O futuro híbrido da vida cotidiana

  • Você lembra? Até pouco tempo, trabalhar de casa era algo raro, reservado a profissionais de televendas, escritores antissociais ou pós parturientes. A ideia de não ir para o escritório soava mal, como uma desculpa para trabalhar menos, ou sem supervisão.

    Em menos de dois anos, tudo mudou. Trabalhar em home office passou a ser mais que uma opção, tornou-se uma necessidade. E mesmo quando a vida aparenta voltar ao normal, não parece que todos vão voltar para a firma. O trabalho híbrido chegou – e não deve ir embora tão cedo.

    A mudança de hábito foi forçada, mas, até por isso, todos tiveram que aprender e se adaptar rapidamente. As empresas compreenderam que um empregado, mesmo estando em casa, ainda podia manter sua produtividade – e até aumentá-la. E os empregados, depois de alguma tribulação, viram seu tempo render mais, podendo ao mesmo tempo ficar mais próximo da família.

    Houve percalços, é verdade. Conexões de internet tiveram que ser ampliadas; novos programas tiveram que ser instalados; espaços domésticos tiveram que ser reorganizados. Mas, arranjos feitos, descobriu-se que é sim possível trabalhar de casa – e bem.

    Delivery de diversão

    O fato é que estar presente deixou de ser algo indispensável. E não apenas no trabalho. O entretenimento já vinha migrando para o formado híbrido há algum tempo. Desde que surgiram os streamings e o cassino ao vivo, o divertimento dispensou o deslocamento.

    Os streamings não só permitiram assistir grandes sucessos do cinema em casa, mas também abriram uma janela para uma nova modalidade, as séries. As plataformas logo viram o poder do ‘efeito novela’ em criar uma audiência fiel, e investiram no desenvolvimento de seus próprios conteúdos. Sucessos com Stranger Things, La Casa de Papel, Breaking Bad e The Boys são exemplos de como há uma enorme audiência sentada em sofás.

    Já os cassinos online franquearam acesso a uma das mais divertidas e emocionantes atividades do mundo sem a necessidade de tirar o passaporte da gaveta. E eles possuem uma característica que os difere completamente de um simples videogame – o cassino ao vivo. Nessa modalidade, os jogadores interagem com crupiês e apresentadores reais, fazendo com que cada nova rodada seja única, e muito mais humana.

    Inúmeros usuários preferem esse modelo por sentirem que os traz para dentro da ação de forma mais efetiva e emocionante. Ou seja, é possível ter acolhimento e empatia, mesmo através do wi-fi – ou de um cabo. E os cassinos online ao vivo também permitem interações entre usuários, especialmente em jogos multiplayers como o poker. Sentir que está disputando com outro ser humano faz toda a diferença – afinal, humanos são deliciosamente imprevisíveis. No final, o cassino ao vivo torna-se um híbrido de presença remota e interação em tempo real, algo que muitos consideram o melhor dos dois mundos.

    E se com o lazer a mudança foi radical, por que não seria com as atividades profissionais?

    O novo normal

    Hoje, os especialistas não debatem se haverá trabalho híbrido, mas sim o quanto do trabalho será desta forma. Algumas funções dispensam a presença do trabalhador, mas outras necessitam dela, ou são mais bem realizadas com o funcionário presente. Também há uma preocupação com a sinergia entre os diversos colaboradores de uma empresa. Na modalidade remota, o contato pessoal fica naturalmente prejudicado, e em algumas áreas essa relação fria é um veneno lento para a produtividade. Áreas como comunicação, marketing e moda sofrem muito com o distanciamento.

    Algumas empresas procuram combater esse efeito nocivo escalonado os dias de trabalho presencial de uma forma que a equipe esteja junta no mesmo dia. Não é uma fórmula 100% segura – há faltas, equipes muito grandes, problemas de agenda – mas é um caminho possível. Outras investem em espaços pensados para o trabalho híbrido, o que também parece promissor.

    O dilema do retorno

    Por outro lado, os funcionários também podem ter desenvolvido uma rotina no trabalho desde casa, e resistam a retornar ao velho modelo. Quem quer pegar trânsito de manhã e de tarde, para ir a um lugar fazer algo que poderia fazer (e fazia) da sua sala de jantar? Ou, no reverso da moeda, há os que anseiem em voltar ao escritório, como uma forma de ressocializar e expandir horizontes que, para quem levou as restrições a sério, ficaram bastante estreitos.

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    Certamente haverá limites para a aceitação do trabalho remoto, ou do retorno ao presencial. E eles podem variar muito de pessoa para pessoa. Recentemente, um italiano de 82 anos foi removido da ilha em que viveu isolado por 33 anos. Era de se esperar que esse senhor tivesse dificuldade em se adaptar à ‘volta ao trabalho presencial’, mas surpreendentemente ele está indo muito bem, e apreciando a nova vida. O ser humano tem um extraordinário poder de adaptação.

    Os próximos meses – talvez anos – definirão o quanto de híbrido os trabalhos terão. É provável que esse tema entre até mesmo nas entrevistas de emprego, e uma boa oferta de trabalho inclua uma fórmula atrativa, com uma mistura balanceada dos ingredientes presencial e remoto.

    Seja qual for a receita, o trabalho híbrido trouxe, ainda que de forma inesperada, novas possibilidades para empregadores e empregados. Cabe a ambos aproveitar a oportunidade e estabelecer novos paradigmas trabalhistas, para o bem de todos, e, desta forma, comprovar que mesmo em meio a grandes crises, é possível surgir algo novo, útil e bom.

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