Maringá entrou de vez para a rota das cervejas artesanais no País principalmente a partir de 2018, quando uma lei municipal autorizou o funcionamento de fábrica-bar
Por Wilame Prado
Para os apreciadores de uma boa cerveja, existe uma Maringá antes e depois de 2018, ano em que foi instituída a Lei Complementar n. 1.121, de autoria do ex-vereador Jean Marques. Graças à legislação, autorizou-se a atividade das chamadas brewpubs na cidade, cervejarias que produzem a própria cerveja artesanal em pequena escala e que comercializam a bebida mais amada dos brasileiros em seus próprios estabelecimentos comerciais.
O autor da Lei explica que havia empecilhos na Legislação vigente à época e que dificultavam a atividade de micros e pequenos empresários locais. “Acompanho o movimento dos micro-cervejeiros de Maringá desde o início, e notei essa dificuldade na legislação municipal. Havia enquadramento sendo feito na CNAE de indústria, o que inviabilizava o empreendimento local. Bom que deu tudo certo, e hoje a gente vê o setor da cerveja artesanal bastante atuante em Maringá”, complementa Marques, que é advogado e servidor público.
Brinde com cerveja artesanal
“Um brinde às políticas públicas que ajudam os pequenos negócios e que favorecem o desenvolvimento econômico e até social da nossa cidade”, comemora Mairon Sacchi, empresário e cervejeiro que viu o seu negócio evoluir graças à possibilidade de se investir no que ele chama de fábrica-bar.
A Hórus Cervejaria fica na região central da cidade e hoje emprega mais de 30 colaboradores, envolvidos na produção, distribuição e atendimento ao público. Sacchi teve a “sacada” da fábrica-bar em Londres, quando passou uma temporada no exterior.
Depois disso, Sacchi estudou na extinta Cervejaria-Escola do Senai Vassouras (RJ) e uniu conhecimento com a paixão pela beer em seu pequeno negócio cervejeiro, em Maringá. “É muito comum vermos nos pubs diversas torneiras de cerveja disponíveis ao consumidor, com marcas da grande indústria de bebida disputando espaço com as torneiras da cerveja artesanal própria daquele estabelecimento. Torna-se um diferencial daquele pub oferecer a sua própria cerveja”, explica o empresário maringaense.
O cervejeiro diz estar satisfeito com o aumento de mais de 300% na produção nos últimos cinco anos e a expansão de produtos da casa, como o chope em lata e o e-commerce de cervejas artesanais que vende o produto “made in” Maringá para o Brasil todo.
Rota da cerveja maringaense
O presidente do Maringá e Região Convention & Visitors Bureau, Michael Tamura, concorda com Sacchi: a cerveja artesanal é chamariz para o público local e também atrai turistas. Atualmente, são 12 cervejarias em Maringá produzindo e ofertando cerveja própria, com pelo menos dez produtos do segmento ou rótulos de cerveja, com diversos estilos no universo do lúpulo e malte, podendo chegar a quase 100 opções de sabores.
Estima-se uma produção mensal de 500 mil litros de cerveja própria na cidade, conforme estimativa do Maringá e Região Convention & Visitors Bureau. Em cada estabelecimento, gera-se em média de 3 a 4 empregos diretos. Esse número mais do que dobra nas cervejarias que também contam com restaurante ou lanchonete anexo à fábrica-bar.
“Assim como no Rio Grande do Sul, que conta com suas rotas turísticas pelas vinícolas, Maringá tem fortalecido o setor turístico também com rotas cervejeiras, fazendo um tour por todas as cervejarias artesanais da cidade, degustando e fortalecendo o setor. Ações regionais como essas são ótimas para a economia e turismo, e é fato: as pessoas hoje querem consumir com qualidade e com exclusividade. A cerveja artesanal maringaense, hoje, oferece tudo isso”, diz Tamura.
As melhores cervejarias do Brasil
O maringaense efetivamente tomou gosto pela cerveja artesanal após a legislação municipal dar aquela forcinha para os brewpubs se instalarem principalmente na região central de Maringá. Prova do sucesso da cerveja artesanal na cidade é a qualidade do produto chancelada com uma quantidade extraordinária de premiações em concursos cervejeiros em todo o País.
Marcelo Baptistella é o atual presidente do Núcleo das Cervejarias de Maringá (Nucem) e sócio-proprietário da cervejaria mais premiada da cidade, a Cathedral. Os números comprovam: “Fomos campeões no Concurso Brasileiro de Cervejas de 2018 a 2021, e conquistamos a Brasil Beer Cup 2022, em Florianópolis”, comemora. Fora as cervejas medalhistas da Casa: foram 24 medalhas de ouro, 33 de prata e 23 de bronze, no pique das Olimpíadas!
Outro “maratonista” da cerveja é o Marcelo Partala, antigo cervejeiro da cidade e que mantém duas fábricas-bar em Maringá. Dos 500 litros de beer mensais no início dos trabalhos da Cervejaria Araucária e engarrafados artesanalmente, hoje ele coleciona também troféus, medalhas e satisfação por servir cerveja fresca e de qualidade para seus clientes.
A Araucária já foi premiada por cinco vezes durante o Concurso Brasileiro de Cervejas, graças aos sabores das cervejas Gralha Azul e Sete Quedas Wood Aged. Também já faturou o South Beer Cup e ficou famosa no País todo após um de seus produtos, a água lupulada H2OP, sair vencedor de um reality show na Netflix.
Já a Hórus Cervejaria, de Mairon Sacchi, foi premiada no Concurso Brasileiro de Cervejas neste ano. “Ganhamos duas medalhas de bronze e uma de prata: uma medalha de bronze foi na categoria ‘Belgian-Style Strong Blonde Ale’ na cerveja ‘Strong daniels’, outra medalha de bronze na categoria ‘Kellerbier or Zwickelbier’ na cerveja ‘Horus pilsen’, e uma medalha de prata na categoria ‘New Zealand-Style Pale Ale’ na cerveja ‘Inusitada’”, explica.
Além disso, a cervejaria detém o Selo Qualidade no Turismo do Paraná, do Sebrae/PR, e foi recentemente premiada com o “Traveller’s Choice” por estar entre os 10% dos estabelecimentos mais bem avaliados do Tripadvisor, além de estar entre os três melhores restaurantes de Maringá.
“Orgulho de já termos sido premiados por três vezes na Copa Interancional da Cerveja, na Brasil Beer Cup e em outros concursos nacionais. Mas o maior prazer da gente é ver nossos amigos e clientes, aqui em Maringá e não em Londres, apreciando cervejas de qualidade, degustando novos sabores e conhecendo de verdade esse universo cervejeiro. Isso não tem preço pra gente”, finaliza Sacchi.
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