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Não pegou bem o anúncio realizado na tarde desta quarta-feira (2) pela Secretaria Municipal de Cultura de Maringá (Semuc). A pasta informou nas redes sociais que a Virada Cultural 2025, prevista para os dias 2 e 3 de agosto, será realizada no Pavilhão Azul do Parque de Exposições Francisco Feio Ribeiro, mesmo local onde foi realizada a Expoingá 2025.
O Parque de Exposições é atualmente cedido pela Prefeitura à Sociedade Rural de Maringá (SRM), com o contrato de concessão prevendo a disponibilidade gratuita do espaço ao poder público duas vezes ao ano. O anúncio, no entanto, gerou revolta nos comentários da publicação, feita no Instagram da Semuc.
Produtores culturais questionaram o fato do evento, que tradicionalmente ocorre nas ruas, ter sido levado para um espaço privado e longe do centro da cidade.

“O conceito de Virada Cultural é ser na rua, aberto e democrático. Levar para um espaço fechado é privatização da Cultura”, escreveu uma produtora Cultural nos comentários da publicação.
“Qual a lógica fazer um evento da comunidade em um espaço privado?”, indagou outro usuário.
Entre os produtores culturais que se decepcionaram com a escolha do palco da Virada Cultural está Rafael Marinho, artista, músico e professor de choro. Para ele, o evento ficou notado por ser realizado em locais abertos, marcado pela grande concentração de pessoas.
“A Virada Cultural é para ser um evento em um lugar aberto, onde as pessoas possam participar livremente durante o período todo do evento. Se você quiser assistir uma apresentação, com crianças, adultos, velhos, idosos, comerciantes, ambulantes, você poder consumir alguma coisa, isso tudo tem que ser em um lugar aberto. Então, a gente acha muito ruim já ser num lugar fechado, onde você tem uma limitação disso. E também ser num local privado, que é a Sociedade Rural, onde não é um espaço condizente a uma Virada Cultural, onde se espera uma pluralidade de atividades”, afirmou.
A situação mobilizou o posicionamento até de um ex-secretário de Cultura. Victor Simião, que comandou a pasta entre 2021 e 2024, também criticou a escolha nos comentários da publicação. “Olha, gente… Durante anos trabalhamos para deixar tudo mais acessível, aberto e democrático. Aí, agora, no Parque de Exposições? As pessoas devem ocupar as praças, os parques, as ruas. Que tristeza”, escreveu.

Procurado pela reportagem, Simião diz ter ficado preocupado com a escolha do espaço em razão da característica da Virada Cultural, que é de descentralização.
“Fico muito preocupado com essa decisão de fazer dentro do Parque de Exposições. Primeiro, o conceito da Virada Cultural é ocupar um espaço público e aberto, um espaço em que dê o maior número de pessoas. Em razão disso, quando nós tivemos na gestão, nós descentralizamos, colocamos na frente do antigo aeroporto para valorizar a história, a memória local, e por ser um espaço aberto nós queríamos um grande parque, porque as pessoas podiam vivenciar a cidade. Fizemos a Viradinha Cultural, fizemos ações com artistas locais, muito mais artistas locais do que de renome nacional, cinema a céu aberto, além de outras atividades. E parece que quando se faz uma atividade como essa, fechada, é para dificultar o acesso, reduzir o evento para que quem sabe no futuro seja cortado”, afirmou o ex-secretário.
Faltando exatamente um mês para o evento, ainda não há nenhum edital para a contratação de atrações publicado no Portal da Transparência do município, consultado pela reportagem na tarde desta quarta-feira (2).
O Maringá Post não conseguiu contato com o secretário de Cultura, Tiago Valenciano. O espaço segue aberto para manifestações. A reportagem também procurou a Sociedade Rural de Maringá (SRM) para comentarem o assunto e aguarda um retorno.
A Prefeitura de Maringá se manifestou sobre o assunto por meio de nota. Leia na íntegra:
“A Secretaria de Cultura informa que a escolha do Parque de Exposições para realização da Virada Cultura foi uma decisão técnica, com o objetivo de garantir melhor infraestrutura, segurança e acessibilidade para todos. O Pavilhão Azul é um espaço coberto, que garante proteção em caso de chuva, tem capacidade para montagem das estruturas do evento, conforto para todas as idades e acessibilidade para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida.
A escolha do local considera dados do Diagnóstico do Desenvolvimento da Cultura em Maringá, realizado em 2023 pela Secretaria de Cultura em parceria com a Universidade Estadual de Maringá (UEM). O estudo aponta que o Parque de Exposições é o local mais frequentado pela população em eventos culturais na cidade.
O município reforça que a Praça do Antigo Aeroporto, que recebeu a Virada Cultural em edições anteriores, não pode mais ser utilizada para eventos como esse, devido à proximidade com o Hospital da Criança. A legislação restringe a realização de eventos com grande volume sonoro nas imediações de unidades de saúde, a fim de preservar o bem-estar dos pacientes internados. Outros espaços públicos avaliados não comportam a estrutura prevista para a Virada Cultural deste ano, que será um grande evento e envolverá ações de diversas secretarias.
A Secretaria de Cultura firmou uma parceria com a Sociedade Rural de Maringá e por isso não haverá custos de realização da Virada Cultural no Parque de Exposições.
A Secretaria de Cultura informa que está finalizando o edital para contratação dos artistas locais que participarão da Virada Cultural 2025. A Virada seguirá sendo um evento gratuito, acessível e com atrações locais e nacionais.“
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