TDAH e autismo: quais são as semelhanças e diferenças?

Apesar de suas diferenças de diagnóstico e de manifestação, os distúrbios compartilham algumas semelhanças.

  • O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e o transtorno do espectro autista (TEA) são condições do neurodesenvolvimento que podem atingir crianças e adolescentes. Dados da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA) mostram que em torno de 5% a 8% da população mundial tenha TDAH. Já o estudo “Retratos do Autismo no Brasil em 2023”, revela que 4 milhões de brasileiros tenham o diagnóstico do TEA.

    Apesar de suas diferenças de diagnóstico e de manifestação, os distúrbios compartilham algumas semelhanças. Ambos podem afetar significativamente a comunicação social, a capacidade de aprendizado e a adaptação comportamental.

    Por isso, no Dia Mundial de Conscientização do Autismo, lembrado em 2 de abril, o Pequeno Príncipe, maior e mais completo hospital pediátrico do país, ressalta a importância da identificação da manifestação dos sintomas para o diagnóstico e tratamento adequados e individualizados.

    Semelhanças entre TDAH e autismo

    Indivíduos com TDAH ou TEA podem encontrar desafios em manter a atenção em tarefas ou interações sociais por períodos prolongados. Além disso, pode-se observar padrões de comportamentos repetitivos ou de fixação em interesses específicos, embora as motivações possam variar.

    Outro ponto em comum é que as características podem mudar amplamente de indivíduo para indivíduo. “Essa sobreposição nos desafios de comunicação e atenção pode, às vezes, complicar o diagnóstico diferencial entre os dois transtornos. Por isso, a importância de uma avaliação detalhada e individualizada com um profissional especializado”, realça o neuropediatra Anderson Nitsche, do Hospital Pequeno Príncipe.

    Diferenças entre TDAH e autismo

    O TDAH é primariamente caracterizado por dificuldades na manutenção da atenção, impulsividade e hiperatividade. Além do impasse em concentrar-se por períodos prolongados, os indivíduos costumam agir sem pensar. E isso pode ser observado em todos os ambientes, impactando significativamente a vida social, acadêmica e profissional.

    Já o TEA é caracterizado por déficits nas interações sociais e na comunicação, bem como por padrões de comportamento, interesses e atividades restritos e repetitivos. Além disso, o TEA inclui uma gama de sintomas sensoriais, como hipersensibilidade ou hipossensibilidade a estímulos visuais, auditivos ou táteis, que não são características do TDAH.

    Diagnóstico

    Os diagnósticos são confirmados por meio de avaliações clínicas. Isso inclui entrevistas com pais ou cuidadores, observações comportamentais e uso de escalas e questionários padronizados. Tudo é realizado por uma equipe multidisciplinar, que reúne pediatras, neuropediatras, psiquiatras, psicólogos, fonoaudiólogos, pedagogos e terapeutas ocupacionais. O diagnóstico dos dois transtornos segue critérios detalhados no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5.ª edição (DSM-5), e na Classificação Internacional de Doenças, 11.ª edição (CID-11).

    Tratamento

    O tratamento é altamente individualizado e deve ser ajustado às necessidades que mudam ao longo do tempo. No TDAH, geralmente são combinados medicamentos que melhoram a atenção e controlam os impulsos, com terapias comportamentais e adaptações pedagógicas de acordo com as necessidades. Para o TEA, o tratamento envolve uma abordagem multidisciplinar que inclui terapias comportamentais, terapêuticas e educacionais, além de intervenções psicossociais para desenvolver e melhorar as habilidades. O suporte é estendido também à família da pessoa com TEA, visando a um melhor ajuste social e emocional.

    Como lidar e apoiar a pessoa com TDAH e/ou TEA?

    O neuropediatra Anderson Nitsche ensina como apoiar alguém com TDAH ou autismo. “Trata-se de um compromisso com o desenvolvimento e bem-estar da pessoa, proporcionando-lhe um ambiente que favoreça seu crescimento e aprendizado contínuos. Demanda paciência, compreensão e disposição para adaptar estratégias conforme necessário”, resume. Veja, abaixo, mais algumas dicas do especialista.

    – Promover um ambiente familiar estruturado: estabelecer uma rotina consistente e um espaço minimamente distrativo ajuda a gerenciar a ansiedade e favorece o foco em tarefas. A comunicação clara e direta, adaptada às necessidades individuais, também é essencial, especialmente para pessoas com TEA. Recursos visuais podem ser úteis.

     Criar um plano educacional individualizado (PEI) na escola: considerar as necessidades específicas do estudante é fundamental. Isso pode incluir ajustes como mais tempo para tarefas e acesso a instrução especializada. Criar um ambiente acolhedor e inclusivo promove a compreensão e aceitação entre todos os estudantes.

    – Facilitar a transição entre diferentes ambientes: discutir o que esperar e como agir em novas situações pode ajudar a minimizar a ansiedade associada a mudanças ou eventos desconhecidos. A participação em grupos de apoio ou atividades extracurriculares pode ser encorajada para facilitar a interação social em um contexto estruturado e positivo.

    – Realizar acessos e educação contínua: garantir que a pessoa com transtornos de neurodesenvolvimento tenha acesso às adaptações e recursos necessários em todos os contextos é muito importante. Além disso, é essencial para famílias e profissionais buscar constante educação e formação para melhor compreender e apoiar essas pessoas.

    Foto: Wynitow Butenas/Hospital Pequeno Príncipe

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