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O setor da construção civil é um dos pilares da economia brasileira. Em Maringá e no noroeste do Paraná, não é diferente. Empreendimentos se multiplicam, há obras por todos os lados, e a demanda por mão de obra qualificada supera a oferta. Mas por trás desse crescimento acelerado há desafios: terrenos cada vez mais caros, imóveis antigos desocupados e a dificuldade de atrair jovens para o canteiro de obras. Esses e outros temas foram discutidos em uma entrevista exclusiva com Rogério Yabiku, presidente do Sinduscon Paraná Noroeste, no podcast Ponto a Ponto, uma produção do Maringá Post em parceria com o V Mark Produtora e Estúdio.
Com atuação em 126 municípios da região, o Sinduscom representa não apenas o setor empresarial da construção civil, mas funciona como um canal direto com órgãos públicos e entidades nacionais. “A gente está presente na FIEP, na CBIC e em diversas comissões que discutem temas fundamentais, como a reforma tributária e a habitação de interesse social”, explicou Yabiku.
Mercado aquecido, mesmo com Selic alta
O momento atual é de cautela para parte do setor, mas Rogério vê oportunidades onde muitos enxergam obstáculos. Com a taxa Selic em 15%, o financiamento da casa própria fica mais caro e desestimula alguns compradores. Ainda assim, o presidente do Sinduscon acredita que essa pode ser a hora certa para negociar.
“Agora é quando se pode escolher o imóvel com calma, negociar melhor a entrada, o valor das parcelas. E, no futuro, fazer a portabilidade do financiamento ou renegociar com juros mais baixos”, afirmou.
A lógica é clara: quando os juros caem, a demanda sobe e o poder de negociação diminui. Para ele, quem puder investir agora terá mais controle sobre as condições do contrato e poderá se beneficiar no longo prazo.
Terrenos caros e a dificuldade de construir moradias acessíveis
Apesar do otimismo com as possibilidades de negociação no mercado, Yabiku reconhece que a valorização dos terrenos em Maringá tem dificultado a expansão da habitação de interesse social. “Todo mundo sabe que o terreno em Maringá é caro. Isso valoriza a cidade, mas também torna difícil viabilizar imóveis populares”, disse.
A saída tem sido a atuação conjunta entre o Sinduscon, a Prefeitura e outras entidades. “A gente busca áreas bem localizadas que possam receber moradias com custo acessível, beneficiando as famílias e também o planejamento urbano da cidade.”
Maringá se destaca nacionalmente como uma das melhores cidades para viver, atrai estudantes, novos moradores e investidores. Mas esse prestígio também gera pressão sobre os preços dos imóveis, tanto para quem quer comprar quanto para quem quer construir.
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Imóveis desocupados no centro e a necessidade de políticas de retrofit
Em paralelo ao avanço de novos empreendimentos, a cidade convive com um número significativo de imóveis antigos e desocupados, especialmente em áreas centrais. Para Yabiku, trata-se de um momento de transição no pós-pandemia, agravado pelas mudanças no perfil do comércio, impulsionadas pelo crescimento do e-commerce.
“Imóveis fechados são um problema que pode ser enfrentado com incentivos à reforma. É preciso pensar em políticas públicas que estimulem os proprietários a revitalizarem esses espaços, como isenção parcial de IPTU ou linhas de crédito específicas.”
Ele citou como exemplo regiões da Avenida Tiradentes e da Avenida Brasil, que foram pontos nobres da cidade no passado, mas que hoje têm imóveis deteriorados e desvalorizados.
Setor sofre com escassez de mão de obra
Um dos maiores gargalos da construção civil hoje é a falta de profissionais qualificados. Apesar do aquecimento do setor, empresas enfrentam dificuldade para preencher vagas. “Durante a pandemia, o setor parou pouco. Em Maringá, as obras ficaram suspensas só por 15 dias. Isso fez com que o crescimento fosse contínuo, mas agora falta gente para trabalhar.”
Yabiku avalia que o problema está espalhado por todos os setores da economia, mas é especialmente visível na construção. E aponta dois caminhos: industrialização dos processos e qualificação da mão de obra.
“Já existem máquinas para aplicação de reboco e assentamento de piso que podem acelerar as obras. E isso não tira emprego, mas muda o perfil da vaga. Vamos precisar de profissionais treinados para operar essas tecnologias.”
Ele destaca também a crescente presença feminina nos canteiros de obra, sobretudo nas etapas de acabamento, pela atenção aos detalhes e qualidade no trabalho.
Tokenização de imóveis: um modelo em fase de amadurecimento
Outro tema abordado no podcast foi a tokenização de imóveis, modelo que permite a compra de frações de um imóvel por meio de blockchain. Embora o tema ainda gere desconfiança entre investidores tradicionais, o Sinduscon tem promovido debates sobre o assunto e acompanhado sua evolução em outras cidades.
“A tokenização está começando a se difundir, mas ainda carece de segurança jurídica e da aceitação por parte das instituições financeiras. É uma forma de democratizar o investimento, mas ainda está em construção”, ponderou.
Prêmio Sinduscon: reconhecimento e consultoria para as construtoras
Encerrando a entrevista, Rogério Yabiku destacou a importância do Prêmio Sinduscon, que chega à 12ª edição em 2025. Mais do que uma celebração, o prêmio funciona como uma auditoria e consultoria gratuita para as empresas participantes.
Com 16 categorias e 26 obras já inscritas, a premiação avalia desde a arquitetura até práticas sustentáveis e processos de gestão. As auditorias são feitas por profissionais do Senai, Sebrae, Sesi e Seconci, garantindo independência e credibilidade.
“É um ciclo de desenvolvimento. As empresas recebem um relatório com sugestões de melhoria, se fortalecem e qualificam ainda mais o setor em Maringá”, afirmou.
A cerimônia de entrega está marcada para o dia 24 de outubro e faz parte de um calendário que inclui palestras, cafés com autoridades e encontros técnicos.
Podcast completo disponível
A entrevista com Rogério Yabiku está disponível no canal do Maringá Post no YouTube. O episódio faz parte do podcast Ponto a Ponto, comandado pelo jornalista Ronaldo Nezo, com produção da V Mark Produtora e Estúdio.
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