As dicas dos neurologistas para proteger sua memória

Ao envelhecer, a memória piora. No entanto, segundo o neurocientista Dr. Richard Restak, este declínio não é inevitável.

  • Por Vitor Germano

    Ao envelhecer, a memória piora. Isso é conhecimento comum. No entanto, de acordo com o neurocientista Dr. Richard Restak, autor de mais de vinte livros, alguns dos quais estão disponíveis em português, este declínio não é inevitável. Em seu livro mais recente, o ainda não traduzido “The Complete Guide to Memory: The Science of Strengthening Your Mind” Restak discute ferramentas para melhorar a memória, que vão além das típicas recomendações de dieta e hábitos de sono. “O objetivo do livro é superar os problemas cotidianos da memória”, disse Restak.

    O enfoque principal é a memória de trabalho, que está em algum lugar entre a memória de curto e longo prazo, e é ligada à inteligência. De acordo com Restak, este é o tipo de memória mais importante, e exercícios para fortalecê-la devem ser praticados diariamente. Exercitar a memória é o segredo para evitar problemas de memória futuros.

    De acordo com Restak no livro, o declínio da memória não é inevitável, mas consequência de dez “pecados”, ou “erros que podem levar a memórias distorcidas ou perdidas”. Sete destes haviam sido indicados pelo psicólogo e especialista na memória Daniel Lawrence — Pecados por omissão, como distração, e pecados por comissão, como memórias distorcidas. A estes, Restak adicionou três novos: Distorção tecnológica, distração tecnológica, e depressão.

    Preste atenção

    Alguns lapsos de memória são em verdade problemas de atenção. Por exemplo, esquecer o nome de alguém que conheceu em uma festa, como você interagiu com muitas pessoas na festa, pode ser que você só não tenha prestado atenção quando ouviu.

    Inatenção te impede de propriamente fixar a memória.

    Um truque sugerido por Restak, é visualizar coisas. Sejam elas nomes ou conceitos, associá-las com imagens.

    Encontre desafios regulares para sua memória

    Há muitos exercícios simples que se integram a seu cotidiano. Uma sugestão de Restak é, ao ir às compras, compor uma lista de compras — mas não imediatamente pegar a lista, seja ela no papel ou no celular, tentando fazer as compras com base na sua memória, pegando a lista apenas no final para conferir se algo está faltando.

    Outra sugestão é evitar o uso do GPS quando possível. Um pequeno estudo sugere que usuários frequentes de navegação por GPS mostraram declínio maior em memória espacial ao longo de três anos.

    Brincadeiras e jogos

    Jogos tradicionais como Xadrez e Paciência são ótimos para a memória, mas não são a única opção. Mas o mais recomendado por Restak é as vinte perguntas, uma brincadeira para duas pessoas, onde uma pensa em uma pessoa ou objeto, e a outra tem que adivinhar quem ou o que é em até vinte perguntas de sim ou não.

    Este jogo é simples e muito eficaz em trabalhar a memória, porque o jogador tem que manter todas as informações anteriores em mente para chegar à resposta certa.

    Para fazer sozinho, Restak sugere pegar um papel e caneta e criar uma lista, seja ela de celebridades e autores favoritos ou de figuras históricas, e então criar sub-listas, separando a lista original em categorias.

    O objetivo é não só manter informação em mente, mas também mexer com essa informação, organizando e trabalhando ela em sua mente.

    Leia mais obras de ficção

    Um dos primeiros sinais de problemas de memória, de acordo com Restak, é desistir da ficção. Diz ele: “Quando pessoas começam a ter dificuldades de memória, elas tendem a trocar para leituras de não-ficção”. Restak notou em anos tratando pacientes que leitura de ficção requer engajamento mais ativo com o texto “Você tem que lembrar na página 111 o que o personagem fez na página 3.”, ele disse.

    Cuidado com a tecnologia

    Dos três novos pecados da memória que Restak apontou, dois eram associados com a tecnologia. O primeiro é a distorção tecnológica. Armazenar tudo no celular/computador significa que “você não realmente sabe”, o que causa erosão em suas habilidades naturais. “Por que se concentrar e se esforçar em visualizar algo, quando a câmera do celular pode fazer isso por você?”, Restak escreveu.

    O outro pecado, a distração tecnológica, tem a ver com a tendência dela de te distrair do que você está fazendo. “Distração é o maior impedimento na fixação de memórias”, diz Restak. Hoje pessoas conferem seus e-mails enquanto assistem Netflix, conversam com amigos, ou até mesmo andam na rua. Essa falta de foco dificulta a codificação de uma lembrança.

    Consulte um profissional se necessário

    Seu humor tem um efeito no que você lembra ou não. Depressão, por exemplo, pode danificar sua capacidade de fixação de memórias. “Para pessoas que vão ao neurologista com problemas de memória, uma das maiores causas é a depressão.” disse Restak.

    Seu estado emocional afeta seu hipocampo, que é o centro de processamento para lembranças, porque ele está diretamente ligado à amígdala, que é a parte que processa estados emocionais.

    Então seja um mal humor passageiro ou depressão clínica, seu estado emocional não necessariamente impede a formação de lembranças, mas tende a favorecer lembranças que se alinham com o estado emocional em questão.

    Para quem está com um quadro depressivo, tratar-se, seja quimicamente ou por psicoterapia, também acaba restaurando a funcionalidade da memória.

    Determine se há causa para preocupação

    Nem todo lapso de memória é igualmente problemático. Não lembrar onde você estacionou o carro em um estacionamento lotado é inteiramente normal. Esquecer como você chegou neste estacionamento, é um sinal de que algo está errado.

    Não há fórmula para saber o que é ou não preocupante. Muitas coisas dependem do contexto: É normal esquecer o número do seu quarto de hotel, mas não é normal esquecer o endereço do seu apartamento. Se você está preocupado, o melhor é consultar um especialista médico.

    Imagem: Freepik / Foto criada por @wirestock

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