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O ano de 2023 trouxe desafios significativos para a indústria de reciclagem de plásticos no Brasil. Essa percepção do mercado foi comprovada pelo estudo anual sobre a reciclagem mecânica do material, encomendado pelo Movimento Plástico Transforma, iniciativa do PICPlast, uma parceria entre a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (ABIPLAST), representante do setor de transformados plásticos e reciclagem, e a Braskem, maior petroquímica das Américas.
O estudo é realizado anualmente, desde 2018, pela MaxiQuim, empresa de avaliação de negócios na indústria química com foco em análise de mercados e competitividade, e tem como objetivo mensurar o tamanho da indústria de reciclagem de plásticos no Brasil, acompanhando a evolução anual e os desafios do setor.
“Em 2023, a indústria de reciclagem enfrentou um momento desafiador, com variações na contramão da tendência de crescimento apresentada nos últimos anos. Esse cenário pode ser explicado em razão da queda nos preços das commodities petroquímicas, o que tornou as resinas de primeiro uso mais atraentes frente à matéria-prima reciclada para os transformadores de plásticos, tanto no mercado nacional quanto internacional”, explica Maurício Jaroski, diretor de química sustentável e reciclagem da MaxiQuim.
Manutenção dos empregos
Analisando os números das empresas recicladoras é importante destacar dois aspectos. O faturamento bruto delas cresceu 26% desde 2018, quando o estudo começou a ser realizado, e foram mantidos os empregos no setor com uma pequena oscilação negativa de 0,3%, apesar de o número de empresas variado em 3,8% para baixo nesses seis anos avaliados.
“Essa manutenção dos empregos pode ser explicada pois, muitas empresas buscaram garantir o fornecimento de matéria-prima, se envolvendo diretamente nas etapas de coleta e triagem. Esse movimento ajudou a manter os empregos, mesmo com a redução no número de empresas”, pontua Jaroski. “É importante ressaltar também que grande parte da mão de obra na indústria de reciclagem ainda está concentrada nas atividades manuais de coleta e triagem, e não tanto na operação industrial em si”.
Ainda vale destacar que em 2023, entraram em operação diversas expansões de capacidade instalada nas indústrias de reciclagem, oriundas de investimentos efetuados em anos anteriores. Tais crescimentos se sobrepuseram ao fechamento de algumas empresas ao longo do ano, contribuindo para o incremento da capacidade instalada em 3,5% em comparação com 2022.
Volumes de resíduos plásticos consumidos no Brasil
Em 2023, foram consumidas 1,4 milhão de toneladas de resíduos plásticos na reciclagem, sendo que 984 mil toneladas são oriundas de embalagens. As outras 467 mil toneladas de plástico originam-se de resíduo pós-industrial (335 toneladas), como sobras dos processos das indústrias petroquímica e de transformação de plásticos, bem como outros tipos de resíduos pós-consumo, como peças plásticas de bens de consumo duráveis (87 toneladas) e descartáveis (43 toneladas).
Do total de resíduos consumidos referente às embalagens (68%), 47% dizem respeito às embalagens rígidas e 21% em relação às flexíveis, conforme gráfico abaixo.
Origem dos resíduos
A distribuição entre as fontes de resíduos para os recicladores não sofreu grandes variações em 2023, com exceção das cooperativas que perderam força de trabalho, em função da desvalorização dos resíduos e consequente baixa remuneração dos seus cooperados, apresentando queda no volume de venda aos recicladores. Das 1,4 milhão de toneladas de resíduos plásticos consumidas destacam-se as 30% que chegam às recicladoras por meio dos sucateiros, 19% pelos beneficiadores, 13% por empresas de gestão de resíduos e 11% pelas cooperativas.
Produção de Resina Reciclada
Desde o início da mensuração do índice de reciclagem mecânica dos plásticos (2018), houve um aumento significativo de 23,9% na produção de resina pós-consumo. Nas mais de 939 mil de toneladas de resinas recicladas pós-consumo produzidas no ano passado, 41% foram de PET, seguidas por PEAD (21%), PP (17%) e PEBD/PELBD (14%).
Essas resinas recicladas se transformaram em produtos destinados às indústrias de alimentos e bebidas (16%); construção civil e infraestrutura (13%); higiene pessoal, cosméticos e limpeza doméstica (12%); utilidades domésticas (8%); automotivo (7%), entre outros.
“Devido a um ano de desafiadora valorização da resina reciclada, os segmentos de construção civil e infraestrutura, que tradicionalmente são segmentos de menor valor agregado, aumentaram seus volumes demandados de plástico PCR”, complementa Maurício.
Produção de resina reciclada pós-consumo por região
A região Sudeste continua a ser a principal responsável pela produção de resina PCR com 54,3% da produção, chegando a mais de 510 mil toneladas. Na sequência vem a região Sul com 257 mil toneladas. A região Nordeste, segue como a terceira potência com 110 mil toneladas produzidas. O Centro-Oeste registrou 39 mil toneladas e a região Norte com 12 mil toneladas produzidas.
Índice de reciclagem mecânica
O índice de reciclagem mecânica dos plásticos pós-consumo ficou em 20,6% no Brasil em 2023. Esse índice é calculado dividindo a quantidade de plástico pós-consumo reciclado pelo volume de plástico pós-consumo gerado. Já o índice de recuperação, que considera toda a quantidade de resíduo consumido sem excluir as perdas no processo, uma vez que para essas perdas é dada a disposição final ambientalmente adequada pela indústria da reciclagem, foi de 24,5% em 2023.
Outros dois índices importantes de serem destacados e que são muito relevantes para a indústria dizem respeito às embalagens: o índice de reciclagem mecânica das embalagens ficou em 24,3%, enquanto o de recuperação de embalagens ficou em 28,6%.
“Ao comparar os índices do ano passado com 2018, ano de início desse estudo, veremos que o índice geral teve uma queda 1,5 ponto percentual. Essa variação se deu principalmente porque a indústria perdeu força no crescimento dos volumes de plástico reciclado, em razão da desvalorização dos preços das resinas de primeiro uso, que ficam mais atrativas para a indústria de transformação, como já explicado acima. Além disso, também realizamos uma sofisticação na metodologia de cálculo de geração de resíduos plásticos que, a partir de 2023, passou a contabilizar todos os produtos plásticos consumidos nos últimos 10 anos e descartados no ano-base do estudo”, explica o especialista. “Resolvemos seguir o que já é feito na União Europeia, onde os plásticos de vida longa também são incorporados na geração. Em função disso, a UE ficou três anos sem divulgar seus índices de reciclagem. Por aqui, conseguimos adaptar nossos cálculos e fazer essa inclusão de um ano para o outro, trazendo mais robustez e sofisticação para esta apuração”, complementa.
Também em comparação com o primeiro ano de estudo (2018), o índice de embalagens teve um crescimento de 1,1 ponto percentual, o que reflete também os esforços contínuos da cadeia de embalagens, especialmente frente aos artigos plásticos de uso único. “O setor de embalagens segue se adaptando, e há um esforço evidente em garantir que o impacto seja menor”, finaliza o especialista.
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