Tem uma roupa favorita? Pelo bem do ambiente e da sua cabeça, você devia usá-la o máximo possível!

Não é apenas uma questão de se sentir bem consigo mesmo – usar bastante as suas roupas também é bom para o planeta.

  • Por Vitor Germano

    Todo mundo tem uma. Aquela calça unicamente confortável. Aquela camiseta com uma frase ou ilustração que sempre põe um sorriso no seu rosto. Ou ainda uma roupa na qual você se sente mais bonito(a).

    E por mais que a indústria da moda tente criar a necessidade artificial de sempre ter os mais novos estilos, a verdade é que muitos de nós temos aquelas roupas que temos há anos, que escolhemos sempre que podemos. Aquela roupa que quando fica estragada demais pra sair, vira roupa de ficar em casa, e quando fica feia demais pra isso, vira pijama.

    Por que certas peças de roupa têm significado pra nós? Bom, em primeiro lugar, roupas afetivas normalmente são roupas que duram — E isso não depende do custo. Uma pesquisa da Universidade de Leeds apontou que não existe correlação entre o preço de uma peça de vestuário e sua durabilidade física.

    “O que queríamos desafiar é o mito subjacente de que as roupas mais baratas serão de má qualidade e não durarão tanto e que, portanto, deveríamos dizer aos consumidores para gastarem mais dinheiro” disse Mark Sumner, professor de Moda na Universidade de Leeds.

    Mas a qualidade e durabilidade físicas passam longe de ser o único fator. Igualmente importante é a durabilidade emocional, isto é, a ligação que construímos com as nossas roupas, explica Kate Morris, estudante de doutorado sob Sumner. “Não nos apaixonamos por certas roupas apenas pela sua aparência, mas também pela forma como nos fazem sentir”

    “As pessoas guardam as roupas e elas se tornam suas roupas favoritas porque as usaram em um determinado evento”, diz Sumner. “Elas foram a festivais com elas, ou saíram de férias, ou talvez tenham conhecido seu verdadeiro amor”

    O investimento emocional nas roupas também acontece no sentido contrário: A equipe de Sumner conta que uma mulher que participou da pesquisa passou por um divórcio complicado, quando a papelada estava concluída, ela pegou todas as roupas que associava ao ex, e jogou fora. Um recomeço quase total do guarda-roupa.

    “O que acha que você fica bem não é decisão individual”, diz Sumner. “Se você ouvir de outras pessoas que fica bem de vestido, aquela peça reforça sua autoestima. Já observei inúmeras situações em que você compra alguma coisa, você veste, e ouve ‘ah, ficou um pouco estranho’. E a peça acaba indo pro fundo do guarda-roupa.”

    Em 2018, a jornalista austríaca Anna-Maria Bauer estava de férias na Nova Zelândia. Era sua primeira viagem de longa distância, e nos últimos dias da viagem, Bauer estava sozinha em um AirBnB no subúrbio de Auckland, nervosa com o vôo. A senhora que administrava sua hospedagem recomendou uma rua próxima, e Bauer foi até lá para se distrair. Lá, ela encontrou uma pequena loja de roupas.

    “Assim que entrei, me senti em casa,” disse ela à BBC. “O proprietário foi acolhedor.” Ele recomendou um par de calças de pernas largas, muito diferentes dos jeans coladinhos que ela normalmente usava. “O preço era 70 dólares australianos. Pensei: Será mesmo?” ela relembra. “Então outro cliente da loja disse que ficavam bem em mim. Tive uma onda de sentimentos.”

    Hoje as calças azul-petróleo são absolutamente as favoritas de Bauer. “Eu as lavo e uso novamente,” diz Bauer. “Estão em mim, na cadeira, ou no varal. Nunca no guarda-roupa.” E a memória da compra está viva. “Eu me senti segura na loja.” disse Bauer. “Fica comigo a sensação de segurança.”

    De fato, sua roupa favorita pode agir como uma espécie de ‘abraço portátil’, evocando memórias de bons momentos e trazendo conforto em momentos difíceis.

    Mas não é só pra se sentir bem: Usar bastante as suas roupas também é bom para o planeta.

    Uma pesquisa de um grupo ambientalista, chamado WRAP, estima que um quarto das roupas nos guarda-roupas do Reino Unido não são usadas há um ano, e que estes itens esquecidos têm um valor somado de cerca de 1,6 Bilhões de Libras (~10 Bilhões de reais). Estas são roupas que, de acordo com a equipe de Sumner, “emocionalmente já foram descartadas”.

    Como você não usa as roupas, toda a água, energia, produtos químicos, e trabalho humano usados na produção das peças são desperdiçados. Do ponto de vista da sustentabilidade é um desastre.

    Embora os pesquisadores digam ser quase impossível prever se uma roupa será sua favorita antes de comprá-la, é possível aumentar as chances. A ideia é prestar atenção na durabilidade física e emocional ao mesmo tempo. Só podemos criar uma ligação emocional com uma roupa se ela ficar conosco tempo o suficiente para nos apegarmos.

    “A conexão emocional aumenta com o tempo”, diz Sumner. “Você precisa passar tempo com a roupa, e ela precisa permanecer funcional.” As tendências da moda sendo rápidas, você pode acabar se livrando de ou esquecendo itens antes de ter tempo suficiente para se apegar a eles.

    Foto: Pixabay

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