Contratar novos profissionais e readequar o fluxo de pacientes que buscam atendimento no Hospital Universitário (HU) de Maringá. Essa é a saída anunciada na manhã desta sexta-feira (21/12) pelo reitor da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Júlio Damasceno, para resolver os problemas apontados pelo Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) no Serviço de Urgência e Emergência da unidade.
Na quinta-feira (20/12), os conselheiros do CRM apresentaram ao reitor e aos diretores do hospital o ato de indicativo de interdição ética da área de Urgência e Emergência. O Conselho constatou a falta de médicos, enfermeiros, material hospitalar, estrutura e deu prazo de 120 dias para que as irregularidades sejam resolvidas.
Se nada for feito, os médicos da unidade serão impedidos de trabalhar e quem desrespeitar a interdição pode responder a um processo ético profissional. O CRM foi informado sobre os problemas da unidade por um grupo de médicos que enviou uma carta ao órgão, em novembro de 2018. As vistorias no pronto socorro ocorreram entre 3 e 5 de dezembro.
Nesta sexta-feira (21/12), o reitor Júlio Damasceno reuniu a imprensa e apresentou relatório que aponta déficit de 139 servidores em 20 cargos do hospital que estão vagos desde 2014. De acordo com o levantamento, o que mais falta na unidade são médicos, ao todo 38, seguido pela função de técnico de enfermagem, com déficit de 33 funcionários.
Para resolver o problema de pessoal, Júlio Damasceno anunciou que pretende intensificar o diálogo com o Governo do Estado para que os 10 profissionais aprovados no concurso de 2014 sejam nomeados. A expectativa é tentar, junto com o governador eleito, Ratinho Júnior (PSD), a permissão para realizar um novo concurso.
“Nós não temos contratação para reposição de profissionais falecidos, exonerados ou aposentados e isso tem causado redução no nosso quadro de profissionais, o que causa vulnerabilidade técnica e ética. Isso induz a erros e atendimento de menor qualidade”, disse Damasceno. Segundo ele, a UEM recebe 60 pedidos de aposentadoria por mês.
Com a falta de profissionais, o hospital tem dificuldades para fechar a escala de plantão. Em novembro deste ano, o déficit de funcionários deixou a Urgência e Emergência da unidade sem cirurgião em um fim de semana. Vítimas de acidente de trânsito ficaram dentro de ambulâncias por duas horas aguardando atendimento. O superintendente do HU, que é urologista, precisou assumir o socorro.
Uma medida adotada pela UEM para suprir a demanda de pessoal é a contratação de profissionais por credenciamento. Porém, Damasceno reconhece que esse modelo de contratação não atende, totalmente, a necessidade do hospital.
Ele explicou que os credenciados trabalham em regime diferente dos outros profissionais e podem escolher, por exemplo, as horas semanais que vão prestar o serviço.
Atualmente, o HU tem 236 credenciados como médicos, fisioterapeutas, entre outros profissionais. O gasto com esse funcionários gira em torno de R$ 1 milhão e o pagamento, de acordo com o reitor, é feito com recursos da própria instituição que deveriam ser utilizados para a compra de medicamentos e manutenção de equipamentos.
Déficit de profissionais no Hospital Universitário
- Agente de Segurança – 5 profissionais
- Auxiliar Administrativo – 2 profissionais
- Auxiliar de Laboratório – 3 profissionais
- Auxiliar Operacional – 20 profissionais
- Telefonista – 1 profissional
- Cozinheiro – 3 profissionais
- Motorista – 2 profissionais
- Técnico Administrativo – 10 profissionais
- Técnico em Enfermagem – 33 profissionais
- Técnico em radiologia – 1 profissional
- Administrador – 2 profissionais
- Assistente social – 1 profissional
- Bibliotecário – 1 profissional
- Bioquímico – 2 profissionais
- Enfermeiro – 9 profissionais
- Farmacêutico – 1 profissional
- Médico – 38 profissionais
- Nutricionista – 1 profissional
- Pedagogo – 1 profissional
- Psicólogo – 3 profissionais
Total: 139 profissionais
Serviço de UBS e UPA no Hospital Universitário
Outra medida anunciada pelo reitor é intensificar as reuniões de um grupo de trabalho, que envolve a diretoria do Hospital Universitário, a 15ª Regional de Saúde e a Secretaria Municipal de Saúde. O objetivo é realocar o fluxo de pacientes para outras unidades e manter no HU apenas casos de média e alta complexidade.
Segundo o superintendente do HU, Vicente Massaji Kira, o pronto socorro realiza cerca de 5 mil atendimentos por mês. Desse total, segundo ele, 70% são casos que poderiam ser atendidos em outras unidades de saúde do município.
“O Conselho Regional de Medicina identificou que nós estamos desempenhando três papéis, de UBS, UPA e de Pronto Socorro, mas nossa vocação é pronto socorro, para casos mais complexos”, ressaltou.
O reitor da UEM, Júlio Damasceno, disse que o grupo “ainda não tem a fórmula” de como esse redirecionamento de pacientes poderia ocorrer na prática. Para isso, será necessário fazer um mapeamento de toda a rede de saúde do município. Mas ele frisou que “em momento algum o hospital vai deixar de prestar o serviço”.
Apesar das medidas anunciadas, o hospital precisa correr contra o tempo para conseguir resolver todos os problemas apontados pelo CRM. De um lado, o reitor da UEM disse acreditar que a interdição não irá ocorrer. “Vamos trabalhar para que a gente garanta condições de trabalho dignas a esses profissionais”.
Para o superintendente do HU, Vicente Kira, “é quase impossível” resolver os problemas apontados pelo Conselho dentro do prazo. “120 dias não vão resolver, mas podemos dar andamento ao nosso trabalho”. Porém, o superintendente alerta que se o Governo não tomar nenhuma providência, a interdição pode ocorrer.
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