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Imagine viver com dor abdominal constante, diarreia que persiste por semanas e sangramentos que assustam — tudo isso em silêncio. Esse é o cotidiano invisível de milhares de brasileiros com doenças inflamatórias intestinais (DIIs), um grupo de condições crônicas e debilitantes que vêm ganhando, finalmente, a visibilidade que merecem.
É nesse contexto que surge o Maio Roxo, campanha internacional que ilumina os desafios de pacientes com doença de Crohn e retocolite ulcerativa, promovendo conscientização, diagnóstico precoce e tratamento adequado.
Alguns fatores como estresse, tabagismo, alimentação industrializada, uso indiscriminado de antibióticos e até o excesso de higiene na infância estão associados à alta de casos nos últimos anos. “Essas doenças são inflamatórias, autoimunes, e vêm se tornando mais comuns à medida que o estilo de vida moderno avança. O diagnóstico precoce é fundamental para evitar complicações graves, como cirurgias de urgência e até colostomias permanentes”, alerta a gastroenterologista e endoscopista Dra. Grazieli Lopes Matta e Vendrame.
As duas formas mais comuns das DIIs são:
- Doença de Crohn: pode afetar qualquer parte do trato digestivo — da boca ao ânus — e compromete todas as camadas da parede intestinal. Costuma evoluir com fístulas, estenoses e abscessos.
- Retocolite ulcerativa: atinge exclusivamente o cólon e o reto, provocando inflamação da mucosa, muitas vezes com formação de úlceras.
Apesar das diferenças anatômicas, os sintomas são semelhantes: diarreia prolongada (mais de seis semanas), sangramento retal, dor abdominal, perda de peso e, em alguns casos, febre. Com o tempo, essas doenças crônicas aumentam significativamente o risco de câncer colorretal.
Diagnóstico – A chave para conter a progressão das DIIs está no diagnóstico precoce — e esse é um dos maiores gargalos do sistema de saúde brasileiro. Dados não oficiais indicam que o tempo entre os primeiros sintomas e a confirmação do diagnóstico pode variar de 1 a 5 anos, dependendo da região e do acesso aos exames.
“Há uma janela de oportunidade de até dois anos para iniciar o tratamento ideal e evitar complicações. Quando o diagnóstico atrasa, aumentam as chances de internações, cirurgias mutiladoras e até mortalidade”, explica a Dra. Grazieli.
O principal exame é a colonoscopia, que permite avaliar visualmente a mucosa intestinal e coletar biópsias para análise histopatológica. Exames laboratoriais como hemograma, proteína C reativa (PCR), calprotectina fecal e sorologias também são aliados importantes.
Autoimunidade
As DIIs são consideradas doenças autoimunes, ou seja, o próprio sistema imunológico ataca o organismo. Estima-se que cerca de 1% da população mundial conviva com esse tipo de distúrbio. No Brasil, essa prevalência também tem se confirmado, refletindo os impactos da urbanização acelerada e da ocidentalização da dieta.
Apesar de não terem cura, as DIIs podem ser controladas com tratamento adequado, que inclui medicamentos imunossupressores, biológicos, ajustes alimentares e, em casos específicos, intervenção cirúrgica.
Uma das maiores barreiras para o diagnóstico precoce é o tabu que cerca os sintomas intestinais. Vergonha, desinformação e banalização dos sinais fazem muitos pacientes demorarem a procurar ajuda. É aí que o Maio Roxo se torna fundamental: ao estimular o debate e educar a sociedade, a campanha ajuda a romper o silêncio e acelerar a busca por cuidados médicos.
Maio Roxo
O roxo simboliza luta, conscientização e solidariedade. Em tempos de redes sociais e informações em tempo real, campanhas como o Maio Roxo são oportunidades valiosas para transformar vidas — e salvar intestinos. Para os profissionais de saúde, é um chamado à escuta atenta, ao olhar investigativo e à ação ágil.
Porque, no final das contas, saúde intestinal é saúde integral. E todo grito por cuidado começa com quem decide ouvir.
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