Uso da creatina: da academia ao cérebro

Descobertas recentes na neurociência vêm revelando uma nova perspectiva: o potencial da creatina como aliada da saúde cerebral.

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    Por Paloma Herginzer

    Durante muito tempo, a creatina foi vista quase exclusivamente como um suplemento voltado ao universo das academias, associada principalmente ao ganho de massa muscular e ao desempenho físico. Popular entre praticantes de musculação, sua reputação permaneceu restrita ao fortalecimento corporal.

    No entanto, descobertas recentes na neurociência vêm revelando uma nova e promissora perspectiva: o potencial da creatina como aliada da saúde cerebral, especialmente da memória. 

    A creatina é uma substância naturalmente produzida pelo corpo a partir de aminoácidos obtidos por meio da alimentação, sendo encontrada principalmente em carnes e peixes. Sua função mais conhecida é auxiliar na produção de energia celular, especialmente nos músculos esqueléticos. No entanto, o cérebro também utiliza creatina — ainda que em menores concentrações — para manter suas funções energéticas básicas. Isso sugere que a suplementação pode impactar positivamente processos cognitivos como memória, atenção e raciocínio lógico. 

    A revista Gerontologia Experimental analisou diversos estudos sobre os efeitos cognitivos da creatina e reforçou seu potencial para além do desempenho físico. Os resultados indicaram que a administração oral do suplemento pode melhorar significativamente a memória de curto prazo e o raciocínio em indivíduos saudáveis. A revisão destacou que vegetarianos tendem a responder melhor que carnívoros em tarefas relacionadas à memória, embora essa diferença não se estenda a outras funções cognitivas. 

    No entanto, os efeitos em outros domínios cognitivos — como memória de longo prazo, atenção, função executiva, fluência verbal e tempo de reação — ainda são incertos ou conflitantes. O desempenho cognitivo em jovens adultos permaneceu inalterado na maioria das tarefas, enquanto idosos e pessoas sob estresse apresentaram respostas mais promissoras.  

    Além de seu potencial para pessoas saudáveis, estudos experimentais investigam o uso da creatina como coadjuvante no tratamento de doenças neurológicas, como Alzheimer e Parkinson. Em modelos laboratoriais, observou-se efeito neuroprotetor da substância, com a preservação de neurônios e possível desaceleração dos sintomas. Ainda que essas evidências estejam em estágio inicial, elas reforçam a relevância da creatina para além do contexto esportivo. 

    Importante ressaltar que a creatina é considerada segura quando utilizada corretamente. As doses mais comuns variam entre 3 e 5 gramas por dia e, na maioria dos casos, não estão associadas a efeitos colaterais significativos. Ainda assim, recomenda-se a orientação de um profissional de saúde, sobretudo em casos de condições médicas preexistentes ou uso prolongado. 

    Diante de todas essas evidências, é evidente que a creatina não deve mais ser encarada apenas como um recurso para quem busca hipertrofia muscular. Seus benefícios cognitivos, especialmente em populações como idosos, vegetarianos e pessoas sob alta carga mental, tornam o suplemento uma ferramenta promissora para promover o bem-estar mental, o desempenho intelectual e o envelhecimento saudável. A ciência continua avançando, e a creatina — segura, acessível e amplamente estudada — desponta como uma forte aliada não apenas dos músculos, mas também da mente. 

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