um relacionamento profissional e necessário com os poderes executivo e legislativo, mantendo autonomia sem fazer panfletagem e bravatas na internet ou destruindo caminhos por onde construir as soluções.
MP – A atual gestão da reitoria viveu momentos de tensão com o governo do Estado, na questão do Meta 4, em greves de servidores e dentro da própria universidade quando estudantes protestaram contra atuação da reitoria no caso em que professores do curso de História foram acusados de assédio. Como a senhora avalia a postura da reitoria nessas situações?
Ana – Essas questões ilustram o que vínhamos dizendo nas outras questões. A tensão com o governo do Estado se deu, sobretudo, pela forma equivocada de condução pela reitoria dos problemas relacionados à autonomia e questão salarial.
Os servidores, isso é histórico, sempre tiveram um firme posicionamento em relação à autonomia da Universidade frente aos poderes constituídos bem como também em relação à defesa de seus direitos.
O enfrentamento da reitoria na questão do Meta 4 não levou a nada, acabou por repassar todos os dados e informações para a submissão da UEM ao sistema de controle de pessoal do poder executivo paranaense e “foi salvo pelo gongo”, pois, o STF reafirmou a autonomia da UEM em processo antigo que se arrasta desde da década de 90, quando uma liminar favorável a UEM foi prolatada.
Não fosse isso, as bravatas da atual gestão não teriam nenhum efeito positivo frente aos ataques constantes e cada vez mais fortes do governo neoliberal, privatista, instalado no Palácio Iguaçu. A UEM hoje está, literalmente, submetida aos ditames do governo estadual, a reitoria não age com a autonomia que a Constituição confere à Universidade.
No que se refere à questão dos abusos denunciados e aos protestos justos dos alunos, a reitoria perdeu uma grande chance de dialogar com a comunidade e colocar o problema numa discussão aberta, num processo pedagógico que incluía o respeito às instâncias de apuração e definição de punições.
Uma Comissão que se debruçou sobre os problemas e que foi contrariada com a decisão isolada da reitoria, contra todas as evidências apontadas.
Isso demonstra o distanciamento da reitoria com sua comunidade, demonstra a não valorização desse problema gravíssimo que se refere à violência dos casos de assédio apurados, cuja punição a administração minimizou, o que pode desestimular outras mulheres de encaminhar denúncias. Demonstra, portanto, seu isolamento político na comunidade, tanto interna como externa.
MP – A discussão sobre as cotas raciais tem avançado em movimentos sociais dentro da universidade. Se for eleita, a senhora pretende protocolar o pedido de implantação das cotas raciais nos órgãos deliberativos da UEM?
Ana – Sim, nossa gestão fará todos os esforços para que os órgãos colegiados da UEM aprovem esse mecanismo de ingresso para uma população que sempre foi discriminada. Não há como fazer de conta que o problema não existe. Nossa coirmã, a UEL, resolveu essa questão há 13 anos.
MP – Relatório divulgado pelo reitor no ano passado apontou que a UEM precisa de R$ 45,3 milhões para concluir as 31 obras inacabadas. Se eleita, o que a senhora pretende fazer para concluir as obras?
Ana – Buscar os recursos em todas as instâncias, principalmente junto ao governo estadual e federal. Recursos já foram disponibilizados para algumas dessas obras, como por exemplo a Casa do Estudante, mas acabaram sendo aplicados em outros setores.
A conclusão dessas obras é fundamental para dar continuidade a vários programas e ações de modo a tornar a UEM mais próxima da sua comunidade interna e externa.
A estrutura construída da UEM deve ser condizente com a sua magnitude como instituição que forma quadros de excelência para atuar no mercado de trabalho especializado. Que produz conhecimento científico, que atua nas comunidades onde se insere no campus sede e em todos os campus regionais.
MP – A governadora Cida Borghetti encaminhou para a Assembleia Legislativa o projeto que regulamenta o Tide. Em 2016 eram 1.659 professores da UEM com Tide e 73 casos suspeitos de terem violado as normas que regulamentam o regime. Na sua opinião, é um número excessivo de professores com Tide? A universidade fiscaliza adequadamente o cumprimento das condições impostas pelo regime?
Ana – Essa questão do Tide foi mal conduzida. Há uma lei em vigor que define a carreira docente e seus regimes de trabalho onde está cristalino que Tempo Integral e Dedicação Exclusiva é um regime de trabalho, a regulamentação é função dos Conselhos da Universidade.
Essa falsa polêmica foi levantada por um parecer do Tribunal de Contas do Estado (órgão assessor da Assembleia Legislativa) que foi abraçado pelo Executivo com o interesse deste de diminuir seus gastos com o Ensino Superior, dentro de sua visão neoliberal e privatista das funções que são fundamentalmente do Estado.
Não há excesso de professores neste regime, até porque, o ideal é que todos se dedicassem exclusivamente à instituição, desenvolvessem suas atividades de ensino e pesquisa, disponibilizando o fruto de suas experiências e estudos à sociedade em programas de extensão, necessários exatamente para completar a missão para qual foi constituída.
Pelos números que vocês mencionam na pergunta, não serão os apenas 4,4% de suspeitos de não cumprirem suas obrigações contratuais que vão diminuir ou desmerecer esse regime que é fundamental para a universidade cumprir sua função junto à sociedade.
Júlio César Damasceno
Júlio César Damasceno é vice-reitor da UEM na atual gestão (2014 e 2018), diretor (2012-2014) e diretor adjunto (2008-2012) do Centro de Ciências Agrárias. Também ocupou a chefia do Departamento de Zootecnia da UEM e coordenou a Fazenda Experimental da UEM (1996-1997). Ingressou na carreira docente na UEM em 1993 e atualmente é Professor Associado C do Departamento de Zootecnia – DZO, membro do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – PPZ e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias – PAG.
MP – Por que o senhor deseja ser reitor da UEM?
Júlio – Me disponho a exercer a função de reitor da Universidade Estadual de Maringá com o firme propósito de fazer cumprir o que se estabelece nas leis federais, estaduais e resoluções internas da UEM, de maneira a garantir que esta instituição cumpra com o seu papel no desenvolvimento humano, cultural, social e econômico.
Isto significa a defesa incondicional da UEM como universidade que pratica de forma indissociável, o ensino, a pesquisa e a extensão, o que a torna uma instituição de excelência, reconhecida internacionalmente nas mais diversas áreas do conhecimento.
Ao longo da minha vida acadêmica, iniciada como estudante de graduação em Zootecnia da UEM, tive a oportunidade de exercer varias funções no campo do ensino, da pesquisa, da extensão e atividades administrativas, além da experiência internacional.
A função mais recente, como vice reitor, me proporcionou crescimento e amplo conhecimento do sistema de ensino superior do Paraná, pois participei de uma gestão que enfrentou bravamente ataques à autonomia da UEM, cortes orçamentários, não reposição de servidores e tentativa de desmonte da universidade.
Por acreditar que na companhia de meu candidato a vice reitor na chapa Avançar e Inovar, bem como no apoio de toda a comunidade universitária e fora dela, poderemos criar as condições necessárias para resolver os problemas de reposição do quadro de servidores, da conclusão das obras e orçamentários para que a UEM se consolide como uma das melhores universidades brasileiras.
MP – De 0 a 10, qual é a chance que o senhor acha que tem de ser eleito?
Júlio – É difícil fazer previsões num pleito eleitoral. Respeitamos todos os candidatos, mas estamos confiantes que a maioria da comunidade universitária abraçará nossas propostas e virá conosco.
Ressalto o bom trabalho realizado pela atual gestão que se notabilizou pela defesa incondicional da universidade e de sua autonomia, pelo constante diálogo com seus servidores, pela transparência, captação de recursos externos e melhorias na infra-estrutura. Além da elaboração de um projeto com participação da comunidade, debatido por especialistas comprometidos com a eficiência.
MP – O senhor poderia apontar três dos principais problemas existentes na UEM e o que pretende fazer para resolvê-los?
Júlio – Dentre várias ações necessárias, consideramos as questões relativas ao quadro de servidores, à infraestrutura e orçamento como as mais impactantes, uma vez que incidem todas as demais ações da Universidade.
Todo avanço que se pretende no campo do ensino, da pesquisa, da extensão e da gestão depende de quadro de servidor, infraestrutura e orçamento financeiro suficientes. Destaco que a UEM é uma universidade ‘multicampi’, além de Maringá estamos em outros 6 municípios.
Isto implica em maior demanda de investimento por parte do governo do estado, pois além da infraestrutura, esta condição implica maior demanda de servidores técnicos e docentes, ampliação de unidades de gestão para dar conta da maior complexidade dessa configuração e permitir maior autonomia aos campi.
Por esta razão temos que contar, cada vez mais, com o apoio efetivo das lideranças regionais à pauta de demandas da UEM. Nesse quesito houve claro progresso nas relações da UEM com as lideranças regionais, fato demonstrado em diversos momentos em que defendemos a UEM contra os ataques à sua autonomia, quando a gestão atual reuniu-se diversas vezes com lideranças politicas, empresariais, sindicais, religiosas e comunitárias, resultando em importante apoio.
Hoje a UEM conta com um déficit de, aproximadamente, 800 servidores técnicos e docentes que se aposentaram, faleceram ou se exoneraram, sem contar com a necessidade de expansão do quadro para atender os diversos cursos criados na última década.
Este cenário compromete profundamente a qualidade dos cursos de graduação e de pós graduação da UEM, não permitindo o avanço dos cursos mais recentes e fragilizando os mais antigos. Quanto aos cursos de pós graduação, essa situação impede que novos programas sejam criados e colocam em risco as pós consolidadas.
Há casos em que mais de 80% do quadro de professores de determinado programa de pós graduação da UEM se aposentará entre 3 a 5 anos. A qualidade dos serviços à comunidade também é muito prejudicada com essa situação.
Embora a atual gestão tenha avançado consideravelmente para a continuidade das obras da UEM, ainda há muita a se fazer. Houve enorme esforço institucional, financeiro e técnico, no sentido de viabilizar a continuidade das obras. Desde enorme trabalho jurídico, analisando-se contratos e pagamentos realizados, até avaliação técnica por parte de engenheiros e arquitetos dos procedimentos realizados, muitas horas de esforço foram despendidas.
Este trabalho precisa ser continuado em algumas obras ainda não inspecionadas. Quanto às obras já avaliadas e prontas para seguirem para os procedimentos licitatórios, realizaremos as ações políticas necessárias para viabilizar os recursos financeiros para a conclusão, que foram interrompidos na última gestão do governo do Estado.
Nos últimos anos, a UEM tem sofrido muito com os cortes orçamentários constantes para o seu custeio, num declínio de recursos ano a ano e, por outro lado, o aumento de custos de manutenção, algo natural em uma instituição que por natureza tem um crescimento vegetativo. Esse desencontro de valores tem implicado em inúmeros transtornos e algumas perdas para a universidade.
Apesar da importante captação de recursos de diversas fontes, será muito difícil projetar uma universidade de qualidade e que cumpra com o seu papel perante a sociedade se o governo do Estado não garantir recursos suficientes para manutenção e investimento na UEM.
Agiremos, junto às lideranças regionais, para que tenhamos um orçamento aprovado em lei condizente com o tamanho e a importância da UEM, que garanta a valorização do seu quadro de servidores, a assistência estudantil e a qualidade de seus serviços prestados à sociedade.
MP – Qual a avaliação que o senhor faz sobre a atual gestão? Onde ela errou? Onde acertou? O que o senhor teria feito, nos casos dos erros, se fosse o reitor?
Júlio – A nossa gestão assumiu com inúmeros problemas em outubro de 2014, sendo os mais evidentes para a comunidade, o Restaurante Universitário fechado e a situação grave da emergência do Hospital Universitário.
Não bastasse esses problemas gritantes, sofremos desde o início de 2015 com uma queda brutal nos recursos, em função da crise econômica do país, agravado pelo ajuste fiscal duro do governo Beto Richa e, principalmente, dos ataques do governo a nossa universidade em particular, cujo ápice foram as ações jurídicas para nos obrigar a entrar no programa Meta 4, que nos retirava a autonomia.
No limite, fizemos uma gestão de resistência e para isso tomamos várias decisões, que não agradavam a alguns, mas que estava em consonância com a comunidade universitária.
Essa foi a gestão que mais realizou assembleias gerais no Restaurante Universitário para se fundamentar suas decisões no real anseio da comunidade. Por ter um histórico de pautar as grandes deliberações em consonância com o desejo da comunidade, que entendemos ter mais acertado do que, talvez, cometido alguns equívocos de condução.
MP – A atual gestão da reitoria viveu momentos de tensão com o governo do Estado, na questão do Meta 4, em greves dos servidores, e dentro da própria universidade quando estudantes protestaram contra a atuação da reitoria no caso em que professores de história foram acusados de assédio. Como o senhor avalia a postura da reitoria nessas situações?
Júlio – As greves e paralisações ocorridas não foram contra a reitoria e sim devido a questões ligadas a previdência dos servidores públicos do Paraná e demandas salariais. A Reitoria sempre respeitou o movimento de acordo com a lei e sempre contou com a manutenção dos serviços essenciais e da completa reposição de aulas, sem prejuízos maiores para os alunos.
A atual Reitoria sempre defendeu que a implantação de um sistema externo de gestão de recursos humanos (META 4) fere frontalmente a autonomia universitária, conforme decisão do TJ-PR em 1992 e confirmada agora no ano de 2018 pelo Supremo Tribunal Federal, razão pela qual a reitoria da UEM, respaldado pelo Conselho Universitário, sempre resistiu a entrega dos dossiês para a entrada no Meta 4, levando isso ate as últimas instâncias.
A reitoria da UEM acolheu todas as denúncias, mesmo quando as direções dos Centros não as acolhiam, como foi esse caso específico, cujas apurações foram solicitadas pela reitoria; procedimentos investigativos foram abertos e procedeu-se a aplicação de pena, sujeita a analise e deliberação do Conselho de Administração (que até este momento está em análise dos recursos impetrados tanto pelos processados como pelas vítimas).
Ressalto que este assunto sempre foi tratado de maneira a preservar o contraditório e a ampla defesa dos envolvidos e a integridade moral e pessoal dos denunciantes. Após a conclusão desses processos no âmbito interno da UEM, fica claro que devemos nos aperfeiçoar na forma de acolhimento das vítimas e suas denúncias, na forma de condução das investigações e em ajustes das legislações internas que disciplinam esses temas.
Esse é um compromisso que já assumimos: aperfeiçoar os instrumentos de combate a todas as formas de assédio, com instrumentos legais e institucionais, para que a universidade seja um exemplo de combate a todas as formas de assédio.
MP – A discussão sobre as cotas raciais tem avançado em movimentos sociais dentro da universidade. Se for eleito, o senhor pretende protocolar o pedido de cotas raciais nos órgãos deliberativos da UEM?
Júlio – Sim, e não somente isso, pretendemos aprofundar as discussões e fazer gestões junto aos Conselhos Superiores para que essas propostas sejam efetivamente implementadas.
MP – Relatório divulgado pelo reitor no ano passado apontou que UEM precisa de R$ 45,3 milhões para concluir as 31 obras inacabadas. Se eleito, o que o senhor pretende fazer para concluir as obras?
Júlio – Esta gestão recebeu mais de 47 obras inacabadas e entregará para a próxima gestão 21 obras para conclusão, cujo volume de recursos necessários são de aproximadamente R$ 60 milhões, ou seja, conseguimos concluir várias obras apesar das inúmeras limitações jurídicas e orçamentárias.
Como já dito, tendo em vista nossa inserção regional, pretendemos utilizar de todos os instrumentos legítimos de pressão política para obter do governo os recursos para a finalização das obras inacabadas, mas também para a manutenção das existentes. Não basta fazer obras, temos que cuidar das edificações em uso e que sofrem desgaste natural por isso.
MP – A governadora Cida Borghetti encaminhou para a Assembleia Legislativa o projeto que regulamenta o Tide. Em 2016 eram 1.659 professores da UEM com Tide e 73 casos suspeitos de terem violado as normas que regulamentam o regime. Na sua opinião, é um número excessivo de professores com Tide? A universidade fiscaliza adequadamente o cumprimento das condições impostas pelo regime?
Júlio – O Tide, que sofreu questionamentos acerca de sua natureza e provocou um amplo debate no Estado nos últimos anos, ficou entendido por todos, principalmente pelo governo, como um regime de trabalho. Esse foi nosso entendimento e nossa prática na UEM que, diga-se de passagem, é uma instituição que cumpre fielmente as normas relativas à esse regime.
Defender o Tide é defender o DNA da universidade, pois sem ele não seria possível ter excelência no ensino, na pesquisa e na extensão. A decisão da governadora é um alento, pois, se aprovado, confere mais segurança ao docente para realizar suas atividades de ensino, pesquisa e extensão.
Acerca da fiscalização do trabalho docente, ela se realiza por vários modos, seja do ponto de vista interno, como os relatórios de atividades frequentes, as publicações, a participação em congresso, seja com apuração de denúncias envolvendo professores Tide, que possam estar em descumprimento com as normativas, seja pelos órgãos externos fiscalizadores. Recentemente o Ministério Público do Paraná iniciou algumas apurações nesse sentido e estamos no aguardo do desenrolar dessas apurações, que não significa que os investigados estão em desacordo com as normas do Tide.
Estamos muito tranquilos quanto a isso, pois sabemos, pelos nossos mecanismos de avaliação e controles internos, que a ampla maioria dos docentes em regime Tide cumprem corretamente com suas obrigações. Se por ventura algum docente cometeu um desvio, como já foi motivo de apuração interna diversas vezes, isso não pode e nem deve ser motivo de escandalização, pois se trata de uma parcela ínfima do conjunto de mais de 1000 docentes em regime Tide na UEM.
Ademais, é sempre bom lembrar que o Tide engloba qualificação docente, programas de pós graduação, publicações, iniciação cientifica, formação dos alunos em pós graduação e a internacionalização. Todo o professor em regime de dedicação exclusiva desenvolve projetos de pesquisa, extensão e atividades de ensino, e está sob a responsabilidade da chefia de Departamento e do Diretor de Centro. Anualmente, tem seu horário de trabalho aprovado em reunião de Departamento e do Conselho Interdepartamental, além de produzir relatórios e publicações fruto dos projetos realizados.
Roberto Nakamura Cuman
Roberto Kenji Nakamura Cuman é diretor do Centro de Ciências da Saúde e professor dos programas de pós-graduação stricto sensu em Ciências Farmacêuticas e Ciências da Saúde. É representante da UEM no Conselho de Saúde de Maringá e responsável por convênios nacionais e internacionais.
Professor associado do Departamento de Farmacologia e Terapêutica da UEM desde 1987, Cuman foi representante do Departamento de Farmácia no COU, diretor do curso de Farmácia, chefe do Departamento de Farmácia e Farmacologia, Chefe e Chefe Adjunto do Departamento de Farmacologia e Terapêutica.
Maringá Post – Por que o senhor deseja ser reitor da UEM?
Roberto Cuman – Eu construí a minha carreira exercendo atividades de ensino de graduação e pós-graduação, pesquisa, extensão e administrativa durante 32 anos na instituição, adquirindo competência e experiência que me tornam um aspirante natural à reitoria. Considero que posso contribuir ainda mais com a UEM para que ela consolide o seu status de uma das mais importantes universidades do país.
MP – De 0 a 10, qual é a chance que o senhor acha que tem de ser eleito?
Roberto – As chances são muito boas, considerando as nossas propostas e o anseio da comunidade universitária por mudanças.
MP – O senhor poderia apontar três dos principais problemas existentes na UEM e o que o senhor pretende fazer para resolvê-los?
Roberto – Má gestão de recursos humanos, onde faltou a valorização e o respeito com as pessoas que integram a comunidade universitária. Más condições de infraestrutura e de trabalho para a comunidade acadêmica e falta de apoio ao ensino de graduação e para a assistência estudantil.
Para resolvê-los, assumimos o compromisso de buscar caminhos juntamente com a comunidade acadêmica, objetivando a otimização na utilização dos recursos através da negociação, do diálogo, da transparência e do respeito às diretrizes dos Conselhos Superiores da universidade.
MP – Qual a avaliação que o senhor faz sobre a atual gestão? Onde ela errou? Onde ela acertou? O que o senhor teria feito, no caso dos erros, se fosse o reitor?
Roberto – A gestão atual foi centralizadora, onde não houve discussões e a participação adequada dos Conselhos Superiores nas decisões, o que a impediu de resolver os principais problemas da instituição. Nós teríamos feito uma gestão participativa, onde a comunidade acadêmica e os Conselhos seriam protagonistas no destino da instituição.
MP – A atual gestão da reitoria viveu momentos de tensão com o governo do Estado, na questão do Meta 4, em greves dos servidores, e dentro da própria universidade quando estudantes protestaram contra a atuação da reitoria no caso em que professores de História foram acusados de assédio. Como o senhor avalia a postura da reitoria nessas situações?
Roberto – O reitor, que é o gestor da instituição, tem as suas atribuições e competências definidas no estatuto e no regimento da universidade e as suas decisões podem ser contestadas democraticamente pela comunidade.
MP – A discussão sobre as cotas raciais tem avançado em movimentos sociais dentro da universidade. Se for eleito, o senhor pretende protocolar o pedido de cotas raciais nos órgãos deliberativos da UEM?
Roberto – Se as discussões se transformarem em propostas eu certamente as encaminharei aos conselhos para que sejam avaliadas e deliberadas.
MP – Relatório divulgado pelo reitor no ano passado apontou que a UEM precisava de R$ 45,3 milhões para concluir as 31 obras inacabadas. Se eleito, o que o senhor pretende fazer para concluir as obras?
Roberto – A nossa gestão buscará os recursos necessários em todos os níveis: federais, estaduais, municipais e outros, para finalizar as obras.
MP – A governadora Cida Borghetti encaminhou para a Assembleia Legislativa o projeto que regulamenta o Tide. Em 2016 eram 1.659 professores da UEM com Tide e 73 casos suspeitos de terem violado as normas que regulamentam o regime. Na sua opinião, é um número excessivo de professores com Tide? A universidade fiscaliza adequadamente o cumprimento das condições impostas pelo regime?
Roberto – O Tide é regime de trabalho e eu gostaria que todos os docentes da UEM integrassem esse regime, que garante a excelência da instituição. Nós consideramos que a universidade possui um sistema criterioso para a concessão e o acompanhamento da atividades dos docentes Tide.
- A reportagem foi atualizada na quarta-feira (4/7) às 17h45 com as respostas do candidato a reitor da UEM, Roberto Cuman, pela chapa “UEM de Todos”.
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